OS CONCEITOS DE REVOLUÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS
E AS LINGUAGENS DE ENSINO
O presente trabalho vai trilhar um
caminho em busca da problematização
dos conceitos de revolução e de movimentos sociais a partir do emprego de
algumas das linguagens de ensino: música, literatura, novas tecnologias e
cinema; atentando para as discussões teórico-metodológicas inerentes à cada uma
delas.
Em primeiro lugar, serão analisados os
conceitos de revolução e movimentos sociais. Em segundo lugar, analisaremos cada
linguagem para o ensino de história: música, literatura, novas
tecnologias e cinema. E, concluindo, mostraremos como o uso
dessas linguagens pode influenciar no ensino de História.
Os conceitos de revolução
e movimentos sociais
Pesquisar sobre revoluções é pesquisar sobre
mudanças, pois, independente de qual revolução seja, a essência sempre recai
sobre o desejo de mudança para alcançar alguma transformação ou alguma mudança
radical. Nesse sentido, podemos perceber que as revoluções que ocorreram na
história da humanidade sempre tiveram o intuito de mudar algo na história, e,
como já vimos nas pesquisas passadas, a luta de classes sempre moveu as grandes
mudanças na história da humanidade. E normalmente essa luta se inicia através
dos movimentos sociais, ou seja, a inconformidade com a desigualdade existente
dentro das sociedades e o sentimento de injustiça diante de privilégios dados a
algumas classes da sociedade em detrimento da maioria.
Esse fenômeno – a luta de classes – sempre existiu.
Porém, o termo foi criado pelos filósofos Karl Marx e Friedrich Engels, para
designar esse conflito entre as classes privilegiadas e as classes inferiores,
o qual sempre foi o agente causador das grandes revoluções da história. Nesse sentido,
Simionatto [2009, p.43] muito bem explana sobre a neutralização desses
conflitos, onde a classe dominante consegue da classe dominada um maior
conformismo se usar para isto o poder sem meios violentos, tentando assim,
desestruturar os conflitos “reduzindo-as a interesses meramente
econômico-corporativos”, pois “nenhum grupo social possui condições de superar
seus patamares de subalternidade até que não seja capaz de sair da fase
econômico-corporativa para elevar-se à fase da hegemonia político-intelectual na
sociedade civil e tornar-se dominante na sociedade política”. [GRAMSCI, 1977,
p. 460 apud SIMIONATTO, 2009, p. 43]
A maioria das revoluções na história da humanidade envolve o fenômeno conhecido
como “luta de classes”, assim batizado pelos filósofos Karl Marx e Friedrich
Engels, para designar os conflitos entre as classes privilegiadas e as classes
inferiores. Entendemos que as grandes revoluções na história da humanidade
sempre teve um objetivo em torno de alguma mudança pretendida, por isso, a luta
de classes sempre moveu as grandes mudanças na história da humanidade.
Em relação ao conceito de revolução, Bobbio assim a
define:
“A Revolução é a tentativa, acompanhada do uso da
violência, de derrubar as autoridades políticas existentes e de as substituir,
a fim de efetuar profundas mudanças nas relações políticas, no ordenamento
jurídico-constitucional e na esfera sócioeconômica. A Revolução se distingue da
rebelião ou revolta, porque esta se limita geralmente a uma área geográfica
circunscrita, é, o mais das vezes, isenta de motivações ideológicas, não
propugna a subversão total da ordem constituída, mas o retorno aos princípios
originários que regulavam as relações entre as autoridades políticas e os
cidadãos, e visa à satisfação imediata das reivindicações políticas e
econômicas. A rebelião pode, portanto, ser acalmada tanto com a substituição de
algumas das personalidades políticas, como por meio de concessões econômicas. A
Revolução se distingue do golpe de Estado, porque este se configura apenas como
uma tentativa de substituição das autoridades políticas existentes dentro do
quadro institucional, sem nada ou quase nada mudar dos mecanismos políticos e
sócioeconômicos. Além disso, enquanto a rebelião ou revolta é essencialmente um
movimento popular, o golpe de Estado é tipicamente levado a efeito por escasso
número de homens já pertencentes à elite, sendo, por conseguinte, de caráter
essencialmente cimeiro. A tomada do poder pelos revolucionários pode, de resto,
acontecer mediante um golpe de Estado (assim se pode considerar a tomada do
poder formal pelos bolcheviques, em 25 de outubro de 1917), mas a Revolução só
se completa com a introdução de profundas mudanças nos sistemas político,
social e econômico.” [BOBBIO, 1998, p. 1121]
Florestan Fernandes fala do conceito de
contrarrevolução que vem atrelado ao conceito de revolução, pois a
contrarrevolução é uma conjuntura ou uma realidade contrária a uma revolução,
ou seja, fatores que impedem uma revolução. Para ele, “revolução é um fenômeno
social e político de mudanças rápidas e drásticas nas estruturas sociais, em
que a ordem social vigente é subvertida”. O uso da palavra revolução ao invés
de golpe de Estado “é uma forma de escamotear a realidade histórica” com
acontecimentos que não mudam estruturas sociais, como exemplo o governo
brasileiro e a tomada de poder em 1964, com sentido da palavra revolução como
sinônimo de golpe de Estado. [SILVA, 2009, p. 364] Nesse sentido, Rossi chama
“o golpe de 1964 de falsa contrarrevolução”, pois o movimento se baseava numa
tentativa de impedir uma “falsa revolução socialista” em andamento, mas na
verdade os golpes na América Latina foram apenas de encontro com a democracia.
