IMAGEM
E ENSINO DE HISTÓRIA: UM OLHAR SOBRE O EGITO
Este trabalho busca fazer uma relação entre a
metodologia de ensino de imagens com o ensino de história, sobre tudo com
relação à civilização egípcia e como essa ferramenta pode auxiliar no ensino de
história.
Utilizar a analise de imagens em sala de aula nos
fornece diferentes interpretações da história, além de apresentar uma grande
riqueza de informações e detalhes. Possibilitando o professor a utilizar
imagens como fontes históricas, trabalhando em conjunto com outras matérias que
servirão de auxilio ao entendimento das mesmas.
Voltando-nos para o ensino de História Antiga vemos a relevância
de este período ser estudado, pois é de extrema importância para a formação do
individuo além de contribuir para a construção de conhecimentos
significativos. Serraze (2014) firma
isso quando diz que está área do conhecimento tem muito a contribuir para o
conhecimento dos indivíduos, pois permite compreender as transformações
socioeconômicas, políticas e culturais que estamos vivenciando, desenvolver
valores e construir identidades.
No que se refere ao ensino de história devemos levar em
consideração que não podemos nos limitar a um enfoque meramente disciplinar,
Jonas Roque Ribeiro (2013) fala que estudar o passado significa fazer
referencia às múltiplas existências dos seres humanos no tempo, atravessado por
um conjunto de conhecimentos e aspectos que não podem ser ignorados.
“Estudar a experiência humana não pode se limitar à
história político-administrativa, das guerras ou da economia. É preciso
considerar o pensamento simbólico tão caro à antropologia, assim como o
significado das festas, dos rituais e de suas produções artísticas.” (RIBEIRO,
2013. Pag.3)
Funari (2007)
afirma que a História, em especial a Antiga, não se faz apenas com documentos
escritos, mas também com a cultura material, com o estudo arqueológico de
edifícios, estátuas, cerâmicas, pinturas, entre outras categorias de artefatos.
Fazendo uso da analise de imagens podemos trabalhar vários desses aspectos ao
mesmo tempo. É seguindo esta linha de pensamento de analisar as produções
artísticas, as festas e os rituais de uma civilização, para conhecer mais a
mesma que, analisar os registros desses acontecimentos juntos com os alunos
possibilita uma maior compreensão sobre o povo que esta sendo estudado.
Trazer esta nova abordagem para a sala de aula é uma
alternativa para despertar nos alunos o interesse pelo que esta sendo
trabalhado em sala, pós como professores temos a consciência de que alguns
alunos não tem interesse em estudar as
antigas civilizações, pois as consideram muito distante do seu cotidiano, por isso acabam tendo pouco
interesse pelo assunto. Utilizando essa
abordagem da analise de imagem na sala de aula faz com que a aula fique mais
lúdica e estimule o interesse dos discentes no assunto trabalhado.
Ao optarmos por utilizar esta metodologia em sala de
aula, devemos ter a consciência e o cuidado para que a imagem seja utilizada
como forma de conhecimento e aprendizagem, e não meramente de enfeitei,
sem ser devidamente explorada. Lits (2009) fala que qualquer imagem tem que ser
bem utilizada e explorada da melhor forma possível, e quando necessário fazer a
utilização de textos, dessa forma, se constituirá em uma autêntica fonte de
informação, de pesquisa e de conhecimento, a partir do qual o aluno pode
perceber diferenças e semelhanças entre épocas, culturas e lugares distintos.
A autora ainda afirma que o uso de imagens em sala de
aula, é uma das formas mais eficazes, utilizadas como recurso pedagógico, no
ensino de história para incrementar o processo de aprendizagem, já que sua
utilização possibilita uma forma de interpretação da história, em determinados
períodos ou épocas, vistos que tem uma maior riqueza de informações e uma
grande quantidade de detalhes.
Com relação ao Egito, temos um bom acervo de materiais,
que podem ser facilmente encontrados na internet, uma vez que os mesmo faziam
uso de diversos suportes para registrar sua história. Emanuel Araujo, autor do
livro ‘Escrito pra a eternidade’, nos diz que:
“Para escrever seus textos os egípcios utilizavam
diversos suportes. Um dos mais conhecidos é a superfície de paredes, colunas e
portas dos templos e túmulos, onde se encontram narrados os feitos dos
soberanos, mas também um grande numero de autobiografias e matéria religiosa.”
( Araujo, 2000, p. 28)
Quando estudamos a arte egípcia encontramos uma
padronização, chamado de Cânones, que segundo Araujo nada mais é do que o
conjunto de normas especiais, regras, modelo e padrões que deveriam ser
repetidos nas obras. Portanto, vemos que
não havia alterações no estilo, Silva (2006) afirma que é devido a essa
padronização que nos deparamos frequentemente com a repetição de dois temas, cotidiano
e religioso, além de observamos que os desenhos eram feitos em construções
bidimensionais.
