TECNOLOGIA
E ENSINO DE HISTÓRIA: PROPOSTA DE USO DO GOOGLE STREET VIEW COMO FORMA DE CONHECER O CENTRO HISTÓRICO DE MACAPÁ
Introdução
Nos últimos anos mudanças possibilitaram incluir a
tecnologia no Ensino de História. Nas instituições escolares, como forma de
acompanhar as novas exigências, novos parâmetros e conceitos de
ensino-aprendizagem buscam na tecnologia um modo de diversificar a educação
(Oliveira, 2013, p. 11). No entanto, leva-se em conta que o estudo da tecnologia
“por si só não aumenta o desempenho
dos alunos, mas o estudo visa também alertar a capacidade do professor em despertar e manter a atenção dos seus educandos (Oliveira,
2013, p. 11)”. É preciso avaliar de forma prática como a inserção da tecnologia
pode de fato contribuir no ensino de história no processo de novas
aprendizagens históricas.
No que se refere a tecnologia, esta pode ser muito
diversificada. Como exemplo dessa relação entre tecnologia e ensino de
História, professores e alunos de qualquer parte do mundo a partir de cliques
passaram a fazer passeios virtuais em museus como o Louvre na França. E se a
partir de um clique algo semelhante pudesse ser feito de qualquer parte do
Estado do Amapá? É importante destacar que
ao investigar processos que envolvem tecnologia e ensino de História,
procuramos saber: qual é a possibilidade de aplicar esta proposta para o ensino
de História na sala de aula em Macapá? Quais seriam as reações dos professores
e alunos sobre a presente proposta?
Nesse sentido, como objetivo geral procuramos
analisar como a tecnologia pode ser uma ferramenta que pode ajudar a conhecer
melhor o Centro Histórico de Macapá e como este conteúdo poderia ser aplicado
no ensino de História na sala de aula. Como objetivo geral o projeto
propõe analisar o uso da tecnologia Google Street como recurso didático a ser
utilizado no Ensino de História. Para efetuar o
presente projeto, objetivos específicos devem ser traçados, tais como: fazer levantamentos sobre as informações dos
aspectos históricos do Centro de Macapá; mapear o
patrimônio cultural do Centro Histórico de Macapá; fazer relações entre a expansão atual
da cidade de Macapá e o patrimônio cultural; gerar
informações que visassem “alimentar” a ferramenta Google Street View; testar a aplicabilidade da ferramenta Google Street View após a “alimentação” das informações históricas e finalmente
fazer um balanço sobre a aplicabilidade da ferramenta Google Street View na sala de aula
e no Ensino de História.
A presente pesquisa tem como tema o uso da
tecnologia como recurso a ser utilizado no ensino de História. Como a pesquisa ainda está na fase inicial, procuramos apresentar
neste texto a mesma como uma proposta.
A cidade como objeto de estudo
O Estado do Amapá e sua capital Macapá,
situa-se no lado esquerdo do rio Amazonas na região norte do Brasil (figura
01).
Figura 01: Localização da
cidade de Macapá. Mapa elaborado por Gambim Júnior, 2018.
A cidade de Macapá e a parte central da
capital apresentam certas especificidades que
contribuíram para a escolha desta como objeto desta proposta inicial de
pesquisa. Nela temos a presença dos primeiros europeus que se estabeleceram na
região, por volta do século XVIII. Hoje a maior parte dessas histórias
encontram-se abaixo do asfalto ou foram destruídas ao contrário das construções
monumentais como a Fortaleza de São José de Macapá que continuam erguidas
(figura 02). Outras construções de médio porte como a antiga Igreja São José e
a Intendência de Macapá precisam de constantes ações de preservação. Como se
pode observar, o Centro de Macapá possui um rico patrimônio cultural.
Figura 02: Imagem antiga (à
esquerda) e recente (à direita) da Fortaleza de São José de Macapá.
Boa parte do desenho urbano
da cidade de Macapá se projetou a partir do centro onde encontramos moradias e
estabelecimentos comerciais de diferentes formas.