[ROSSI, 1994; FERNANDES, 1984 apud SILVA,
2009, P. 364]
Linguagens para o ensino de história:
música, literatura, novas tecnologias e cinema
Já nos é possível ver claramente que para que haja
grandes mudanças ou rupturas na ordem social de uma sociedade é preciso que
haja construções e movimentos sociais coletivos que antecedam uma revolução.
Para entendermos melhor sobre as grandes mudanças ocorridas na sociedade em
geral ao longo do tempo, faz-se necessário uma compreensão das revoluções, e,
assim, podemos compreender que “as relações sociais, políticas e econômicas não
são dadas por si só, e sim correspondem ao resultado da luta da humanidade
contra situações injustas”. [ROMERO, 2016, p. 123]
Diante disso, é importante entender que a
disseminação do conhecimento também passou por transformações, no sentido de
paradigmas educacionais, numa era em que a informação se propaga muito
rapidamente, e, consequentemente, com atores mais ativos no processo de
ensino-aprendizagem, com processo de aquisição de conhecimento potencializado
por diversas ferramentas. Para que esse processo ocorra eficazmente, é necessário
que as pessoas não apenas recebam informações indiscriminadamente, mas sim, que
se apropriem destas informações para que possam transformá-las em conhecimento,
por isso, vimos que:
“Um dos objetivos da educação não é simplesmente o
de efetivar um saber na pessoa, mas seu desenvolvimento como sujeito capaz de
atuar no processo em que aprende e de ser parte ativa dos processos de
subjetivação associados à sua vida cotidiana.” [GONZALEZ, 2001, p. 11]
O professor pode também utilizar muitas ferramentas
para tornar esse processo mais atrativo e eficaz, pois já não cabe mais a
abordagem tradicional onde o professor é apenas transmissor de conhecimento.
Não é tão simples romper com paradigmas cristalizados, mas, para isso, o
professor precisa, antes de tudo, ter a plena consciência de seu papel como
mediador do processo de ensino aprendizagem e ter a percepção que o modo de
aprender está relacionado com o jeito de ensinar.
Podemos ver algumas dessas ferramentas: música, literatura,
novas tecnologias e cinema.
Música
A música pode fornecer riquíssimas contribuições
para o ensino de História, pois os conceitos de movimentos sociais e revolução
não podem ser apenas ensinados teoricamente através de textos, mas podemos usar
o repertório da Música Popular Brasileira, principalmente “nas canções de
engajamento político em suas diversas variantes”, usada normalmente para
“ludibriar a repressão proveniente do período ditatorial no Brasil”, sendo que
“algumas canções embutiram em sua composição ideias revolucionárias”. [IPÓLITO,
2016, p. 17]
Muitos cantores foram influenciados e levados pelos
movimentos de “engajamento social e político da música”, como Geraldo Vandré,
que fez uma canção – “Para não dizer que não falei de flores” ou ainda também
conhecida como “Caminhando” – que ficará para sempre na memória dos brasileiros
como sinal de apelo de mudança e conclamando o povo para que reagisse aos
feitos do regime militar.
Literatura
A literatura também é uma ferramenta muito rica para
o ensino de História, especialmente a literatura africana, pois assim é
possível fazer “estudos desses povos e de suas culturas por meio da literatura
escrita na língua do colonizador por autores que experimentaram ou viveram
formas de violência associadas ou representadas pelo Estado pós-colonial”.
