Paulo de Mendonça Mafra e Jelly Juliane Souza de Lima


TECNOLOGIA E ENSINO DE HISTÓRIA: PROPOSTA DE USO DO GOOGLE STREET VIEW COMO FORMA DE CONHECER O CENTRO HISTÓRICO DE MACAPÁ


Introdução
Nos últimos anos mudanças possibilitaram incluir a tecnologia no Ensino de História. Nas instituições escolares, como forma de acompanhar as novas exigências, novos parâmetros e conceitos de ensino-aprendizagem buscam na tecnologia um modo de diversificar a educação (Oliveira, 2013, p. 11). No entanto, leva-se em conta que o estudo da tecnologia “por si só não aumenta o desempenho dos alunos, mas o estudo visa também alertar a capacidade do professor em despertar e manter a atenção dos seus educandos (Oliveira, 2013, p. 11)”. É preciso avaliar de forma prática como a inserção da tecnologia pode de fato contribuir no ensino de história no processo de novas aprendizagens históricas.

No que se refere a tecnologia, esta pode ser muito diversificada. Como exemplo dessa relação entre tecnologia e ensino de História, professores e alunos de qualquer parte do mundo a partir de cliques passaram a fazer passeios virtuais em museus como o Louvre na França. E se a partir de um clique algo semelhante pudesse ser feito de qualquer parte do Estado do Amapá? É importante destacar que ao investigar processos que envolvem tecnologia e ensino de História, procuramos saber: qual é a possibilidade de aplicar esta proposta para o ensino de História na sala de aula em Macapá? Quais seriam as reações dos professores e alunos sobre a presente proposta?

Nesse sentido, como objetivo geral procuramos analisar como a tecnologia pode ser uma ferramenta que pode ajudar a conhecer melhor o Centro Histórico de Macapá e como este conteúdo poderia ser aplicado no ensino de História na sala de aula. Como objetivo geral o projeto propõe analisar o uso da tecnologia Google Street como recurso didático a ser utilizado no Ensino de História. Para efetuar o presente projeto, objetivos específicos devem ser traçados, tais como: fazer levantamentos sobre as informações dos aspectos históricos do Centro de Macapá; mapear o patrimônio cultural do Centro Histórico de Macapá; fazer relações entre a expansão atual da cidade de Macapá e o patrimônio cultural; gerar informações que visassem “alimentar” a ferramenta Google Street View; testar a aplicabilidade da ferramenta Google Street View após a “alimentação” das informações históricas e finalmente fazer um balanço sobre a aplicabilidade da ferramenta Google Street View na sala de aula e no Ensino de História.    
A presente pesquisa tem como tema o uso da tecnologia como recurso a ser utilizado no ensino de História. Como a pesquisa ainda está na fase inicial, procuramos apresentar neste texto a mesma como uma proposta.

A cidade como objeto de estudo
O Estado do Amapá e sua capital Macapá, situa-se no lado esquerdo do rio Amazonas na região norte do Brasil (figura 01).


Figura 01: Localização da cidade de Macapá. Mapa elaborado por Gambim Júnior, 2018.

A cidade de Macapá e a parte central da capital apresentam certas especificidades que contribuíram para a escolha desta como objeto desta proposta inicial de pesquisa. Nela temos a presença dos primeiros europeus que se estabeleceram na região, por volta do século XVIII. Hoje a maior parte dessas histórias encontram-se abaixo do asfalto ou foram destruídas ao contrário das construções monumentais como a Fortaleza de São José de Macapá que continuam erguidas (figura 02). Outras construções de médio porte como a antiga Igreja São José e a Intendência de Macapá precisam de constantes ações de preservação. Como se pode observar, o Centro de Macapá possui um rico patrimônio cultural.

Figura 02: Imagem antiga (à esquerda) e recente (à direita) da Fortaleza de São José de Macapá.

Boa parte do desenho urbano da cidade de Macapá se projetou a partir do centro onde encontramos moradias e estabelecimentos comerciais de diferentes formas.