Acerca dos padrões e regras na arte egípcia, Gombrich
(1999) diz que:
“Os homens eram sempre pintados com a pele mais escura
do que as mulheres; a aparência de cada deus egípcio era rigorosamente
estabelecida. Hórus, o deus-céu, tinha que ser apresentado como um falcão ou
com uma cabeça de falcão; Anúbis, o deus dos ritos funerais, como um chacal ou
com uma cabeça de chacal.” (GOMBRICH, 1999, p. 65).
Silva aborda algumas características presente na arte
egípcia de vido a essa padronização:
“Os olhos e o torso nunca estão de perfil, já os
membros superiores e inferiores são colocados de perfil “deformando” a lógica
da observação natural da figura. As estátuas são esculpidas como “um todo”,
deixando os membros “colados” ao corpo; Para representar duas ou mais pessoas
organizava-se uma relação de posição social, quem fosse “mais importante” seria
representado maior e à direita do subsequente.” (SILVA, 2002, p.32).
Emanuel Araujo complementa falando sobre as cores da
arte egípcia, onde ele diz que :
“Obtinha-se uma variada gama de cores com o preto do
carvão, o branco do cal, o ocre vermelho (rico em hematita), o ocre amarelo (
rico em limonita), o verde da malaquita e o azul da azurita ou um composto de
silício, cobre e cálcio.” ( ARAUJO, 2000, p. 31)
Podemos encontrar nas imagens abaixo, as
características citadas à cima por Gombrich, Silva e Araujo.
Fig.1
Nesta imagem da capela Funerária de Nebamun, podemos
visualizar o Faraó com sua mulher e filha no rio Nilo, nesta cena o mesmo está
caçando as aves selvagens com o auxílio do seu gato e fazendo uso de um bastão
para realizar a tarefa, enquanto sua filha esta pegando uma flor de lótus. Podemos
ver um dos temas que são frequentes
nessa arte, essa imagem retrata o cotidiano.
Podemos trabalhar as regras citadas a cima, e ver que o Faraó Nebamun por sua relevância na hierarquia esta
representado no centro e maior que as demais pessoas
presentes na imagem. Encontramos também a
questão do tom de pele: o homem tem um tom mais escuro que as mulheres, como
podemos perceber na gravura a cima. Podemos também ter um visão perfeito de
como os corpos eram representados nos seus melhores ângulos, dando uma
impressão de deformidade.
Já a próxima imagem, que vamos analisar é voltada pra o
outro tema bastante frequente que é o tema religioso, podemos ver na
representação à baixo a cena de uma moça de pé orando diante do deus Rá, que
esta sentado em seu trono. Podemos observar a questão das representações dos
deuses, que segundo Gombrich, era rigorosamente pré-estabelecida, além da
questão da representação das pessoas, onde novamente encontramos a questão do
tamanho ligado a hierarquia.
Fig.2
Vemos logo no inicio deste texto que o professor
encontra milhares de barreiras para passar o assunto para os alunos e para
fazer os mesmo se interessarem por o conteúdo que está sendo trabalhado.
Existem varias ferramentas para deixar a aula mais dinâmica e interessante para
os docentes, como a utilização de filmes, de jogos, de revistas em quadrinho,
neste trabalho temos como ferramenta a analise de imagens.
Ao levar esta metodologia para a sala de aula, podemos
propor para o docente a fazer essa analise junto com o professor, a buscar
reconhecer os elementos presentes na imagem. Assim o mesmo acaba aprendendo
mais sobre essa civilização de uma forma diferente e com mais detalhes, saindo
do padrão de associar o Egito somente as pirâmides. Podem ser realizadas
atividades com os mesmo para que escolham imagens e tentem fazer só essa
analise, com o conhecimento prévio das aulas. Assim os docentes acabam tendo um
contato maior com o assunto, fazendo o assunto se tornar mais concreto e saindo
do imaginário do mesmo.
Referencias
Nathália
Machado Freire de Arruda, Graduanda licenciatura em História pela Universidade
de Pernambuco (UPE), Campus Mata Norte. Integrante do Grupo de pesquisa
Leitorado Antiguo: grupo de ensino, pesquisa e Extensão em História Antiga
(UPE).
Capela Funerária de
Nebamun. British Museum, London. In
Estela funerária de
Taeshert. Museu Arqueológico Nacional de España. In
ARAÚJO,
Emanuel (org.). Escrito para a Eternidade: a literatura no Egito Faraônico.
Brasília: Editora da Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa oficial do
Estado, 2000.
BURKE,
Peter. Testemunha ocular: história e imagem / Peter Burke; tradução Vera Maria
Xavier dos Santos; revisão técnica Daniel Aarão Reis Filho. – Bauro, SP: EDUSC,
2004.
GOMBRICH,
Ernst H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
KARNAL,
Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas - 5.
ed. São Paulo : Contexto, 2007.
LITS,
Valesca Giordano. O uso da imagem no ensino de história. Curitiba, 2009.
Disponível em < http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1402-6.pdf>
RIBEIRO,
Jonatas Roque. História e ensino de História: Perspectivas e abordagens.