[SILVA, 2016, p. 47]
É fato que ainda existe grande preconceito sobre o
conhecimento sobre a África, ainda há muitos resquícios de um olhar
eurocêntrico, e, sobretudo, ainda considerados como inferiores e necessitados
de absorver uma cultura superior.
Poderíamos citar muitos autores que discursaram a
respeito das concepções eurocêntricas, porém, a obra que de fato colocou esse
assunto em voga internacionalmente foi o livro Orientalismo de Edward Said em 1978.
A questão do eurocentrismo é bastante
complexa e na busca pelo seu entendimento podemos identificar muitos obstáculos
que surgem no estudo da história de África e Ásia, através de diversos mitos e
preconceitos que surgiram na história desses continentes, criando assim uma
visão irreal e distorcida desses territórios que ainda necessitam de exploração
histórica.
Nessa linha de pensamento, o
eurocentrismo pode ser entendido tanto como um paradigma quanto como uma
ideologia, baseado na superioridade da cultura e modo de vida europeia sobre os
demais povos do mundo.
Segundo Amin [2008, p. 47], o
eurocentrismo deve ser considerado uma ideologia que remonta ao renascimento,
definindo seu conceito como “a crença generalizada de que o modelo de
desenvolvimento europeu-ocidental seja uma fatalidade (desejável) para todas as
sociedades e nações”. Já para Quijano
[QUIJANO, 2000 apud BARBOSA, 2008, p.
47], o eurocentrismo deve ser considerado um
paradigma, através de “uma estrutura mental, consciente ou não, que
serve para classificar o mundo”. Para Barbosa [2008, p. 47], ambas as visões se
complementam, pois, independentemente da forma com o eurocentrismo se
exterioriza, acaba por recair na “superioridade europeia”. [SAID, 2007, p. 28]
Essa ideia da supremacia civilizatória já vem de
tempos antigos, como o mesmo autor nos diz:
“O Orientalismo nunca está muito longe do que Denys
Hay chama ‘a ideia de Europa’, uma noção coletiva que identifica a ‘nós’
europeus contra todos ‘aqueles’ não europeus, e pode-se argumentar que o
principal componente da cultura europeia é precisamente o que tornou hegemônica
essa cultura, dentro e fora da Europa: a ideia de uma identidade europeia
superior a todos os povos e culturas não europeus.” [SAID, 2007, p. 34]
Said também afirma que o conceito de Oriente foi
uma invenção europeia com visão orientalista, forjando assim, a visão “do
outro” para diferenciarem-se dos europeus com a imagem do “eu” – “Ocidental,
civilizado, branco, racional em contraponto ao Oriental, selvagem, de cor,
emotivo”. [SAID, 2007, p. 28]
Na base de qualquer império, segundo Cartier [1989],
sempre existe um processo de conquistador-conquistado, notadamente onde um está
sobre o outro no que diz respeito ao armamento e à organização, e também, com a
formação de uma nova estrutura político-social com a integração dos vencedores
na organização dos vencidos.
Tecnologias
Sobre tecnologias não é preciso clarificar
detalhadamente o que se pode modificar no ensino de História. Com relação aos
conceitos de revolução e movimentos sociais fica ainda mais claro, pois a
própria revolução tecnológica vivida pela Sociedade da Informação mostra como
ela faz parte da história das revoluções da humanidade. [INSTITUTO, 2017]
Os movimentos sociais podem ser vistos de diversos
ângulos, tanto como iniciativas revolucionárias tanto como formas de protestos
e manifestações populares, mas, independente de sua forma de se exteriorizar,
para Hobsbawm [2012, p. 129] esses movimentos fazem parte da escrita de uma
história social. [SILVA, 2012, p. 5-6]
Conforme Silva [2012, p. 5-6], os movimentos de
contestações sociais sempre estiveram presentes na história da humanidade, como
“a transição do Antigo Regime para o Liberalismo” que “surgiram do confronto
entre o sistema capitalista e a tradicional organização social”, chamados de
pré-industriais. Após o desenvolvimento industrial e as modificações das
relações sociais, ocorreram movimentos por questões ligadas ao capitalismo.
Surgiram também movimentos operários devido aos conflitos surgidos na sociedade
industrial. Após a década de 60 surgiram os movimentos chamados de novos ou
pós-industriais, mas não como movimentos operários de classes, mas sim de
direitos civis. Mais tarde movimentos pacifistas, feministas, ecológicos e
outros.
