Alessandro Martins Gomes Mônica Cordovil de Oliveira Martins Gomes


OS CONCEITOS DE REVOLUÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS E AS LINGUAGENS DE ENSINO

O presente trabalho vai trilhar um caminho em busca da problematização dos conceitos de revolução e de movimentos sociais a partir do emprego de algumas das linguagens de ensino: música, literatura, novas tecnologias e cinema; atentando para as discussões teórico-metodológicas inerentes à cada uma delas.

Em primeiro lugar, serão analisados os conceitos de revolução e movimentos sociais. Em segundo lugar, analisaremos cada linguagem para o ensino de história: música, literatura, novas tecnologias e cinema. E, concluindo, mostraremos como o uso dessas linguagens pode influenciar no ensino de História.

Os conceitos de revolução e movimentos sociais
Pesquisar sobre revoluções é pesquisar sobre mudanças, pois, independente de qual revolução seja, a essência sempre recai sobre o desejo de mudança para alcançar alguma transformação ou alguma mudança radical. Nesse sentido, podemos perceber que as revoluções que ocorreram na história da humanidade sempre tiveram o intuito de mudar algo na história, e, como já vimos nas pesquisas passadas, a luta de classes sempre moveu as grandes mudanças na história da humanidade. E normalmente essa luta se inicia através dos movimentos sociais, ou seja, a inconformidade com a desigualdade existente dentro das sociedades e o sentimento de injustiça diante de privilégios dados a algumas classes da sociedade em detrimento da maioria.

Esse fenômeno – a luta de classes – sempre existiu. Porém, o termo foi criado pelos filósofos Karl Marx e Friedrich Engels, para designar esse conflito entre as classes privilegiadas e as classes inferiores, o qual sempre foi o agente causador das grandes revoluções da história. Nesse sentido, Simionatto [2009, p.43] muito bem explana sobre a neutralização desses conflitos, onde a classe dominante consegue da classe dominada um maior conformismo se usar para isto o poder sem meios violentos, tentando assim, desestruturar os conflitos “reduzindo-as a interesses meramente econômico-corporativos”, pois “nenhum grupo social possui condições de superar seus patamares de subalternidade até que não seja capaz de sair da fase econômico-corporativa para elevar-se à fase da hegemonia político-intelectual na sociedade civil e tornar-se dominante na sociedade política”. [GRAMSCI, 1977, p. 460 apud SIMIONATTO, 2009, p. 43] A maioria das revoluções na história da humanidade envolve o fenômeno conhecido como “luta de classes”, assim batizado pelos filósofos Karl Marx e Friedrich Engels, para designar os conflitos entre as classes privilegiadas e as classes inferiores. Entendemos que as grandes revoluções na história da humanidade sempre teve um objetivo em torno de alguma mudança pretendida, por isso, a luta de classes sempre moveu as grandes mudanças na história da humanidade.

Em relação ao conceito de revolução, Bobbio assim a define:

“A Revolução é a tentativa, acompanhada do uso da violência, de derrubar as autoridades políticas existentes e de as substituir, a fim de efetuar profundas mudanças nas relações políticas, no ordenamento jurídico-constitucional e na esfera sócioeconômica. A Revolução se distingue da rebelião ou revolta, porque esta se limita geralmente a uma área geográfica circunscrita, é, o mais das vezes, isenta de motivações ideológicas, não propugna a subversão total da ordem constituída, mas o retorno aos princípios originários que regulavam as relações entre as autoridades políticas e os cidadãos, e visa à satisfação imediata das reivindicações políticas e econômicas. A rebelião pode, portanto, ser acalmada tanto com a substituição de algumas das personalidades políticas, como por meio de concessões econômicas. A Revolução se distingue do golpe de Estado, porque este se configura apenas como uma tentativa de substituição das autoridades políticas existentes dentro do quadro institucional, sem nada ou quase nada mudar dos mecanismos políticos e sócioeconômicos. Além disso, enquanto a rebelião ou revolta é essencialmente um movimento popular, o golpe de Estado é tipicamente levado a efeito por escasso número de homens já pertencentes à elite, sendo, por conseguinte, de caráter essencialmente cimeiro. A tomada do poder pelos revolucionários pode, de resto, acontecer mediante um golpe de Estado (assim se pode considerar a tomada do poder formal pelos bolcheviques, em 25 de outubro de 1917), mas a Revolução só se completa com a introdução de profundas mudanças nos sistemas político, social e econômico.” [BOBBIO, 1998, p. 1121]