Com o desenvolvimento urbano do centro de Macapá, locais como a Fortaleza de São José de Macapá, a Igreja de São José e a antiga Intendência de Macapá, que fazem parte do “quebra-cabeça” do início do processo da colonização, correm o risco de ficar invisibilizados, devido as constantes intervenções construtivas. Outro problema, por exemplo, é o tráfego de carros vem abalando a estrutura da antiga Igreja São José.

Em relação ao patrimônio cultural da cidade, eventos como o Café com patrimônio no IPHAN/AP, ocorrido em Outubro de 2017, expressaram discussões e sugestões como exemplo, a Carta Arqueológica na região Metropolitana de Macapá e Santana AP (Gambim Júnior, Lima, Gazel & Silva, 2018) que visa preservar os bens da cidade, que devido à expansão urbana encontram-se ameaçados. Sem ações de preservação, as pessoas que transitam na área urbana, como o centro, podem ficar impossibilitados de reconhecer a história e memória coletiva nos marcos culturais dessa cidade.

Em várias cidades contemporâneas, temos o que podemos chamar de uma verdadeira cidade oculta, onde “[t]odos os dias, sem que ninguém perceba arqueólogos escavam camadas da História de São Paulo. Eles podem encontrar peças de uso doméstico de décadas atrás. Ou revelar segredos de um imperador”. (Fonte: National Geographic, 2014).  

O parágrafo acima se refere a um trecho da National Geographic que demonstra os estudos que dão importância para a história da cidade de São Paulo e que podem revelar diferentes e pequenas história que revelam universos domésticos ou mesmo aspectos da vida da família imperial.

Desta forma, uma abordagem teórica que está diretamente relacionada com o estudo das cidades é o que têm-se chamado de arqueologia urbana, definida por Staski (1982 como “o estudo das relações entre cultura material, comportamento humano e cognição em um ambiente urbano”. Um dos principais objetivos deste tipo de pesquisa visa “aprofundar as reflexões e os conhecimentos históricos sobre esses microcosmos (definição do dicionário Merriam Webster de microcosmos: um pequeno mundo) em que muitas das sociedades do passado escolheram viver” (Kern, 2017, p. 15-16).  

A partir desta perspectiva é necessário entender o processo histórico e as mudanças ocorridas no Centro Histórico de Macapá.  Ao levar em conta questões das causas do desenvolvimento e mudanças ocorridas, emerge o que Fernand Braudel (1965) chamou de História de longa duração. Da mesma forma, Kern (2017, p. 16) relaciona o processo histórico e de urbanidade com a história de longa duração diretamente com a história do povoamento das primeiras cidades no Brasil.

Conforme Madeira (2008) a urbanidade é crescente no mundo todo e sua consequência é a perda dos dados arqueológicos, fontes essências para recuperar as memorias de uma cidade e de sua identidade.  A Arqueologia praticada no meio urbano, como indicam Tocchetto e Thiesen (2007) trazem à tona “questões relacionadas ao potencial arqueológico, os riscos de destruição, instrumentos de preservação, o que e onde pesquisar, relação com a cidade e sociedade, entre outras”, e para isso, nenhum local deve ser pensado de forma isolada.

Ao trazer a presente proposta esperamos incentivar meios diferentes de aprendizagem em História que ajudem a dinamizar e incluir novas formas de conhecimento no contexto escolar ao valorizar a história local. Mas afinal, como a cidade e a Arqueologia podem contribuir com o ensino de História?

A proposta
Esta proposta de pesquisa será feita em dois momentos. No primeiro serão feitos levantamentos de fontes sobre o início da formação histórica da área central de Macapá. Outros documentos como relatórios de pesquisa arqueológica devem ser baixados a partir de buscas no Sistema eletrônico de informações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Para dar corpo a pesquisa, são utilizadas arquivos municipais, antigos planos urbanos de época e fotografias antigas. Todas as informações vindas do levantamento históricos deverão ser adequadas para uma linguagem mais acessível no intuito de serem utilizadas no ensino de História na sala de aula. No segundo momento as informações vindas do levantamento histórico serão a base de alimentação da ferramenta tecnológica.