A Revolução Digital transformou novamente a
sociedade e suas formas de comunicação, e, com isso, ampliou-se imensamente as
formas de protestos e movimentos sociais, ou seja, “o que se pode concluir é
que as formas de contestação acompanharam o evoluir da sociedade”. Hoje,
obviamente, “estamos perante movimentos sociais que agem de maneira diferente,
utilizando os meios tecnológicos que foram postos ao serviço da Humanidade para
se reunirem, para divulgarem as suas ideias, para se promoverem. É a sociedade
em rede a funcionar em todas as vertentes, mesmo na organização de protestos”. [SILVA,
2012, p. 8]
Da mesma maneira, podemos entender as mudanças
ocorridas também no ensino de história, principalmente no que tange às
revoluções e movimentos sociais. Assim, o professor de História deve se portar como
um professor problematizador, e não apenas como mero expectador e transmissor
de conhecimentos, auxiliando na formação de cidadãos mais críticos e
pensadores, se adequando às novas exigências do mercado de trabalho e da nova
realidade cultural das escolas e dos alunos. Esse novo perfil de profissional
deve compreender que as mudanças na sociedade também revolucionaram o processo
educacional, buscando preparo para utilizar-se dessa ferramenta de forma a
contribuir para o aprendizado de forma eficaz no ambiente educativo. O educador
deve também cuidar para que o uso dessa ferramenta seja como um recurso
pedagógico de modo a potencializar as aulas, e não apenas como máquinas para ensinar ou aprender, mas como ferramenta
pedagógica para criar um ambiente interativo que proporcione ao aprendiz,
diante de uma situação problema, investigar, levantar hipóteses, testá-las e
refinar suas ideias iniciais, construindo assim seu próprio conhecimento. [VIEIRA,
online]
É necessário que os educadores encarem esse novo
desafio, para que não fiquem presos em uma educação tradicional e tecnicista,
pois
“[...] a educação do futuro é aquela que deve
proporcionar a formação de cérebros para a cooperação, [...] que prepara para a
vida, para tomar decisões, para integrar conhecimento, [...] que prepara o
indivíduo para agir, não apenas para reagir, para planejar e não apenas
executar.” [BRITO, 2006, p. 119]
Assim,
“Fica clara a necessidade dessa mudança de
paradigma educacional, diante dessa Sociedade do Conhecimento que foi gerada
pela quantidade de recursos e facilidade de acesso à informação que temos hoje.
Por isso, fica claro como o processo de ensino de História pode ser ampliado e
potencializado com o uso das TIC’s. Porém, isso depende muito de como essas
TIC’s são utilizadas. Para isso, é preciso investir não só na aquisição de
novos recursos, mas na orientação dos educadores para utilizarem de forma
correta e eficaz.” [GOMES; GOMES, 2016, p. 9]
Cinema
Sobre cinema é muito claro que esta linguagem pode
auxiliar muito o aprendizado sobre história, especialmente no que diz respeito
às revoluções e movimentos sociais. A
relação existente entre história e cinema já vem desde a invenção desta
linguagem, porém, “somente a partir da década de 1970 que o filme começou a ser
visto como um possível documento para a investigação histórica”, e, passando a
ser considerado um produto da sociedade que o produziu, refletindo assim os
pensamentos ideológicos e crenças da referida sociedade. [NOVA, 1996, online]
Sabe-se que os movimentos sociais que originam as
revoluções advêm da existência de conflitos e divergências dentro de uma
sociedade, esses movimentos acabam por criar um ponto de intersecção com a
pedagogia, pois se tornam espaços de aprendizagens para cada sociedade que a
vivencia.
A utilização do cinema como fonte histórica só foi
possível a partir do movimento dos Annales, pois assim, a fonte escrita deixou
de ser a única fonte reconhecidamente histórica. A ideia de a fonte fílmica ter
incutido vestígios históricos ocupou o lugar daquela ideia ultrapassada de que
os filmes mostram uma realidade fictícia e de tentativa de persuadir as pessoas
ilusoriamente.
Na antiguidade as artes mímicas e visuais eram
grandemente criticadas por Platão e Santo Agostinho. Ele amava o teatro: “Arrebatavam-me os espetáculos teatrais, cheios das imagens
de minhas misérias e de alimento para o fogo de minha paixão” [SANTO AGOSTINHO,
III, 2, p. 67], o qual lhe conferia prazer e alimentava suas paixões em sua
cultura pagã. Porém, as reflexões sobre o teatro de sua juventude
diferenciam-se muito de suas conclusões após sua conversão, fazendo-o ter uma
visão bem mais crítica da vida:
“Pois toda sua vida em busca pela
verdade atravessou momentos difíceis, mas o fez chegar ao porto seguro, o que o
faz ter uma visão muito mais crítica da vida. Isso tudo o fez constatar que as
artes e o teatro criavam uma realidade virtual, falsa e artificial, tornando-se
uma espécie de fuga para os homens, fugindo de suas realidades e problemas
vividos em suas vidas reais, os levando a agirem de forma inapropriada.”
