Nathalia Entringer Lorencini dos Santos e Wendel Jorge Rocha Fernandes


INFLUÊNCIAS VARGUISTAS NO ENTENDIMENTO DA MÍDIA


Visando o ensino da História por meio de imagens, músicas e outras formas de apresentação e representação da história, abordaremos neste projeto a relação entre social e o político, por meio da arte, quando usada de forma atraente para o governo de Getúlio Vargas, por meio da tecnologia da Radiodifusão; caminhando para o desaparecimento de fronteiras entre o que é fantasiado e a realidade, resultando em uma conquista em massa.
 
Durante o Estado Novo (1937- 1945 - governo de Getúlio Vargas) havia a necessidade de consolidação do Estado Nacional de forma que as questões relativas à cultura e identidade nacionais se tornaram o foco principal da questão de unidade nacional.

A Propaganda foi um meio viável para uma consolidação de unidade nacional por vias populares, tendo em vista a vasta extensão territorial e continental, sendo precárias as redes viárias entre outras, e considerando também o alto índice de analfabetismo, impossibilitando a leitura; a propaganda por meio da radiodifusão traz esse alcance pretendido e visado pelo regime getulista. Por meio do programa de rádio “ Hora do Brasil” havia essa comunicação com as áreas mais distantes. Com a criação do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), eram controladas a entrada de publicações que fossem “nocivas” aos brasileiros, seja do cinema, teatro, rádio e imprensa, e com isso muitas músicas e programas foram vetados pelo DIP.


Fig.1
Getúlio Vargas era do rádio

A Forma da Voz que Forma o Governo.
Quando a escrita era a melhor forma de divulgar uma informação, as casas brasileiras (em geral) tinham em suas salas de convivência: obras de arte, imagens da família em tamanho grande e/ou imagens de santos (normalmente católicos) posto no centro e em evidência para todos que entravam no estabelecimento. Com a chegada do rádio essas artes, imagens e santos perderam seu lugar de destaque e centralidade, nas casas, para que as famílias sentassem ao redor do aparelho radio difusor na hora de mais um capítulo de uma novela ou programas humorísticos. Nos anos 1940 a rádio foi a melhor fonte de informação que o brasileiro tinha acesso por ser uma comunicação oral e “virtualmente” distribuída de forma gratuita. Tento alcance nacional acabou vencendo a escrita que exigia o mínimo de intelectualidade e a distância que exigia recursos.

A linguagem e as técnicas de transmissão de conteúdo auditivo criaram maneiras características de chamar a atenção e “passar” ou “dar a entender” uma credibilidade, ou seja, as notícias tinham que ser entendidas como verdadeiras. Como as pessoas não podiam estar presentas nos acontecimentos era necessário que o repórter usasse elementos e recursos de voz e de sons para que quem ouvisse entendesse que o que aconteceu havia realmente acontecido de fato. Uma voz “fraca” ou um tom de sarcasmo acabaria fazendo com que as pessoas achassem que a notícia é falsa. Mas...

“Durante muitos anos a radionovela causou enormes comoções sociais, exemplo clássico aconteceu em 1938 nos Estados Unidos da América, onde o locutor Orson Welles narrou, usando somente sons e silêncios sob a forma de uma cobertura jornalística, a invasão de marcianos em The War of the Wolrds, baseado no livro de H.G.Wells, de 1898, assustando todos os americanos. Muitos dependiam de rádio e acreditavam piamente na programação radiofônica, assim acreditaram que o planeta terra estava sendo realmente invadida por marcianos”. [Apostila – Rádio na Escola, pg:11]

Com esse acontecimento podemos notar a grande adesão ao rádio e seu poder de convencimento. Uma coisa que foi criada no rádio e que funciona nas tvs até hoje são as vinhetas que servem para identificar um programa ou um locutor. Hoje em dia podemos mencionar o som: “plin-plin”, quando aparece o símbolo da rede globo ou quando toca uma música mais agitada e todos na sala param de conversar por que tem uma notícia de última hora e importante que vai começar.

Essas estruturas e linguagens geraram ao longo dos anos um “passo a passo” que a propaganda utiliza muito bem, quando quer chamar a atenção para um determinado produto ou te convencer de alguma coisa. Getúlio Vargas, utilizou-se muito bem da comunicação para difundir o Nacionalismo (em sua época) e censurar possíveis ameaças contra a ideologia aplicada por ele. Nenhuma matéria jornalística é puramente imparcial, é impossível construir uma notícia que não tenha um ponto de vista ou não tenha alguma tendência. Vargas deu uma direção aos radialistas com a criação do DIP (departamento de Imprensa e propaganda) Getúlio conseguia dar maior visibilidade ao Brasil no mundo e impedir quem fosse contrário, além de limitar o acesso a informações por parte dos jornalistas e da população.
Já que o rádio só lida com um dos 5 sentidos, o locutor tem o trabalho de passar a imagem, o cheiro e o sabor pelo som. Ele deve utilizar de artifícios linguísticos para mexer com a imaginação do ouvinte. No caso de manipular uma informação fica muito mais fácil, podemos ser traídos por nossos ouvidos (quando pensamos ouvir o barulho do mar e na verdade era só o chiado da televisão ou o som de uma moto que na verdade era uma serra elétrica que faz um som parecido). No caso da época de Getúlio Vargas o rádio era o melhor veículo para mostrar que o Brasil estava indo muito bem em seus avanços.

