Nathália Machado Freire de Arruda


IMAGEM E ENSINO DE HISTÓRIA: UM OLHAR SOBRE O EGITO


Este trabalho busca fazer uma relação entre a metodologia de ensino de imagens com o ensino de história, sobre tudo com relação à civilização egípcia e como essa ferramenta pode auxiliar no ensino de história. 

Utilizar a analise de imagens em sala de aula nos fornece diferentes interpretações da história, além de apresentar uma grande riqueza de informações e detalhes. Possibilitando o professor a utilizar imagens como fontes históricas, trabalhando em conjunto com outras matérias que servirão de auxilio ao entendimento das mesmas.

Voltando-nos para o ensino de História Antiga vemos a relevância de este período ser estudado, pois é de extrema importância para a formação do individuo além de contribuir para a construção de conhecimentos significativos.  Serraze (2014) firma isso quando diz que está área do conhecimento tem muito a contribuir para o conhecimento dos indivíduos, pois permite compreender as transformações socioeconômicas, políticas e culturais que estamos vivenciando, desenvolver valores e construir identidades.

No que se refere ao ensino de história devemos levar em consideração que não podemos nos limitar a um enfoque meramente disciplinar, Jonas Roque Ribeiro (2013) fala que estudar o passado significa fazer referencia às múltiplas existências dos seres humanos no tempo, atravessado por um conjunto de conhecimentos e aspectos que não podem ser ignorados.

“Estudar a experiência humana não pode se limitar à história político-administrativa, das guerras ou da economia. É preciso considerar o pensamento simbólico tão caro à antropologia, assim como o significado das festas, dos rituais e de suas produções artísticas.” (RIBEIRO, 2013. Pag.3)

 Funari (2007) afirma que a História, em especial a Antiga, não se faz apenas com documentos escritos, mas também com a cultura material, com o estudo arqueológico de edifícios, estátuas, cerâmicas, pinturas, entre outras categorias de artefatos. Fazendo uso da analise de imagens podemos trabalhar vários desses aspectos ao mesmo tempo. É seguindo esta linha de pensamento de analisar as produções artísticas, as festas e os rituais de uma civilização, para conhecer mais a mesma que, analisar os registros desses acontecimentos juntos com os alunos possibilita uma maior compreensão sobre o povo que esta sendo estudado.

Trazer esta nova abordagem para a sala de aula é uma alternativa para despertar nos alunos o interesse pelo que esta sendo trabalhado em sala, pós como professores temos a consciência de que alguns alunos não tem interesse em estudar  as antigas civilizações, pois as consideram muito distante do seu cotidiano, por isso acabam tendo pouco interesse pelo assunto.  Utilizando essa abordagem da analise de imagem na sala de aula faz com que a aula fique mais lúdica e estimule o interesse dos discentes no assunto trabalhado.

Ao optarmos por utilizar esta metodologia em sala de aula, devemos ter a consciência e o cuidado para que a imagem seja utilizada como forma de conhecimento e aprendizagem, e não meramente de enfeitei, sem ser devidamente explorada. Lits (2009) fala que qualquer imagem tem que ser bem utilizada e explorada da melhor forma possível, e quando necessário fazer a utilização de textos, dessa forma, se constituirá em uma autêntica fonte de informação, de pesquisa e de conhecimento, a partir do qual o aluno pode perceber diferenças e semelhanças entre épocas, culturas e lugares distintos.

A autora ainda afirma que o uso de imagens em sala de aula, é uma das formas mais eficazes, utilizadas como recurso pedagógico, no ensino de história para incrementar o processo de aprendizagem, já que sua utilização possibilita uma forma de interpretação da história, em determinados períodos ou épocas, vistos que tem uma maior riqueza de informações e uma grande quantidade de detalhes.

Com relação ao Egito, temos um bom acervo de materiais, que podem ser facilmente encontrados na internet, uma vez que os mesmo faziam uso de diversos suportes para registrar sua história. Emanuel Araujo, autor do livro ‘Escrito pra a eternidade’, nos diz que:
“Para escrever seus textos os egípcios utilizavam diversos suportes. Um dos mais conhecidos é a superfície de paredes, colunas e portas dos templos e túmulos, onde se encontram narrados os feitos dos soberanos, mas também um grande numero de autobiografias e matéria religiosa.” ( Araujo, 2000, p. 28)

Quando estudamos a arte egípcia encontramos uma padronização, chamado de Cânones, que segundo Araujo nada mais é do que o conjunto de normas especiais, regras, modelo e padrões que deveriam ser repetidos nas obras.  Portanto, vemos que não havia alterações no estilo, Silva (2006) afirma que é devido a essa padronização que nos deparamos frequentemente com a repetição de dois temas, cotidiano e religioso, além de observamos que os desenhos eram feitos em construções bidimensionais.