[GOMES, 2014, p. 1768-1769]
Nesse mesmo sentido, Platão também
critica as artes confirmando que “todas são uma cópia do mundo sensível, que
por si só já é cópia, sendo então as artes a cópia de uma cópia” [GOMES, 2014,
p. 1771]. Em seu diálogo A República diz
que “São as de Hesíodo, Homero e de outros poetas. Eles compuseram fábulas
mentirosas que foram e continuam sendo contadas aos homens”. [GOMES, 2014, p.
1771]
Já após a grande revolução dos Annales foi
constadado que existem diversas formas de relatar a história, pois conforme Marc
Ferro e Michèle Lagny:
“Todo processo de produção de sentido é uma prática
social, e que o cinema não é apenas uma prática social, mas um gerador de
práticas sociais, ou seja, o cinema, além de ser um testemunho das formas de
agir, pensar e sentir de uma sociedade, é também um agente que suscita certas
transformações, veicula representações ou propõe modelos. Sendo assim,
investigar os meios pelos quais alguns filmes buscam induzir os indivíduos a se
identificar com as ideologias, as posições e as representações sociais e políticas
dominantes e quais as rejeições a essas tentativas de dominação propicia uma
visão mais crítica da sociedade. A resistência aos significados e mensagens
dominantes pode favorecer novas leituras e novos modos de apropriação do
cinema, usando a cultura como recurso para o fortalecimento e a invenção de
significados, identidades e formas de vida.” [FERRO; LAGNY 1997, p. 187-207 apud VALIM 2012, p. 285]
A utilização do cinema através de vídeos e filmes
podem ser incorporados também com as tecnologias e possibilitam o
desenvolvimento de novas formas de aprendizagem, pois se utiliza de uma
linguagem menos formal que os textos escritos, através de recursos
audiovisuais, que podem ser facilitadores na compreensão de conteúdos
educacionais.
Considerações finais
Neste trabalho abordamos as questões
metodológicas inerentes ao ensino de História, com o principal motivo de problematizar
os conceitos de revolução e de movimentos sociais.
Podemos concluir que existem diversas
formas e linguagens pedagógicas para a produção de conhecimentos históricos,
não apenas por documentos escritos, mas também através das experiências de uma
sociedade tanto social quanto cultural e política, as quais contribuem de forma
valiosa para a construção de uma narrativa histórica:
“Toda identidade humana é construída e
histórica; todo o mundo tem seu quinhão de pressupostos falsos, erros e
imprecisões que a cortesia chama de “mito”, a religião, de “heresia”, e a
ciência, “de magia”. Histórias inventadas, biologias inventadas e afinidades culturais
inventadas vêm junto com toda identidade; cada qual é uma espécie de papel que
tem que ser roteirizado, estruturado por convenções de narrativa a que o mundo
jamais consegue conformar-se realmente.” [APPIAH, 1997, p. 241]
Assim, pode-se perceber que o ensino de
História pode ser grandemente enriquecido através do uso diversificado de
modelos de abordagens e de linguagens de ensino como a música, a literatura, as
tecnologias e o cinema.
A compreensão dos conceitos de
revolução e movimentos sociais enquanto conjunto de grandes mudanças pode
utilizar-se da música como meio de repercussão de ideias e meio de protesto,
pois é possível embutir em suas letras pensamentos camuflados.
Em relação à literatura, principalmente
a literatura africana, também é muito importante a internacionalização dos
conceitos de revolução e movimentos sociais para o ensino de História,
principalmente pelo fato de que a literatura africana pode ajudar muito no
ensino da própria cultura brasileira.
O uso de tecnologias pode ser atrelado
a diversos tipos de abordagens no ensino de História, pois possuem uma forma de
alcance bastante diferenciada, com novos paradigmas e novas formas de protesto.
O cinema há muito vem sendo utilizado
como forma de exteriorização de movimentos sociais, revoluções e protestos
populares, e isso vem sendo a cada dia mais incutido no ensino de História,
podendo o professor e seus alunos vivenciar de forma mais real muitas das
revoluções que nossa sociedade já vivenciou.