Com o desenvolvimento urbano do centro
de Macapá, locais como a Fortaleza de São José de Macapá, a Igreja de São José
e a antiga Intendência de Macapá, que fazem parte do “quebra-cabeça” do início
do processo da colonização, correm o risco de ficar invisibilizados, devido as
constantes intervenções construtivas. Outro
problema, por exemplo, é o tráfego de carros vem abalando a estrutura da antiga
Igreja São José.
Em relação ao patrimônio cultural da
cidade, eventos como o Café com patrimônio no IPHAN/AP, ocorrido em Outubro de
2017, expressaram discussões e sugestões como exemplo, a Carta Arqueológica na
região Metropolitana de Macapá e Santana AP (Gambim Júnior, Lima, Gazel &
Silva, 2018) que visa preservar os bens da cidade, que devido à expansão urbana
encontram-se ameaçados. Sem ações de preservação,
as pessoas que transitam na área urbana, como o centro, podem ficar
impossibilitados de reconhecer a história e memória coletiva nos marcos
culturais dessa cidade.
Em várias cidades contemporâneas, temos
o que podemos chamar de uma verdadeira cidade oculta, onde “[t]odos os dias,
sem que ninguém perceba arqueólogos escavam camadas da História de São Paulo.
Eles podem encontrar peças de uso doméstico de décadas atrás. Ou revelar
segredos de um imperador”. (Fonte: National Geographic, 2014).
O parágrafo acima se refere a um trecho
da National Geographic que demonstra os estudos que dão importância para a
história da cidade de São Paulo e que podem revelar diferentes e pequenas
história que revelam universos domésticos ou mesmo aspectos da vida da família
imperial.
Desta forma, uma abordagem teórica que
está diretamente relacionada com o estudo das cidades é o que têm-se chamado de
arqueologia urbana, definida por Staski (1982 como “o estudo das relações entre
cultura material, comportamento humano e cognição em um ambiente urbano”. Um
dos principais objetivos deste tipo de pesquisa visa “aprofundar as reflexões e
os conhecimentos históricos sobre esses microcosmos (definição do dicionário
Merriam Webster de microcosmos: um pequeno mundo) em que muitas das sociedades do passado
escolheram viver” (Kern, 2017, p. 15-16).
A partir desta perspectiva é necessário
entender o processo histórico e as mudanças ocorridas no Centro Histórico de
Macapá. Ao levar em conta questões das
causas do desenvolvimento e mudanças ocorridas, emerge o que Fernand Braudel
(1965) chamou de História de longa duração. Da mesma forma, Kern (2017, p. 16)
relaciona o processo histórico e de urbanidade com a história de longa duração
diretamente com a história do povoamento das primeiras cidades no Brasil.
Conforme Madeira (2008) a urbanidade é
crescente no mundo todo e sua consequência é a perda dos dados arqueológicos,
fontes essências para recuperar as memorias de uma cidade e de sua identidade. A Arqueologia praticada no meio urbano, como
indicam Tocchetto e Thiesen (2007) trazem à tona “questões relacionadas ao potencial
arqueológico, os riscos de
destruição, instrumentos de preservação,
o que e onde pesquisar, relação
com a cidade e sociedade, entre outras”,
e para isso, nenhum local deve ser pensado de forma isolada.
Ao trazer a presente proposta
esperamos incentivar meios diferentes de aprendizagem em História que ajudem a
dinamizar e incluir novas formas de conhecimento no contexto escolar ao
valorizar a história local. Mas afinal, como a cidade e a
Arqueologia podem contribuir com o ensino de História?
A proposta
Esta proposta de
pesquisa será feita em dois momentos. No primeiro serão feitos levantamentos de
fontes sobre o início da formação histórica da área central de Macapá. Outros
documentos como relatórios de pesquisa arqueológica devem ser baixados a partir
de buscas no Sistema eletrônico de informações do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN).