Conclusão.
E como visto anteriormente, aquilo que ouvimos pode nos convencer de algo quando não temos os outros pontos a respeito do fato. A partir desse breve estudo levamos a seguinte questão à reflexão sobre o que nos é apresentado diariamente, seja nas escolas, faculdades, ou mesmo no dia a dia em um simples bate papo; qual é a história ou a narrativa que mais se aproxima do fato em si? E para essa pergunta, acredito que a melhor resposta seria um afastamento do fato para um olhar mais puro, fora de influências que acabam por nos cegar. E mais, para um historiador, quanto mais tempo passado do fato, mais neutro ele se torna; pois nos dias atuais tem-se diversas notícias circulando concomitante ao evento ou fato ocorrido, isso por meio das mídias, gerando uma carga de informações por vezes distorcidas, ou mesmo “manipuladas”.

O ensino da História requer apresentação dos fatos, mas de maneira com que sejam abordadas e apresentadas todas as linhas historiográficas possíveis, de forma que isso sirva como base para uma escolha do sujeito ou mesmo para uma demonstração verdadeira das facetas da historiografia, pois a História é única, o fato em si. E da mesma forma como a escrita pode apresentar diversas visões sobre um fato, a música, o rádio, as propagandas e o cinema também podem ser tendenciosos, pois, neutralidade não há.

Referências:
Nathalia Entringer Lorencini dos Santos é graduanda em História pela Universidade Católica de Petrópolis. Pesquisadora bolsista CNPq na área de Hermenêutica e História das Ideias Metafísicas: Ideia de Finalidade, da Filosofia Antiga ao Idealismo Alemão; e, atualmente, Tecnologia e Visão Científica de Mundo: Perspectivas em Ontologia e Ética Contemporâneas com a Coordenação do Prof. Doutor Thiago Leite Cabrera Pereira da Rosa. Atuando pela mesma universidade, como pesquisadora voluntária, nas áreas de filosofia medieval, e, direitos humanos e retórica. Integrante do Núcleo de História e Memória Institucional da UCP.

Wendel J. R. Fernandes é graduando em filosofia pela Universidade Católica de Petrópolis. Atua pela mesma universidade como voluntário no grupo de observatório de História, Educação e Cultura [HECO] Coordenado pelo Prof. Doutor Carlos Eduardo Rebuá Oliveira e como bolsista, pela Fundação Dom Cintra, na Pesquisa Tecnologia e Visão Científica de Mundo: Perspectivas em Ontologia e Ética Contemporâneas, Projeto da Linha de Pesquisa História das Ideias Metafísicas pertencente ao Grupo de Estudos em Filosofia Hermenêutica e História as Ideias Filosóficas com a Coordenação do Prof. Doutor Thiago Leite Cabrera Pereira da Rosa. Formado em Técnico em Comunicação Social pelo Colégio Estadual Dom Pedro II.

SANTOS, Raphael Alario dos. Rádio na Escola, 2010.


FAUSTO, Boris & FAUSTO, Sérgio. História do Brasil – 14.ed. São Paulo; Editora da Universidade de São Paulo, 2015.

VICENTE, Eduardo. MÚSICA POPULAR E PRODUÇÃO INTELECTUAL NOS ANOS 40. Disponível em: http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/66.pdf, 2018.

8 comentários:

  1. Boa tarde Nathalia e Wendel,

    O distanciamento do período histórico garante neutralidade? Ou o historiador desenvolverá uma análise de um fato do passado a partir de seu próprio tempo, carregado com seus valores específicos?

    Maicon Roberto Poli de Aguiar

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    1. Olá Maicon Roberto Poli de Aguiar, esse distanciamento serve como um “ver fora da caixa”, mas não quer dizer que essa visada distante seja neutra, ainda podemos estar dentro de uma caixa olhando pelo lado de fora de outra caixa. Esse distanciamento permite que nossos hábitos, pensamentos e o próprio conhecimento sejam diferentes dos que o período histórico tinha, contudo, carregamos no momento presente perguntas que jamais foram pensadas por qualquer outro anterior a nossa época, construímos uma nova visão de mundo que vai deixar muito do “mundo antigo” para trás. O importante para a análise e para o conhecimento é saber utilizar o máximo do passado trazendo um conhecimento novo para o momento presente, tomamos como referência (pela fama) Immanuel Kant que foi um grande conciliador da filosofia antiga trazendo um avanço no conhecimento filosófico que estudamos e recuperamos até hoje. Obrigado pela pergunta e espero ter respondido de forma coerente!

      Wendel Jorge Rocha Fernandes

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  2. Olá Nathalia e Wendel, inicialmente parabéns pelo texto e obrigado por compartilhar suas perspectivas e vivências com o tema! Por coincidência estou trabalhando com a Era Vargas e decidi trabalhar com cordel... Lendo o texto de vocês percebi que há uma forte tendência a ver o radio como ponto de partida de inovação e modernidade. É possível se considerar, na perspectiva de vocês que, a forte propaganda governamental varguista favoreceu a disseminação dos princípios populistas de seu governo?