Florestan Fernandes fala do conceito de contrarrevolução que vem atrelado ao conceito de revolução, pois a contrarrevolução é uma conjuntura ou uma realidade contrária a uma revolução, ou seja, fatores que impedem uma revolução. Para ele, “revolução é um fenômeno social e político de mudanças rápidas e drásticas nas estruturas sociais, em que a ordem social vigente é subvertida”. O uso da palavra revolução ao invés de golpe de Estado “é uma forma de escamotear a realidade histórica” com acontecimentos que não mudam estruturas sociais, como exemplo o governo brasileiro e a tomada de poder em 1964, com sentido da palavra revolução como sinônimo de golpe de Estado. [SILVA, 2009, p. 364] Nesse sentido, Rossi chama “o golpe de 1964 de falsa contrarrevolução”, pois o movimento se baseava numa tentativa de impedir uma “falsa revolução socialista” em andamento, mas na verdade os golpes na América Latina foram apenas de encontro com a democracia. [ROSSI, 1994; FERNANDES, 1984 apud SILVA, 2009, P. 364]

Linguagens para o ensino de história: música, literatura, novas tecnologias e cinema
Já nos é possível ver claramente que para que haja grandes mudanças ou rupturas na ordem social de uma sociedade é preciso que haja construções e movimentos sociais coletivos que antecedam uma revolução. Para entendermos melhor sobre as grandes mudanças ocorridas na sociedade em geral ao longo do tempo, faz-se necessário uma compreensão das revoluções, e, assim, podemos compreender que “as relações sociais, políticas e econômicas não são dadas por si só, e sim correspondem ao resultado da luta da humanidade contra situações injustas”. [ROMERO, 2016, p. 123]

Diante disso, é importante entender que a disseminação do conhecimento também passou por transformações, no sentido de paradigmas educacionais, numa era em que a informação se propaga muito rapidamente, e, consequentemente, com atores mais ativos no processo de ensino-aprendizagem, com processo de aquisição de conhecimento potencializado por diversas ferramentas. Para que esse processo ocorra eficazmente, é necessário que as pessoas não apenas recebam informações indiscriminadamente, mas sim, que se apropriem destas informações para que possam transformá-las em conhecimento, por isso, vimos que:

“Um dos objetivos da educação não é simplesmente o de efetivar um saber na pessoa, mas seu desenvolvimento como sujeito capaz de atuar no processo em que aprende e de ser parte ativa dos processos de subjetivação associados à sua vida cotidiana.” [GONZALEZ, 2001, p. 11]

O professor pode também utilizar muitas ferramentas para tornar esse processo mais atrativo e eficaz, pois já não cabe mais a abordagem tradicional onde o professor é apenas transmissor de conhecimento. Não é tão simples romper com paradigmas cristalizados, mas, para isso, o professor precisa, antes de tudo, ter a plena consciência de seu papel como mediador do processo de ensino aprendizagem e ter a percepção que o modo de aprender está relacionado com o jeito de ensinar.

Podemos ver algumas dessas ferramentas: música, literatura, novas tecnologias e cinema.

Música
A música pode fornecer riquíssimas contribuições para o ensino de História, pois os conceitos de movimentos sociais e revolução não podem ser apenas ensinados teoricamente através de textos, mas podemos usar o repertório da Música Popular Brasileira, principalmente “nas canções de engajamento político em suas diversas variantes”, usada normalmente para “ludibriar a repressão proveniente do período ditatorial no Brasil”, sendo que “algumas canções embutiram em sua composição ideias revolucionárias”. [IPÓLITO, 2016, p. 17]

Muitos cantores foram influenciados e levados pelos movimentos de “engajamento social e político da música”, como Geraldo Vandré, que fez uma canção – “Para não dizer que não falei de flores” ou ainda também conhecida como “Caminhando” – que ficará para sempre na memória dos brasileiros como sinal de apelo de mudança e conclamando o povo para que reagisse aos feitos do regime militar.