Acerca dos padrões e regras na arte egípcia, Gombrich (1999) diz que:
“Os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres; a aparência de cada deus egípcio era rigorosamente estabelecida. Hórus, o deus-céu, tinha que ser apresentado como um falcão ou com uma cabeça de falcão; Anúbis, o deus dos ritos funerais, como um chacal ou com uma cabeça de chacal.” (GOMBRICH, 1999, p. 65).

Silva aborda algumas características presente na arte egípcia de vido a essa padronização:
“Os olhos e o torso nunca estão de perfil, já os membros superiores e inferiores são colocados de perfil “deformando” a lógica da observação natural da figura. As estátuas são esculpidas como “um todo”, deixando os membros “colados” ao corpo; Para representar duas ou mais pessoas organizava-se uma relação de posição social, quem fosse “mais importante” seria representado maior e à direita do subsequente.” (SILVA, 2002, p.32).

Emanuel Araujo complementa falando sobre as cores da arte egípcia, onde ele diz que :
“Obtinha-se uma variada gama de cores com o preto do carvão, o branco do cal, o ocre vermelho (rico em hematita), o ocre amarelo ( rico em limonita), o verde da malaquita e o azul da azurita ou um composto de silício, cobre e cálcio.” ( ARAUJO, 2000, p. 31)

Podemos encontrar nas imagens abaixo, as características citadas à cima por Gombrich, Silva e Araujo.



Fig.1

Nesta imagem da capela Funerária de Nebamun, podemos visualizar o Faraó com sua mulher e filha no rio Nilo, nesta cena o mesmo está caçando as aves selvagens com o auxílio do seu gato e fazendo uso de um bastão para realizar a tarefa, enquanto sua filha esta pegando uma flor de lótus. Podemos ver  um dos temas que são frequentes nessa arte, essa imagem retrata o cotidiano.

Podemos trabalhar as regras citadas a cima, e ver que o Faraó   Nebamun por sua relevância na hierarquia esta  representado no  centro e maior que as demais pessoas presentes na imagem. Encontramos também a questão do tom de pele: o homem tem um tom mais escuro que as mulheres, como podemos perceber na gravura a cima. Podemos também ter um visão perfeito de como os corpos eram representados nos seus melhores ângulos, dando uma impressão de deformidade.

Já a próxima imagem, que vamos analisar é voltada pra o outro tema bastante frequente que é o tema religioso, podemos ver na representação à baixo a cena de uma moça de pé orando diante do deus Rá, que esta sentado em seu trono. Podemos observar a questão das representações dos deuses, que segundo Gombrich, era rigorosamente pré-estabelecida, além da questão da representação das pessoas, onde novamente encontramos a questão do tamanho ligado a hierarquia.


Fig.2

Vemos logo no inicio deste texto que o professor encontra milhares de barreiras para passar o assunto para os alunos e para fazer os mesmo se interessarem por o conteúdo que está sendo trabalhado. Existem varias ferramentas para deixar a aula mais dinâmica e interessante para os docentes, como a utilização de filmes, de jogos, de revistas em quadrinho, neste trabalho temos como ferramenta a analise de imagens.

Ao levar esta metodologia para a sala de aula, podemos propor para o docente a fazer essa analise junto com o professor, a buscar reconhecer os elementos presentes na imagem. Assim o mesmo acaba aprendendo mais sobre essa civilização de uma forma diferente e com mais detalhes, saindo do padrão de associar o Egito somente as pirâmides. Podem ser realizadas atividades com os mesmo para que escolham imagens e tentem fazer só essa analise, com o conhecimento prévio das aulas. Assim os docentes acabam tendo um contato maior com o assunto, fazendo o assunto se tornar mais concreto e saindo do imaginário do mesmo.

Referencias
Nathália Machado Freire de Arruda, Graduanda licenciatura em História pela Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Mata Norte. Integrante do Grupo de pesquisa Leitorado Antiguo: grupo de ensino, pesquisa e Extensão em História Antiga (UPE).

Capela Funerária de Nebamun. British Museum, London. In
Estela funerária de Taeshert. Museu Arqueológico Nacional de España. In
ARAÚJO, Emanuel (org.). Escrito para a Eternidade: a literatura no Egito Faraônico. Brasília: Editora da Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa oficial do Estado, 2000.
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem / Peter Burke; tradução Vera Maria Xavier dos Santos; revisão técnica Daniel Aarão Reis Filho. – Bauro, SP: EDUSC, 2004.
GOMBRICH, Ernst H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas - 5. ed. São Paulo : Contexto, 2007.
LITS, Valesca Giordano. O uso da imagem no ensino de história. Curitiba, 2009. Disponível em < http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1402-6.pdf>
RIBEIRO, Jonatas Roque. História e ensino de História: Perspectivas e abordagens. Educação em Foco, Edição nº: 07, Mês / Ano: 09/2013.
SILVA, Rita Tatiana. Do cânone à criação: A simbologia usada na representação do Faraó Akhenaton. São Paulo, 2006. Disponível em: < http://livros01.livrosgratis.com.br/ea000416.pdf >
SERRAZES, Karina Elizabeth. Fundamentos e métodos do ensino de História: algumas reflexões sobre a prática. In: XXII ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA, 1., 2014, São Paulo. Anais do XXII Encontro Estadual de História da ANPUH-SP. São Paulo: ANPUH, 2014.
KNAUSS, Paulo. O desafio de fazer história com imagens: Arte e cultura visual. João Pessoa, 2005. Disponível em: < http://www.artcultura.inhis.ufu.br/PDF12/ArtCultura%2012_knauss.pdf >