Em suma, fica claro que o uso dessas
linguagens apresentadas na referente pesquisa pode influenciar no ensino de
História e pode enriquecer a construção do conhecimento entre aluno e
professor, evidenciando o alto grau de motivação que essas linguagens podem
trazer à pedagogia.
Referências
Alessandro Martins Gomes é atualmente doutorando em
Estudos Clássicos – Mundo Antigo na Universidade de Coimbra/Portugal com bolsa
de doutorado pleno pela CAPES. Mestre em teologia pelas Faculdades EST em São
Leopoldo/RS. Especialista em História Antiga e Medieval pela Faculdade de São
Bento do Rio de Janeiro; especialista em História do Brasil, Ciências da
Religião, História e Cultura Afro-brasileira pela Universidade Cândido Mendes;
especialista em Ensino de História pela Uninter; especialista em Planejamento,
Implementação e Gestão do Ensino a Distância pela UFF/RJ. Licenciado em
História, Direito e Teologia. Lecionou em diversas áreas e atualmente é
pesquisador de doutorado pela CAPES em Coimbra/Portugal.
Mônica Cordovil de Oliveira Martins Gomes é
especialista em Planejamento, Implementação e Gestão do Ensino a Distância pela
UFF/RJ e em Gestão de E-learning na Universidade Nova de Lisboa/Portugal.
Licenciada em Sistemas de Informação e Teologia. Cursando inglês na
Universidade de Coimbra/Portugal.
AMIN,
Samir. Eurocentrismo: crítica de uma
ideologia. Lisboa: Dinossauro,
1994.
APPIAH,
Kwame Anthony. Na casa de meu pai: a
África na filosofia da cultura. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
BARBOSA,
Muryatan Santana. Eurocentrismo, História e História da África. In Sankofa. Revista de História da África e de
Estudos da Diáspora Africana, Nº 1, jun./2008, pp. 47-63.
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO,
Gianfranco. Dicionário de política. 11. Ed., vol I. Brasília: UNB, 1998.
BRITO, Gláucia da Silva; PURIFICAÇÃO, Ivonélia. Educação
e Novas Tecnologias. Curitiba:
IBPEX, 2006.
BRUNELO, Leandro (Org.). Ensino de História e Movimentos Sociais: problematizações, métodos e linguagens.
Maringá/PR: UEM, 2016
CARTIER,
Michel. Império (Enciclopédia Einaudi, 14). Lisboa: INCM, 1989, pp. 318-329.
FERNANDES, Florestan. O que é revolução. São Paulo: Brasiliense, 1984.
FERRO,
Marc. Cinema e história. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1992.
GOMES,
Alessandro Martins. Santo Agostinho e Platão: críticas à poesia. In: SALÃO DE
PESQUISA DA FACULDADES EST, 13, 2014, São Leopoldo. Anais...São Leopoldo:
Escola Superior de Teologia, 2014.
GOMES, Mônica Cordovil de Oliveira; GOMES,
Alessandro Martins. O uso das TIC’s no ensino de História. Simpósio Internacional de Educação a Distância & Encontro de
Pesquisadores de Educação a Distância, São Carlos/SP, UFSCAR, 2016, pp.
1-11.
GONZALEZ, Rey, F. L. A pesquisa e o tema da
subjetividade em educação. Psicologia da
Educação, 13, 2001, pp. 9-15.
GRAMSCI, A. Quaderni
del carcere. Edição crítica de Valentino Gerratana. Turim: Einaudi, 1977.
HERÓDOTO, Histórias,
Livro IV, XLV.
HOBSBAWM, Eric.
A era das revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
______. Da história social à história da sociedade.
In: Sobre História. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998.
INSTITUTO de Gestão do Fundo Social Europeu. Sociedade de Informação. Acedido em 20
de fevereiro de 2017, em http://www.igfse.pt/st_glossario.asp?startAt=2&categoryID=314&newsID=1865&offset=0
IPÓLITO, Verônica Karina. Música e revolução: notas sobre a resistência cultural na
MPB, o regime militar no Brasil e o ensino de história. In:
BRUNELO, Leandro (Org.). Ensino de
História e Movimentos Sociais: problematizações, métodos e linguagens. Maringá/PR:
UEM, 2016, p. 16-46.
LAGNY, Michèle. Cine y historia: problemas y métodos en la investigación
cinematográfica. Barcelona: Bosch, 1997.
MARTINS, Gelise Cristine Once. O estudo dos
Movimentos Sociais. Revista Espaço
Acadêmico, n. 132, Ano XI, maio
de 2012.