Literatura
A literatura também é uma ferramenta muito rica para o ensino de História, especialmente a literatura africana, pois assim é possível fazer “estudos desses povos e de suas culturas por meio da literatura escrita na língua do colonizador por autores que experimentaram ou viveram formas de violência associadas ou representadas pelo Estado pós-colonial”. [SILVA, 2016, p. 47]

É fato que ainda existe grande preconceito sobre o conhecimento sobre a África, ainda há muitos resquícios de um olhar eurocêntrico, e, sobretudo, ainda considerados como inferiores e necessitados de absorver uma cultura superior.

Poderíamos citar muitos autores que discursaram a respeito das concepções eurocêntricas, porém, a obra que de fato colocou esse assunto em voga internacionalmente foi o livro Orientalismo de Edward Said em 1978.

A questão do eurocentrismo é bastante complexa e na busca pelo seu entendimento podemos identificar muitos obstáculos que surgem no estudo da história de África e Ásia, através de diversos mitos e preconceitos que surgiram na história desses continentes, criando assim uma visão irreal e distorcida desses territórios que ainda necessitam de exploração histórica.

Nessa linha de pensamento, o eurocentrismo pode ser entendido tanto como um paradigma quanto como uma ideologia, baseado na superioridade da cultura e modo de vida europeia sobre os demais povos do mundo.

Segundo Amin [2008, p. 47], o eurocentrismo deve ser considerado uma ideologia que remonta ao renascimento, definindo seu conceito como “a crença generalizada de que o modelo de desenvolvimento europeu-ocidental seja uma fatalidade (desejável) para todas as sociedades e nações”. Já para Quijano [QUIJANO, 2000 apud BARBOSA, 2008, p. 47], o eurocentrismo deve ser considerado um paradigma, através de “uma estrutura mental, consciente ou não, que serve para classificar o mundo”. Para Barbosa [2008, p. 47], ambas as visões se complementam, pois, independentemente da forma com o eurocentrismo se exterioriza, acaba por recair na “superioridade europeia”. [SAID, 2007, p. 28]

Essa ideia da supremacia civilizatória já vem de tempos antigos, como o mesmo autor nos diz:

“O Orientalismo nunca está muito longe do que Denys Hay chama ‘a ideia de Europa’, uma noção coletiva que identifica a ‘nós’ europeus contra todos ‘aqueles’ não europeus, e pode-se argumentar que o principal componente da cultura europeia é precisamente o que tornou hegemônica essa cultura, dentro e fora da Europa: a ideia de uma identidade europeia superior a todos os povos e culturas não europeus.” [SAID, 2007, p. 34]

Said também afirma que o conceito de Oriente foi uma invenção europeia com visão orientalista, forjando assim, a visão “do outro” para diferenciarem-se dos europeus com a imagem do “eu” – “Ocidental, civilizado, branco, racional em contraponto ao Oriental, selvagem, de cor, emotivo”. [SAID, 2007, p. 28]

Na base de qualquer império, segundo Cartier [1989], sempre existe um processo de conquistador-conquistado, notadamente onde um está sobre o outro no que diz respeito ao armamento e à organização, e também, com a formação de uma nova estrutura político-social com a integração dos vencedores na organização dos vencidos.

Tecnologias
Sobre tecnologias não é preciso clarificar detalhadamente o que se pode modificar no ensino de História. Com relação aos conceitos de revolução e movimentos sociais fica ainda mais claro, pois a própria revolução tecnológica vivida pela Sociedade da Informação mostra como ela faz parte da história das revoluções da humanidade. [INSTITUTO, 2017]

Os movimentos sociais podem ser vistos de diversos ângulos, tanto como iniciativas revolucionárias tanto como formas de protestos e manifestações populares, mas, independente de sua forma de se exteriorizar, para Hobsbawm [2012, p. 129] esses movimentos fazem parte da escrita de uma história social. [SILVA, 2012, p. 5-6]

Conforme Silva [2012, p. 5-6], os movimentos de contestações sociais sempre estiveram presentes na história da humanidade, como “a transição do Antigo Regime para o Liberalismo” que “surgiram do confronto entre o sistema capitalista e a tradicional organização social”, chamados de pré-industriais. Após o desenvolvimento industrial e as modificações das relações sociais, ocorreram movimentos por questões ligadas ao capitalismo. Surgiram também movimentos operários devido aos conflitos surgidos na sociedade industrial. Após a década de 60 surgiram os movimentos chamados de novos ou pós-industriais, mas não como movimentos operários de classes, mas sim de direitos civis. Mais tarde movimentos pacifistas, feministas, ecológicos e outros.