A ferramenta tecnológica escolhida para receber as informações históricas é o Google Street View. Sobre o usos da tecnologia no Ensino de História, Oliveira (2011, p. 12) destaca que em uma “nova perspectiva de compreensão entre pessoas e tecnologia é visível perceber que essas novas formas de sociabilidade no ciberespaço, são geradores e determinantes para a formação da identidade”.

O Google Street View é um recurso do Google Maps e do Google Earth que disponibiliza vistas panorâmicas de 360° na horizontal e 290° na vertical e permite que os usuários (utilizadores) vejam partes de algumas regiões do mundo ao nível do chão/solo. Quando foi lançado, em 25 de maio de 2007, apenas cinco cidades americanas haviam sido incluídas. Desde então já se expandiu para países além dos Estados Unidos como a AustráliaJapãoBrasil, etc.

Em 2011, equipes do Google estiveram na Amazônia brasileira no intuito de registrar a biodiversidade local. Trechos do Rio Negro e comunidades próximas, no estado do Amazonas, foram fotografadas para o serviço Street View. No entanto, como as características da região amazônica são peculiares o Google Street View teve que se adaptar. As imagens do Rio Negro foram capturadas por barcos com câmeras, e em terra triciclos acoplados com câmeras (em vez do carro que normalmente faz as fotografias nas cidades, mas que não poderia circular pela floresta) de modo a mapear as comunidades da região, adaptando a ferramenta tecnológica à realidade amazônica.

No âmbito cultural, o Google Street View tem sido aplicado em Museus no exterior com o intuito de socializar e oportunizar que pessoas sem recursos disponíveis e professores possam fazer “tour” virtuais e conhecer instituições. No ensino na sala de aula, a proposta de uso do Google Street View se dará como uma “viagem virtual”, na qual por meio desta ferramenta, os alunos poderão conhecer e aprender sobre a história local, sem sair da sala de aula.  

Através do uso destas tecnologias aplicadas ao ensino, o professor, junto aos seus alunos, poderá “valorizar pequenos lugares, pequenos pontos do monumento” (Santos, 2015). Desse modo, procura-se abranger o conteúdo de História em suas novas formas de abordagem, que facilitam o processo de ensino e aprendizagem, ou seja, esse processo deve estar incluso na construção de um aluno reflexivo e não mecânico, e de práticas planejadas e discutidas antes de serem aplicadas.

Referências:
Paulo de Mendonça Mafra é discente de História da Universidade Federal do Amapá-UNIFAP e de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Ensino Superior do Amapá-CEAP. 
Jelly Juliane Souza de Lima é graduada em Licenciatura em História e Mestra em Arqueologia. Atualmente está vinculada ao Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas do Amapá-CEPAP da Universidade Federal do Amapá-UNIFAP.
Os autores deste texto agradecem ao professor Dr. Adalberto Junior Ferreira Paz da Universidade Federal do Amapá-UNIFAP pela oportunidade de produzir na disciplina estágio supervisionado III a presente proposta.

BRAUDEL, F. História e Ciências Sociais: a longa duração. Revista de História, v. 30, n. 62, p. 261-294, 1965.
KERN, A. Uma problemática da Arqueologia e da História: a cidade e seus territórios. Cadernos de História, v. 18, n. 28, p. 15-27, 2017.
GAMBIM JÚNIOR, A; LIMA, J; GAZEL, L & SILVA, M. Projeto de Elaboração da Carta Arqueológica na região Metropolitana de Macapá e Santana AP. 2018.
MADEIRA, S. P. F. O Museum of London e a arqueologia urbana: um exemplo de gestão arqueológica do espaço urbano e sua possível aplicação ao território português. Dissertação de Mestrado, 2011.
OLIVEIRA, T. S. O uso das novas tecnologias no ensino de história: o blog como ferramenta educativa no ensino médio. Universidade Estadual da Paraíba, 2013.
SANTOS, T. Proposta de utilização do Google Street View na Disciplina de história no Ensino médio. In: Seminário de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Araranguá, 2015.
STASKI, E. Advances in Urban Archaeology, In. Michael B. Schiffer (ed.), Advances in Archaeological Method and Theory, vol. 5, New York: Academic Press, pp 97-149, 1982.
TOCCHETTO, F & THIESEN, B. A memória fora de nós: a preservação do patrimônio arqueológico em áreas urbanasRevista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, v. 33, p. 175-199, 2007.