    Jefferson Fernandes de Aquino

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    1. Olá, professor Jeferson Fernandes.
      Do ponto de vista da tecnologia e da filosofia que conflitam o olha para o ser humano que está em constante mudança, a comunicação radiofônica modificou as relações, os comportamentos e o modo de ser do homem, assim, como a internet tem modificado nossas formas de ver o mundo nos dias atuais. Se entendermos a inovação e a modernidade, principalmente, como modificações das relações humanas, podemos sim, dizer que o rádio foi um grande ponto de partida. Lembrando que o rádio ainda é uma ferramenta que, mesmo modificando o ser humano, é modificada pelo próprio ser humano e é onde Getúlio Vargas entra como quem usa a ferramenta que se revela para ele como meio para um fim. Essa nova comunicação é inovadora e também é inovada, como o martelo que aparece para o sujeito (dasen) - citando Heidegger, no livro Ser e Tempo - o martelo (assim como o rádio) aparece como possibilidade, mas não está contido nele sua finalidade de martelar e é o ser humano que exerce e dá esse sentido ao martelo. O período varguista conquistou um uso do rádio que os próprios inventores do aparelho talvez não tinham pensado.

      Obrigado pela Pergunta.

      Wendel Jorge Rocha Fernandes.

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  3. Boa tarde!
    Parabéns pelo texto!
    Meu TCC de Licenciatura em História tem o Estado Novo como tema e a cobertura da imprensa como fundamento. Não necessariamente o rádio, mas a cobertura da imprensa é destacada no meu trabalho.
    Nas minhas pesquisas constatei a firme presença do DIP no controle da opinião pública. No entanto, o rádio talvez tenha sido o mais difícil de controlar por suas características de imediatismo de informação.
    As pesquisas sobre este período sofrem alguma dificuldade com relação às fontes especificamente quanto às transmissões de rádio? O controle realizado pelo DIP permitiu alguma brecha para transmissões contrárias aos interesses estadonovistas?

    Ary Luiz Paes Alves

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    1. Olá, Ary Luiz Paes Alves.
      Falando de um ponto de vista técnico e voltado para a produção de conteúdo de mídia, existem várias formas de manipular a informação. Na pesquisa de opinião pública, por exemplo, se um jornalista precisa dizer que o governo Vargas é bom e no momento da entrevista com a população ele entrevista 5 pessoas que são a favor e 7 que são contra, na hora de exibir essa informação basta que o repórter ou o editor retire 3 entrevistas contrárias ao governo para que se obtenha uma maioria a favor (esse tipo de exemplo pode ser usado para qualquer mídia e em qualquer época). Um momento em que a mídia pode perder o controle é na transmissão ao vivo de alguma informação (como vemos até hoje) quando a informação é imediata e o direito de fala não está com um profissional da informação, é bem possível que exista uma brecha onde a manipulação não tem muito controle e em mensagens subliminares como faziam nas músicas da ditadura militar, mas ainda assim, são muito poucas as brechas onde não haja manipulação.

      Obrigado pela Pergunta.

      Nathalia Estringer Lorencini dos Santos & Wendel Jorge Rocha Fernandes.

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  4. O Departamento de Imprensa e Propaganda teve papel fundamental na manutenção do governo varguista de tal modo que é possível perceber que o final do Estado Novo, quando há o arrefecimento da censura, as críticas da imprensa passam a ser um grande fator de desestabilização do governo. É justamente este órgão que controla a veiculação de imagens, sons, notícias e manifestações artísticas um dos grandes responsáveis pela consolidação da imagem de Getúlio enquanto grande defensor das classes populares e analogias deste tipo. Creio que etse tipo de situação seja frutífero para pensarmos de que modo se constroem os símbolos e representações, e quais forças estão envolvidas nas informações a que temos acesso.
    Acredito que o texto de vocês tem um proposta de trabalhar justamente esta faceta do passado autoritário do Estado Novo que é tão importante para que possamos pensar criticamente o presente e as informações que o constituem e engendram.

    Carolina Boschi Monteiro

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  5. Obrigado Carolina Boschi Monteiro,
    É importante saber do uso da mídia como ferramenta de informação, mas enquanto produtora a mídia (de uma forma geral) é um tipo de hegemonia subsistente que permanece e precisa resistir enquanto outras hegemonias caem ou erguem-se. A ferramenta radiofônica que foi tão importante para o governo Vargas também narrou seu suicídio, quem trabalha dependendo de um poder maior que o seu, como é o caso da mídia, é necessário que ela saiba pressionar sem apertar e afrouxar sem soltar na medida em que os acontecimentos desenrolam a mídia é um dos poucos veículos que precisam estar “pré-prontos” para qualquer coisa que possa acontecer.

    Obrigado pelo seu comentário.

    Nathalia Estringer Lorencini dos Santos & Wendel Jorge Rocha Fernandes.

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