A Revolução Digital transformou novamente a sociedade e suas formas de comunicação, e, com isso, ampliou-se imensamente as formas de protestos e movimentos sociais, ou seja, “o que se pode concluir é que as formas de contestação acompanharam o evoluir da sociedade”. Hoje, obviamente, “estamos perante movimentos sociais que agem de maneira diferente, utilizando os meios tecnológicos que foram postos ao serviço da Humanidade para se reunirem, para divulgarem as suas ideias, para se promoverem. É a sociedade em rede a funcionar em todas as vertentes, mesmo na organização de protestos”. [SILVA, 2012, p. 8]

Da mesma maneira, podemos entender as mudanças ocorridas também no ensino de história, principalmente no que tange às revoluções e movimentos sociais. Assim, o professor de História deve se portar como um professor problematizador, e não apenas como mero expectador e transmissor de conhecimentos, auxiliando na formação de cidadãos mais críticos e pensadores, se adequando às novas exigências do mercado de trabalho e da nova realidade cultural das escolas e dos alunos. Esse novo perfil de profissional deve compreender que as mudanças na sociedade também revolucionaram o processo educacional, buscando preparo para utilizar-se dessa ferramenta de forma a contribuir para o aprendizado de forma eficaz no ambiente educativo. O educador deve também cuidar para que o uso dessa ferramenta seja como um recurso pedagógico de modo a potencializar as aulas, e não apenas como máquinas para ensinar ou aprender, mas como ferramenta pedagógica para criar um ambiente interativo que proporcione ao aprendiz, diante de uma situação problema, investigar, levantar hipóteses, testá-las e refinar suas ideias iniciais, construindo assim seu próprio conhecimento. [VIEIRA, online]

É necessário que os educadores encarem esse novo desafio, para que não fiquem presos em uma educação tradicional e tecnicista, pois

“[...] a educação do futuro é aquela que deve proporcionar a formação de cérebros para a cooperação, [...] que prepara para a vida, para tomar decisões, para integrar conhecimento, [...] que prepara o indivíduo para agir, não apenas para reagir, para planejar e não apenas executar.” [BRITO, 2006, p. 119]

Assim,

“Fica clara a necessidade dessa mudança de paradigma educacional, diante dessa Sociedade do Conhecimento que foi gerada pela quantidade de recursos e facilidade de acesso à informação que temos hoje. Por isso, fica claro como o processo de ensino de História pode ser ampliado e potencializado com o uso das TIC’s. Porém, isso depende muito de como essas TIC’s são utilizadas. Para isso, é preciso investir não só na aquisição de novos recursos, mas na orientação dos educadores para utilizarem de forma correta e eficaz.” [GOMES; GOMES, 2016, p. 9]

Cinema
Sobre cinema é muito claro que esta linguagem pode auxiliar muito o aprendizado sobre história, especialmente no que diz respeito às revoluções e movimentos sociais.  A relação existente entre história e cinema já vem desde a invenção desta linguagem, porém, “somente a partir da década de 1970 que o filme começou a ser visto como um possível documento para a investigação histórica”, e, passando a ser considerado um produto da sociedade que o produziu, refletindo assim os pensamentos ideológicos e crenças da referida sociedade. [NOVA, 1996, online]

Sabe-se que os movimentos sociais que originam as revoluções advêm da existência de conflitos e divergências dentro de uma sociedade, esses movimentos acabam por criar um ponto de intersecção com a pedagogia, pois se tornam espaços de aprendizagens para cada sociedade que a vivencia.

A utilização do cinema como fonte histórica só foi possível a partir do movimento dos Annales, pois assim, a fonte escrita deixou de ser a única fonte reconhecidamente histórica. A ideia de a fonte fílmica ter incutido vestígios históricos ocupou o lugar daquela ideia ultrapassada de que os filmes mostram uma realidade fictícia e de tentativa de persuadir as pessoas ilusoriamente.