Para dar corpo a
pesquisa, são utilizadas arquivos municipais, antigos planos urbanos de época e
fotografias antigas. Todas as informações vindas do levantamento históricos deverão
ser adequadas para uma linguagem mais acessível no intuito de serem utilizadas
no ensino de História na sala de aula. No segundo momento as informações vindas
do levantamento histórico serão a base de alimentação da ferramenta
tecnológica.
A ferramenta tecnológica escolhida para receber
as informações históricas é o Google
Street View. Sobre o usos da tecnologia no Ensino
de História, Oliveira (2011, p. 12) destaca que em uma “nova
perspectiva de compreensão entre pessoas e tecnologia é visível perceber que
essas novas formas de sociabilidade no ciberespaço, são geradores e
determinantes para a formação da identidade”.
O
Google Street View é um
recurso do Google Maps e do Google Earth que disponibiliza vistas panorâmicas de 360° na
horizontal e 290° na vertical e permite que os usuários (utilizadores) vejam
partes de algumas regiões do mundo ao nível do chão/solo. Quando foi lançado,
em 25 de maio de 2007, apenas cinco cidades americanas haviam sido incluídas.
Desde então já se expandiu para países além dos Estados
Unidos como a Austrália, Japão, Brasil,
etc.
Em
2011, equipes do Google estiveram na
Amazônia brasileira no intuito de registrar a biodiversidade local. Trechos do
Rio Negro e comunidades próximas, no estado do Amazonas, foram fotografadas
para o serviço Street View. No
entanto, como as características da região amazônica são peculiares o Google Street View teve
que se adaptar. As imagens do Rio Negro foram capturadas por barcos com
câmeras, e em terra triciclos acoplados com câmeras (em vez do carro que
normalmente faz as fotografias nas cidades, mas que não poderia circular pela
floresta) de modo a mapear as comunidades da região, adaptando a ferramenta
tecnológica à realidade amazônica.
No âmbito cultural, o Google
Street View tem sido aplicado em Museus no exterior com o intuito de
socializar e oportunizar que pessoas sem recursos disponíveis e professores
possam fazer “tour” virtuais e
conhecer instituições. No ensino na sala de aula, a proposta de uso do Google Street View se dará como uma
“viagem virtual”, na qual por meio desta ferramenta, os alunos poderão conhecer
e aprender sobre a história local, sem sair da sala de aula.
Através do uso destas tecnologias
aplicadas ao ensino, o professor, junto aos seus alunos, poderá “valorizar
pequenos lugares, pequenos pontos do monumento” (Santos, 2015). Desse modo,
procura-se abranger o conteúdo de História em suas novas formas de abordagem,
que facilitam o processo de ensino e aprendizagem, ou seja, esse processo deve
estar incluso na construção de um aluno reflexivo e não mecânico, e de práticas
planejadas e discutidas antes de serem aplicadas.
Referências:
Paulo de Mendonça Mafra é discente de História da Universidade
Federal do Amapá-UNIFAP e de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Ensino
Superior do Amapá-CEAP.
Jelly Juliane Souza de Lima é graduada
em Licenciatura em História e Mestra em Arqueologia. Atualmente está vinculada
ao Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas do Amapá-CEPAP da Universidade
Federal do Amapá-UNIFAP.
Os autores deste texto agradecem
ao professor Dr. Adalberto Junior Ferreira Paz da Universidade Federal do
Amapá-UNIFAP pela oportunidade de produzir na disciplina
estágio supervisionado III a presente proposta.
BRAUDEL, F. História e Ciências Sociais: a longa
duração. Revista de História,
v. 30, n. 62, p. 261-294, 1965.
KERN, A. Uma problemática da Arqueologia e da História: a
cidade e seus territórios. Cadernos
de História, v. 18, n. 28, p. 15-27, 2017.
GAMBIM
JÚNIOR, A; LIMA, J; GAZEL, L & SILVA, M. Projeto de Elaboração da Carta
Arqueológica na região Metropolitana de Macapá e Santana AP. 2018.
MADEIRA, S. P. F. O Museum of London e a arqueologia urbana: um exemplo de gestão
arqueológica do espaço urbano e sua possível aplicação ao território português.
Dissertação de Mestrado, 2011.