8 comentários:

  1. Paula Alessandra Ribeiro Rodrigues9 de abril de 2018 às 09:08

    Olá! Realmente é uma tarefa complicada fazer com que os alunos se interessem pela Antiguidade, que parece tão longínqua e abstrata. No entanto, ferramentas como o uso de imagens conforme ressaltado no texto, podem ser valiosas nesta leitura histórica. No entanto, fazer a análise de imagens e outras fontes históricas em sala de aula, e traduzi-las para os alunos, exige certo preparo do professor. Não conheço material didático que faça essa leitura das imagens de forma crítica, mas de forma geral, as utilizam como mera ilustração. Você conhece algum material que realize este tipo de análise?

    Paula Alessandra Ribeiro Rodrigues

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Ola paula, nao conheço nenhum livro didático que faca essa análise de imagem, a maioria utiliza como mera ilustração. Mas existem textos como o de Lits que auxilia o professor a fazer a análise de imagem, mostrando o que analisar nas imagens e como fazer.

      Att,
      Nathália Machado Freire de Arruda

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  2. Olá, Nathália, parabéns pelo artigo. É importante sim que o docente faça uma aproximação dos alunos com o conteúdo estudado. No caso do Egito Antigo, esse processo é facilitado pelo uso de imagens, como tratado no texto. Então, pergunto: que exemplos podem ser citados de semelhanças (e diferenças) entre aspectos da sociedade egípcia e da sociedade brasileira atual que o professor pode apontar aos alunos por meio da apresentação e análise de imagens? Que elementos podem ser abordados para aproximar a realidade cotidiana dos alunos e o cotidiano da sociedade egípcia? Temas como questão de gênero, representação social, lutas e resistências de "classes" podem ser úteis ao ensino de História do Egito Antigo em sala de aula por meio de imagens?
    Obrigado.
    Até.

    Daniel Roberto Duarte Granetto.

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  3. Olá Daniel,podemos trabalhar imagens dos Deuses abordando a questão do politeísmo, fazendo relação com as religiões de matrzes africanas encontradas no Brasil. Alem de poder utilizar imagens do Egito Antigo, para trabalhar a questão da representação desta civilização em filmes, por exemplo, e desconstruir a ideia de Egípcios com padrões de beleza europeus.
    Podem ser trabalhada diversas questões, dependo do próprosito que o professor tenha. Podemos através das imagens mostrar elementos egípcios nas construções das cidades, ou das influências que temos, como por exemplo os obeliscos.

    Att,
    Nathália Machado Freire de Arruda

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  4. Nathália, olá novamente! Primeiramente, parabéns pelo texto, agora é minha vez de retribuir com um questionamento.

    Como nós duas trabalhamos com iconografia, consegui entender sua proposta. Você já teve contato com hieroglifos, mesmo que brevemente, e entendeu um pouco sobre a fora de escrita egípcia? Você acha que poderia ser passível de uso dentro de uma sala de aula?
    Particularmente não vejo problema em a primeira associação ao Egito serem as múmias/pirâmides, cada civilização tem seu grande marco (e aqui sabemos que também é um grande mistério), mas que tipo de material poderia ser utilizado para debater as grandes expedições, a ausência de metodologia nas primeiras explorações e o por que de outros países manterem um acervo egípcio tão distante de sua terra natal?

    Att.,
    Esther Salzman Castellano

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  5. Olá Nathália! Boa noite.
    Seu texto reafirma o grau de importância que as leituras imagéticas tem em relação a dinâmica de aprendizagem no ensino de história, que é possível e deve ser estimulada visto que a maioria das escolas brasileiras possuem meios tecnológicos que permitem ao professor de história trabalhar imagem em sala de aula. Um dos grandes equívocos recorrentes em aulas de história está justamente em aceitar as imagens estampadas nos livros didáticos como verdades absolutas ou apenas vê-las como complementos de confirmação aos textos do livro. Muitos dos docentes, talvez pelo peso em cumprir prazos deixam muitas vezes de analisar as imagens criticamente. Nesse contexto, gostaria de saber quais os cuidados a serem tomados pelos professores ao viabilizar o uso e analise de imagens (no caso do seu texto, egípcias) em sala de aula?

    Paulo Tiago Fontenele Cardoso

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