Na antiguidade as artes mímicas e visuais eram grandemente criticadas por Platão e Santo Agostinho. Ele amava o teatro: “Arrebatavam-me os espetáculos teatrais, cheios das imagens de minhas misérias e de alimento para o fogo de minha paixão” [SANTO AGOSTINHO, III, 2, p. 67], o qual lhe conferia prazer e alimentava suas paixões em sua cultura pagã. Porém, as reflexões sobre o teatro de sua juventude diferenciam-se muito de suas conclusões após sua conversão, fazendo-o ter uma visão bem mais crítica da vida:

“Pois toda sua vida em busca pela verdade atravessou momentos difíceis, mas o fez chegar ao porto seguro, o que o faz ter uma visão muito mais crítica da vida. Isso tudo o fez constatar que as artes e o teatro criavam uma realidade virtual, falsa e artificial, tornando-se uma espécie de fuga para os homens, fugindo de suas realidades e problemas vividos em suas vidas reais, os levando a agirem de forma inapropriada.” [GOMES, 2014, p. 1768-1769]

Nesse mesmo sentido, Platão também critica as artes confirmando que “todas são uma cópia do mundo sensível, que por si só já é cópia, sendo então as artes a cópia de uma cópia” [GOMES, 2014, p. 1771]. Em seu diálogo A República diz que “São as de Hesíodo, Homero e de outros poetas. Eles compuseram fábulas mentirosas que foram e continuam sendo contadas aos homens”. [GOMES, 2014, p. 1771]

Já após a grande revolução dos Annales foi constadado que existem diversas formas de relatar a história, pois conforme Marc Ferro e Michèle Lagny:

“Todo processo de produção de sentido é uma prática social, e que o cinema não é apenas uma prática social, mas um gerador de práticas sociais, ou seja, o cinema, além de ser um testemunho das formas de agir, pensar e sentir de uma sociedade, é também um agente que suscita certas transformações, veicula representações ou propõe modelos. Sendo assim, investigar os meios pelos quais alguns filmes buscam induzir os indivíduos a se identificar com as ideologias, as posições e as representações sociais e políticas dominantes e quais as rejeições a essas tentativas de dominação propicia uma visão mais crítica da sociedade. A resistência aos significados e mensagens dominantes pode favorecer novas leituras e novos modos de apropriação do cinema, usando a cultura como recurso para o fortalecimento e a invenção de significados, identidades e formas de vida.” [FERRO; LAGNY 1997, p. 187-207 apud VALIM 2012, p. 285]

A utilização do cinema através de vídeos e filmes podem ser incorporados também com as tecnologias e possibilitam o desenvolvimento de novas formas de aprendizagem, pois se utiliza de uma linguagem menos formal que os textos escritos, através de recursos audiovisuais, que podem ser facilitadores na compreensão de conteúdos educacionais.

Considerações finais
Neste trabalho abordamos as questões metodológicas inerentes ao ensino de História, com o principal motivo de problematizar os conceitos de revolução e de movimentos sociais.

Podemos concluir que existem diversas formas e linguagens pedagógicas para a produção de conhecimentos históricos, não apenas por documentos escritos, mas também através das experiências de uma sociedade tanto social quanto cultural e política, as quais contribuem de forma valiosa para a construção de uma narrativa histórica:

“Toda identidade humana é construída e histórica; todo o mundo tem seu quinhão de pressupostos falsos, erros e imprecisões que a cortesia chama de “mito”, a religião, de “heresia”, e a ciência, “de magia”. Histórias inventadas, biologias inventadas e afinidades culturais inventadas vêm junto com toda identidade; cada qual é uma espécie de papel que tem que ser roteirizado, estruturado por convenções de narrativa a que o mundo jamais consegue conformar-se realmente.” [APPIAH, 1997, p. 241]

Assim, pode-se perceber que o ensino de História pode ser grandemente enriquecido através do uso diversificado de modelos de abordagens e de linguagens de ensino como a música, a literatura, as tecnologias e o cinema.

A compreensão dos conceitos de revolução e movimentos sociais enquanto conjunto de grandes mudanças pode utilizar-se da música como meio de repercussão de ideias e meio de protesto, pois é possível embutir em suas letras pensamentos camuflados.

Em relação à literatura, principalmente a literatura africana, também é muito importante a internacionalização dos conceitos de revolução e movimentos sociais para o ensino de História, principalmente pelo fato de que a literatura africana pode ajudar muito no ensino da própria cultura brasileira.