NOVA,
Cristiane. O cinema e o conhecimento da História. O Olho da História, n. 3, dez.
1996. Disponível em: < http://oolhodahistoria.ufba.br/numero-3/>.
PLATÃO. A
República. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995.
QUIJANO,
Anibal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y America Latina. In: Lander,
Edgardo (Coord.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y
ciencias sociales. Buenos Aires:
CLACSO, 2000.
ROMERO, Zeus Moreno. Reflexões sobre o conceito de
revolução no ensino de história. In: BRUNELO, Leandro (Org.). Ensino de História e Movimentos Sociais:
problematizações, métodos e linguagens. Maringá/PR: UEM, 2016, p. 122-153.
ROSSI, Clóvis. A
contrarrevolução na América Latina.
São Paulo: Atual, 1994.
SAID,
Edward W. Orientalismo: o Oriente
como invenção do Ocidente.
São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
SANTO AGOSTINHO. A Cidade de Deus (Contra os pagãos). Partes I e II. 2a ed. Tradução
de Oscar Paes Leme. Petrópolis: Vozes, 1990.
SILVA, Célia Maria Taborda. Dos “antigos” aos
“novos” movimentos sociais. VII
Congresso Português de Sociologia, Universidade do Porto, Faculdade de
Letras, Junho de 2012.
SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009.
SILVA, Neemias Oliveira da. Movimentos sociais
contemporâneos e suas representações na literatura africana: trajetórias e
singularidades no ensino de História. In: BRUNELO, Leandro (Org.). Ensino de História e Movimentos Sociais:
problematizações, métodos e linguagens. Maringá/PR: UEM, 2016, p. 47-74.
SIMIONATTO, I. Classes subalternas, lutas de classe
e hegemonia: uma abordagem gramsciana. Revista
Katál, Florianópolis, v. 12 n. 1
p. 41-49 jan./jun. 2009.
VALIM, Alexandre Busko. Cinema e História. In:
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Novos
Domínios da História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei das
flores (Caminhando). Intérprete: Geraldo Vandré. In: VANDRÉ, Geraldo. São
Paulo: Som Maior, p1968, 1 disco sonoro compacto simples, lado B.
VIEIRA, Fábia Magali
Santos. A utilização das Novas
Tecnologias na Educação numa Perspectiva Construtivista. 22ª
Superintendência Regional de Ensino de Montes Claros Núcleo de Tecnologia
Educacional – MG7 – ProInfo – MEC. Disponível em: <http://www.proinfo.gov.br/upload/biblioteca/191.pdf>.
Acesso em: 15 fev 2017.
Bom dia! Como podemos trabalhar as midias sociais e recursos tecnologicos nas escolas com pouco ou nenhum recursos?
ResponderExcluirBom dia Benedito! Você quis dizer sem recursos na escola? Eu entendi nesse sentido. Se for, pode fazer gravações, por ex, de vídeos do youtube e passar através de tv na escola. Podes usar mídias mais conhecidas com cd e dvd, pelo menos para iniciar até ter uma estrutura melhor, o que me diz?
ResponderExcluirMonica Cordovil
RESPOSTAS DO SIMPÓSIO (PERGUNTAS)
ResponderExcluir1. MOVIMENTOS SOCIAIS, ENSINO DE HISTÓRIA EL INGUAGENS:
Olá, colegas! Gostei muito do texto de vocês dois. Pesquiso a respeito da construção de significados sobre movimentos sociais no âmbito do ensino de História escolar. Minha análise recai, inicialmente, sobre os livros didáticos, dos mais antigos aos mais atuais, aprovados pelo Programa Nacional dos Livros Didáticos.
Achei pertinente o que vocês escreveram quanto aos materiais disponíveis para trabalharmos movimentos sociais (e revoluções) no ensino de história. Mas, fiquei com uma dúvida quanto ao conceito.
Pareceu-me que a opção de vocês foi a de entender movimento social como uma promoção ou uma causa da luta de classes. Citaram Marx e Gramsci (apud SIMIONATTO, 2009).
Dito isso, para além de compreender os movimentos sociais, há outras abordagens sobre suas acepções conceituais que vocês possam indicar? Pergunto isso, pois compreendo que é forte em nossa formação as definições marxistas ou marxianas. Mas, careço ainda - e estou em processo de pesquisa - de mais diálogos com outras definições e conceitos mais amplos.
Agradeço toda a atenção.
Guilherme Nogueira Magalhães Muzulon
Oi Guilherme tudo bem?