Educação em Foco, Edição nº: 07, Mês / Ano: 09/2013.
SILVA,
Rita Tatiana. Do cânone à criação: A simbologia usada na representação do Faraó
Akhenaton. São Paulo, 2006. Disponível em: < http://livros01.livrosgratis.com.br/ea000416.pdf
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SERRAZES,
Karina Elizabeth. Fundamentos e métodos do ensino de História: algumas
reflexões sobre a prática. In: XXII ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA, 1., 2014,
São Paulo. Anais do XXII Encontro Estadual de História da ANPUH-SP. São Paulo:
ANPUH, 2014.
KNAUSS,
Paulo. O desafio de fazer história com imagens: Arte e cultura visual. João
Pessoa, 2005. Disponível em: < http://www.artcultura.inhis.ufu.br/PDF12/ArtCultura%2012_knauss.pdf
>
Olá! Realmente é uma tarefa complicada fazer com que os alunos se interessem pela Antiguidade, que parece tão longínqua e abstrata. No entanto, ferramentas como o uso de imagens conforme ressaltado no texto, podem ser valiosas nesta leitura histórica. No entanto, fazer a análise de imagens e outras fontes históricas em sala de aula, e traduzi-las para os alunos, exige certo preparo do professor. Não conheço material didático que faça essa leitura das imagens de forma crítica, mas de forma geral, as utilizam como mera ilustração. Você conhece algum material que realize este tipo de análise?
ResponderExcluirPaula Alessandra Ribeiro Rodrigues
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOla paula, nao conheço nenhum livro didático que faca essa análise de imagem, a maioria utiliza como mera ilustração. Mas existem textos como o de Lits que auxilia o professor a fazer a análise de imagem, mostrando o que analisar nas imagens e como fazer.
ExcluirAtt,
Nathália Machado Freire de Arruda
Olá, Nathália, parabéns pelo artigo. É importante sim que o docente faça uma aproximação dos alunos com o conteúdo estudado. No caso do Egito Antigo, esse processo é facilitado pelo uso de imagens, como tratado no texto. Então, pergunto: que exemplos podem ser citados de semelhanças (e diferenças) entre aspectos da sociedade egípcia e da sociedade brasileira atual que o professor pode apontar aos alunos por meio da apresentação e análise de imagens? Que elementos podem ser abordados para aproximar a realidade cotidiana dos alunos e o cotidiano da sociedade egípcia? Temas como questão de gênero, representação social, lutas e resistências de "classes" podem ser úteis ao ensino de História do Egito Antigo em sala de aula por meio de imagens?
ResponderExcluirObrigado.
Até.
Daniel Roberto Duarte Granetto.
Olá Daniel,podemos trabalhar imagens dos Deuses abordando a questão do politeísmo, fazendo relação com as religiões de matrzes africanas encontradas no Brasil. Alem de poder utilizar imagens do Egito Antigo, para trabalhar a questão da representação desta civilização em filmes, por exemplo, e desconstruir a ideia de Egípcios com padrões de beleza europeus.
ResponderExcluirPodem ser trabalhada diversas questões, dependo do próprosito que o professor tenha. Podemos através das imagens mostrar elementos egípcios nas construções das cidades, ou das influências que temos, como por exemplo os obeliscos.
Att,
Nathália Machado Freire de Arruda
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNathália, olá novamente! Primeiramente, parabéns pelo texto, agora é minha vez de retribuir com um questionamento.
ResponderExcluirComo nós duas trabalhamos com iconografia, consegui entender sua proposta. Você já teve contato com hieroglifos, mesmo que brevemente, e entendeu um pouco sobre a fora de escrita egípcia? Você acha que poderia ser passível de uso dentro de uma sala de aula?
Particularmente não vejo problema em a primeira associação ao Egito serem as múmias/pirâmides, cada civilização tem seu grande marco (e aqui sabemos que também é um grande mistério), mas que tipo de material poderia ser utilizado para debater as grandes expedições, a ausência de metodologia nas primeiras explorações e o por que de outros países manterem um acervo egípcio tão distante de sua terra natal?
Att.,
Esther Salzman Castellano
Olá Nathália! Boa noite.
ResponderExcluirSeu texto reafirma o grau de importância que as leituras imagéticas tem em relação a dinâmica de aprendizagem no ensino de história, que é possível e deve ser estimulada visto que a maioria das escolas brasileiras possuem meios tecnológicos que permitem ao professor de história trabalhar imagem em sala de aula. Um dos grandes equívocos recorrentes em aulas de história está justamente em aceitar as imagens estampadas nos livros didáticos como verdades absolutas ou apenas vê-las como complementos de confirmação aos textos do livro. Muitos dos docentes, talvez pelo peso em cumprir prazos deixam muitas vezes de analisar as imagens criticamente. Nesse contexto, gostaria de saber quais os cuidados a serem tomados pelos professores ao viabilizar o uso e analise de imagens (no caso do seu texto, egípcias) em sala de aula?
Paulo Tiago Fontenele Cardoso