O uso de tecnologias pode ser atrelado a diversos tipos de abordagens no ensino de História, pois possuem uma forma de alcance bastante diferenciada, com novos paradigmas e novas formas de protesto.

O cinema há muito vem sendo utilizado como forma de exteriorização de movimentos sociais, revoluções e protestos populares, e isso vem sendo a cada dia mais incutido no ensino de História, podendo o professor e seus alunos vivenciar de forma mais real muitas das revoluções que nossa sociedade já vivenciou.

Em suma, fica claro que o uso dessas linguagens apresentadas na referente pesquisa pode influenciar no ensino de História e pode enriquecer a construção do conhecimento entre aluno e professor, evidenciando o alto grau de motivação que essas linguagens podem trazer à pedagogia.

Referências

Alessandro Martins Gomes é atualmente doutorando em Estudos Clássicos – Mundo Antigo na Universidade de Coimbra/Portugal com bolsa de doutorado pleno pela CAPES. Mestre em teologia pelas Faculdades EST em São Leopoldo/RS. Especialista em História Antiga e Medieval pela Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro; especialista em História do Brasil, Ciências da Religião, História e Cultura Afro-brasileira pela Universidade Cândido Mendes; especialista em Ensino de História pela Uninter; especialista em Planejamento, Implementação e Gestão do Ensino a Distância pela UFF/RJ. Licenciado em História, Direito e Teologia. Lecionou em diversas áreas e atualmente é pesquisador de doutorado pela CAPES em Coimbra/Portugal.

Mônica Cordovil de Oliveira Martins Gomes é especialista em Planejamento, Implementação e Gestão do Ensino a Distância pela UFF/RJ e em Gestão de E-learning na Universidade Nova de Lisboa/Portugal. Licenciada em Sistemas de Informação e Teologia. Cursando inglês na Universidade de Coimbra/Portugal.

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11 comentários:

  1. Bom dia! Como podemos trabalhar as midias sociais e recursos tecnologicos nas escolas com pouco ou nenhum recursos?

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  2. Bom dia Benedito! Você quis dizer sem recursos na escola? Eu entendi nesse sentido. Se for, pode fazer gravações, por ex, de vídeos do youtube e passar através de tv na escola. Podes usar mídias mais conhecidas com cd e dvd, pelo menos para iniciar até ter uma estrutura melhor, o que me diz?

    Monica Cordovil

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  3. RESPOSTAS DO SIMPÓSIO (PERGUNTAS)

    1. MOVIMENTOS SOCIAIS, ENSINO DE HISTÓRIA EL INGUAGENS:

    Olá, colegas! Gostei muito do texto de vocês dois. Pesquiso a respeito da construção de significados sobre movimentos sociais no âmbito do ensino de História escolar. Minha análise recai, inicialmente, sobre os livros didáticos, dos mais antigos aos mais atuais, aprovados pelo Programa Nacional dos Livros Didáticos.

    Achei pertinente o que vocês escreveram quanto aos materiais disponíveis para trabalharmos movimentos sociais (e revoluções) no ensino de história. Mas, fiquei com uma dúvida quanto ao conceito.

    Pareceu-me que a opção de vocês foi a de entender movimento social como uma promoção ou uma causa da luta de classes. Citaram Marx e Gramsci (apud SIMIONATTO, 2009).

    Dito isso, para além de compreender os movimentos sociais, há outras abordagens sobre suas acepções conceituais que vocês possam indicar? Pergunto isso, pois compreendo que é forte em nossa formação as definições marxistas ou marxianas. Mas, careço ainda - e estou em processo de pesquisa - de mais diálogos com outras definições e conceitos mais amplos.

    Agradeço toda a atenção.

    Guilherme Nogueira Magalhães Muzulon

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  4. Oi Guilherme tudo bem?

    Nossa abordagem realmente é no sentido da luta de classes. Citamos Karl Marx e Friedrich Engels, pois foram os primeiros a usarem o termos para designar esse conflito entre as classes privilegiadas e as classes inferiores, o qual sempre foi o agente causador das grandes revoluções da história.