ResponderExcluirNossa abordagem realmente é no sentido da luta de classes. Citamos Karl Marx e Friedrich Engels, pois foram os primeiros a usarem o termos para designar esse conflito entre as classes privilegiadas e as classes inferiores, o qual sempre foi o agente causador das grandes revoluções da história.
Leia também a obra que está na referência, de Simionatto [2009], que se encontra em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/view/S1414-49802009000100006/10236
Leia também:
COUTINHO, C. N. O conceito de política nos Cadernos do
Cárcere. In: COUTINHO, C. N.; TEIXEIRA, A. de P. (Org.).
Ler Gramsci, entender a realidade. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003, p. 67-82.
BUTTIGIEG, J. Educação e hegemonia. In: COUTINHO, C.
N.; TEIXEIRA, A. de P. (Org.). Ler Gramsci, entender a
realidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p.
39-50.
LIGUORI, G. Estado e sociedade civil: entender Gramsci
para entender a realidade. In: COUTINHO, C. N.;
TEIXEIRA, A. de P. (Org.). Ler Gramsci, entender a
realidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p.
173-188.
LIGUORI, G. Roteiros para Gramsci. Tradução de Luiz
sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2007.
Saudações caro colega Alessandro Gomes!
ResponderExcluirMuito bom reencontrar-te aqui.
Sabes que nossas leituras sobre IPÓLITO, são sempre proveitosas no que tange as músicas de protesto e seus usos na promoção da insurgência e "revolução" dos movimentos sociais.
Dito isto Alessandro, tenho algumas inquietações, dentre elas, gostaria que você me esclarecesse como vês algumas canções de protesto no Brasil, que embutiram em sua composição ideias revolucionárias? Conseguistes mapear ou analisar o uso de canções como "para não dizer que falei das flores" e "cálice", no ensino de História das Revoluções e período Ditatorial do Brasil?
Agradeço desde já tuas contribuições e assertivas.
Cordialmente, Wilverson Rodrigo Silva de Melo.
Oi Wilverson tudo bem?
ExcluirPodemos ainda citar muitas músicas que serviram de protesto ao período militar no Brasil.
Mas cito aqui uma que gosto muito, "Apesar de Você", de Chico Buarque, que junto com Vandré se tornou um dos artistas mais perseguidos pela ditadura.
A letra fala implicitamente contra o ditador Médici, e, logo que perceberam a intenção verdadeira da letra a música foi proibida.
Abraços,
Monica Cordovil
Oi Wilverson, que bom encontrar-te, sim utilizei essa canção em minha pesquisa, pois a música faz parte da sociedade e, não é difícil identificar que a maioria das mudanças e rupturas na história da sociedade veio através de grandes movimentos sociais coletivos, os quais na maioria das vezes antecederam as grandes revoluções.
ResponderExcluirAgora pergunto: Será que a música teria força para romper com a ditadura? Será que a censura bloqueou esse movimento?
Não sozinha. Mas fez parte de um grande movimento e manifestações em 1968 contra o regime do governo, que claro, queria mostrar revolta diante disso. Mas mesmo Geraldo Vandré tendo que fugir do país por perseguição, com certeza, sua música de letra fácil não saiu dos manifestos, sendo até hoje lembrada.
A música Cálice de Chico Buarque também segue a mesma linha, cheia de metáforas tentando mostrar a revolta contra o quadro social que mergulhava o Brasil, a tristeza do sangue derramada de tantas pessoas que foram vítimas de tortura e, inclusive claro, denunciando a censura, e muitas outras coisas que estão embutidas nessa letra.
Abraços
Alessandro
Bom dia. Professor, como as lutas de classes moveram as grandes mudanças n história da humanidade, hoje vejo que apesar das lutas poucas coisas são alteradas?Será se as pessoas seguem a risca os pensamentos de Karl Marx e Friendrich Engels?
ResponderExcluirLayana Márcia Carvalho Pereira
Layana Márcia Carvalho Pereira
ResponderExcluirBom dia. Será se os professores de história poderão utilizar ferramentas para ensinar alunos a serem sujeitos capazes de mudar a sua realidade e de outras pessoas?
Oi Layana, sempre há como mudar, é preciso buscar, estudar e trazer novas estratégias para a sala de aula!
ExcluirMonica
boa tarde. Sabemos que existe ainda ´professores que abordam o ensino tradicional. Como podemos mudar esses professores a serem mediadores de conhecimento , onde o mesmo que ensina aprende?
ResponderExcluirLayana Márcia Carvalho Pereira