7 comentários:

  1. Gostei bastante da ideia. Como professora de história do ensino básico também estou à procura de inovar. Quando penso nas tecnologias, me vêm à cabeça logo as dificuldades materiais. Entretanto, acredito que com criatividade e pensamento positivo, podemos ultrapassar essa barreira.

    Compreendi que a pesquisa de vocês ainda está mesmo num ponto bem inicial. Gostaria de saber que procedimentos metodológicos estão pensando em aplicar para testar a ideia do Google Street View no estudo da cidade na prática.

    Muito obrigada,

    Cícera Tamara Graciano Leal da Silva Fernandes

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    1. Oi Tamara, tudo bem?
      Todo professor gosta de inovar, no entanto a realidade do ensino e das escolas brasileiras deixa a desejar. Quando o Paulo falou desta proposta de pesquisa achei muito interessante. Conforme mencionados no texto os maiores usuários da ferramenta google street view são os museus.Como Macapá é ainda uma cidade que está nesse processo de crescimento e expansão urbana, o google street view registrou informações da cidade. A ideia inicial é fazer um levantamento das informações históricas da cidade e criar um banco de dados que alimentará a ferramenta. Com a base alimentada com as informações históricas, a ideia é ir para a sala de aula e junto com os alunos fazer um tour pela cidade. Com o crescimento urbana e as modificações da cidade, muitas pessoas não conhecem direito essa parte da história, ou ainda, não existe uma correlação entre a cidade e a memória. É como se o lugar fosse somente o centro!
      Se a proposta de alimentação do google não der certo, outras possibilidades similares de aplicação podem ser feitas.
      Espero ter respondido sua pergunta.
      Att,
      Jelly Juliane Souza de Lima

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    2. Que interessante! Eu fiquei curiosa, pois também trabalho tema do crescimento urbano e, justamente, minha dissertação de mestrado tem a ver com isso. Como posso entrar em contato para trocarmos maiores informações? Fiquei inspirada a tentar algo parecido aqui na minha cidade. Não sabia que era possível alimentar o Google Streret View com essas informações.

      Parabéns. Gostei mesmo da ideia!!!

      Cicera Tamara Graciano Leal da Silva Fernandes

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  2. Olá

    Texto interessante. Também sou utilizo essa ferramenta como parte de minhas aulas. Publiquei alguns anos atrás um artigo na Revista do Lhiste da UFRGS onde há também uma proposta para uso (http://seer.ufrgs.br/index.php/revistadolhiste/article/view/48317). No caso de vocês, o que eu achei ainda mais interessante foi o foco na história local. Se desejarem continuar nessa área, do uso de tecnologias e Ensino de História, um autor que recomendo, que trabalha com as relações entre conhecimento histórico e museus ou patrimônios virtualizados é o Prof. Eucídio Arruda, da UFMG.Os artigos dele são essenciais como referencias para o trato com essas novas dinamicas do ensino.

    At.te

    Esdras Carlos de Lima Oliveira

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Boa tarde, grato pelas palavras de apoio e as referências.

      Cordialmente,

      Paulo de Mendonça Mafra

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    3. Oi Alex, tudo bem?

      Obrigada pela indicação do texto, vamos ler com carinho. Esperamos ano que vem, neste mesmo evento publicar os resultados da pesquisa.
      Att,
      Jelly Juliane Souza de Lima.

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