    Leia também a obra que está na referência, de Simionatto [2009], que se encontra em:
    https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/view/S1414-49802009000100006/10236

    Leia também:
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    Cárcere. In: COUTINHO, C. N.; TEIXEIRA, A. de P. (Org.).
    Ler Gramsci, entender a realidade. Rio de Janeiro:
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    BUTTIGIEG, J. Educação e hegemonia. In: COUTINHO, C.
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    LIGUORI, G. Estado e sociedade civil: entender Gramsci
    para entender a realidade. In: COUTINHO, C. N.;
    TEIXEIRA, A. de P. (Org.). Ler Gramsci, entender a
    realidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p.
    173-188.

    LIGUORI, G. Roteiros para Gramsci. Tradução de Luiz
    sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2007.

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  5. Saudações caro colega Alessandro Gomes!

    Muito bom reencontrar-te aqui.

    Sabes que nossas leituras sobre IPÓLITO, são sempre proveitosas no que tange as músicas de protesto e seus usos na promoção da insurgência e "revolução" dos movimentos sociais.

    Dito isto Alessandro, tenho algumas inquietações, dentre elas, gostaria que você me esclarecesse como vês algumas canções de protesto no Brasil, que embutiram em sua composição ideias revolucionárias? Conseguistes mapear ou analisar o uso de canções como "para não dizer que falei das flores" e "cálice", no ensino de História das Revoluções e período Ditatorial do Brasil?

    Agradeço desde já tuas contribuições e assertivas.

    Cordialmente, Wilverson Rodrigo Silva de Melo.

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    1. Oi Wilverson tudo bem?

      Podemos ainda citar muitas músicas que serviram de protesto ao período militar no Brasil.

      Mas cito aqui uma que gosto muito, "Apesar de Você", de Chico Buarque, que junto com Vandré se tornou um dos artistas mais perseguidos pela ditadura.

      A letra fala implicitamente contra o ditador Médici, e, logo que perceberam a intenção verdadeira da letra a música foi proibida.

      Abraços,
      Monica Cordovil

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  6. Oi Wilverson, que bom encontrar-te, sim utilizei essa canção em minha pesquisa, pois a música faz parte da sociedade e, não é difícil identificar que a maioria das mudanças e rupturas na história da sociedade veio através de grandes movimentos sociais coletivos, os quais na maioria das vezes antecederam as grandes revoluções.

    Agora pergunto: Será que a música teria força para romper com a ditadura? Será que a censura bloqueou esse movimento?

    Não sozinha. Mas fez parte de um grande movimento e manifestações em 1968 contra o regime do governo, que claro, queria mostrar revolta diante disso. Mas mesmo Geraldo Vandré tendo que fugir do país por perseguição, com certeza, sua música de letra fácil não saiu dos manifestos, sendo até hoje lembrada.

    A música Cálice de Chico Buarque também segue a mesma linha, cheia de metáforas tentando mostrar a revolta contra o quadro social que mergulhava o Brasil, a tristeza do sangue derramada de tantas pessoas que foram vítimas de tortura e, inclusive claro, denunciando a censura, e muitas outras coisas que estão embutidas nessa letra.

    Abraços
    Alessandro

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  7. Layana Márcia Carvalho Pereira13 de abril de 2018 às 07:43

    Bom dia. Professor, como as lutas de classes moveram as grandes mudanças n história da humanidade, hoje vejo que apesar das lutas poucas coisas são alteradas?Será se as pessoas seguem a risca os pensamentos de Karl Marx e Friendrich Engels?
    Layana Márcia Carvalho Pereira

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  8. Layana Márcia Carvalho Pereira13 de abril de 2018 às 08:14

    Layana Márcia Carvalho Pereira
    Bom dia. Será se os professores de história poderão utilizar ferramentas para ensinar alunos a serem sujeitos capazes de mudar a sua realidade e de outras pessoas?

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    1. Oi Layana, sempre há como mudar, é preciso buscar, estudar e trazer novas estratégias para a sala de aula!
      Monica

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  9. Layana Márcia Carvalho Pereira13 de abril de 2018 às 08:25

    boa tarde. Sabemos que existe ainda ´professores que abordam o ensino tradicional. Como podemos mudar esses professores a serem mediadores de conhecimento , onde o mesmo que ensina aprende?
    Layana Márcia Carvalho Pereira

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