OLIVEIRA, T. S. O uso das novas tecnologias no ensino de
história: o blog como ferramenta educativa no ensino médio. Universidade
Estadual da Paraíba, 2013.
SANTOS, T. Proposta de utilização do Google Street View na
Disciplina de história no Ensino médio. In: Seminário de
Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Araranguá, 2015.
STASKI,
E. Advances in Urban Archaeology, In. Michael B. Schiffer
(ed.), Advances in
Archaeological Method and Theory, vol. 5, New York: Academic Press, pp
97-149, 1982.
TOCCHETTO, F & THIESEN, B. A memória fora de nós: a preservação do
patrimônio arqueológico em áreas urbanas. Revista
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, v. 33, p. 175-199, 2007.
Gostei bastante da ideia. Como professora de história do ensino básico também estou à procura de inovar. Quando penso nas tecnologias, me vêm à cabeça logo as dificuldades materiais. Entretanto, acredito que com criatividade e pensamento positivo, podemos ultrapassar essa barreira.
ResponderExcluirCompreendi que a pesquisa de vocês ainda está mesmo num ponto bem inicial. Gostaria de saber que procedimentos metodológicos estão pensando em aplicar para testar a ideia do Google Street View no estudo da cidade na prática.
Muito obrigada,
Cícera Tamara Graciano Leal da Silva Fernandes
Oi Tamara, tudo bem?
ExcluirTodo professor gosta de inovar, no entanto a realidade do ensino e das escolas brasileiras deixa a desejar. Quando o Paulo falou desta proposta de pesquisa achei muito interessante. Conforme mencionados no texto os maiores usuários da ferramenta google street view são os museus.Como Macapá é ainda uma cidade que está nesse processo de crescimento e expansão urbana, o google street view registrou informações da cidade. A ideia inicial é fazer um levantamento das informações históricas da cidade e criar um banco de dados que alimentará a ferramenta. Com a base alimentada com as informações históricas, a ideia é ir para a sala de aula e junto com os alunos fazer um tour pela cidade. Com o crescimento urbana e as modificações da cidade, muitas pessoas não conhecem direito essa parte da história, ou ainda, não existe uma correlação entre a cidade e a memória. É como se o lugar fosse somente o centro!
Se a proposta de alimentação do google não der certo, outras possibilidades similares de aplicação podem ser feitas.
Espero ter respondido sua pergunta.
Att,
Jelly Juliane Souza de Lima
Que interessante! Eu fiquei curiosa, pois também trabalho tema do crescimento urbano e, justamente, minha dissertação de mestrado tem a ver com isso. Como posso entrar em contato para trocarmos maiores informações? Fiquei inspirada a tentar algo parecido aqui na minha cidade. Não sabia que era possível alimentar o Google Streret View com essas informações.
ExcluirParabéns. Gostei mesmo da ideia!!!
Cicera Tamara Graciano Leal da Silva Fernandes
Olá
ResponderExcluirTexto interessante. Também sou utilizo essa ferramenta como parte de minhas aulas. Publiquei alguns anos atrás um artigo na Revista do Lhiste da UFRGS onde há também uma proposta para uso (http://seer.ufrgs.br/index.php/revistadolhiste/article/view/48317). No caso de vocês, o que eu achei ainda mais interessante foi o foco na história local. Se desejarem continuar nessa área, do uso de tecnologias e Ensino de História, um autor que recomendo, que trabalha com as relações entre conhecimento histórico e museus ou patrimônios virtualizados é o Prof. Eucídio Arruda, da UFMG.Os artigos dele são essenciais como referencias para o trato com essas novas dinamicas do ensino.
At.te
Esdras Carlos de Lima Oliveira
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirBoa tarde, grato pelas palavras de apoio e as referências.
ExcluirCordialmente,
Paulo de Mendonça Mafra
Oi Alex, tudo bem?
ExcluirObrigada pela indicação do texto, vamos ler com carinho. Esperamos ano que vem, neste mesmo evento publicar os resultados da pesquisa.
Att,
Jelly Juliane Souza de Lima.