HITLER
EM CENA: CULTURA, LINGUAGEM E HISTÓRIA NA ABORDAGEM SEMIÓTICA DE “ELE ESTÁ DE
VOLTA”
A leitura, a cultura, o ser
Pesquisas internacionais, como o PISA, e estudos e exames
nacionais, como ENEM, ENADE e Retratos da Leitura no Brasil, atestam a pouca
proficiência em leitura dos brasileiros, em diversos níveis de ensino. Não
surpreende que, na esteira da defasagem da formação leitora, venham resultados
nada animadores em relação às demais áreas de ensino, uma vez que a leitura
embasa o processo de ensino-aprendizagem.
Para além da definição tradicional de leitura, que engessa o
leitor na decodificação de um sistema linguístico pré-fixado, entende-se o
processo de leitura em uma perspectiva ampla de interação com os códigos
culturais e, portanto, intimamente relacionado com a inserção histórico-social
do sujeito e sua formação identitária. Nessa perspectiva, o ensino de História
(assim como o das demais áreas) entrelaça-se com a educação para a leitura crítica
do presente, do passado e de suas pretensas verdades (SEFFNER, 2000), na medida
em que esse chega à atualidade esfacelado nos vestígios inscritos em
materialidades diversas, mas, sobretudo, inscrito em manifestações culturais
recobertas por camadas de interpretações depositadas ao longo do tempo. Estas,
por sua vez, reverberam nas maneiras de conceber e de viver o tempo presente,
assumindo relevante papel social.
Um caso exemplar de uso de manifestações culturais na
“conformação ideológica” de uma sociedade ocorreu durante o regime nazista de
Hitler, na Alemanha. Antes mesmo de a Escola de Tartu-Moscou (1960) desenvolver
as bases da Semiótica da Cultura, o Führer alemão já descobrira no cinema a
possibilidade de afetar sensivelmente a população de seu País, levando-a a
aderir ao projeto governamental (PEREIRA, 2011). Em um jogo de espelhos, não
surpreende que o próprio Hitler tenha vindo a se tornar objeto de variadas
representações fílmicas desde a década de 1940, e que seguem re(construindo) as
formas de conceber sua personalidade e de julgar suas ações.
Considerando que os alunos, na contemporaneidade, estão
expostos a variados discursos acerca do Führer e que as produções audiovisuais
seguem exercendo atração sobre os jovens e propondo reflexões sobre a
“realidade” presente e pretérita, propõe-se uma leitura semiótica da narrativa
fílmica “Ele está de volta” (2015). Ela surge como possibilidade pedagógica
interdisciplinar, em que a abordagem da personagem Hitler se desdobra em temas
históricos correlatos ao nazismo e às diversas formas de segregação e de
violência social.
Na trama fílmica, Hitler acorda na Berlim contemporânea e
passa a interagir com os alemães, reproduzindo os discursos de seu governo, na
primeira metade do século XX. Visto como ator exímio, ele é descoberto pelo
produtor de televisão, Fabian Sawatzki, que insere Hitler na mídia e nos meios
sociais como comediante. As declarações e gestos do Führer, contudo, diluem as
fronteiras entre ficção e realidade e mobilizam reações no público, tanto no
plano ficcional da diegese fílmica (em que o ator alcança grande sucesso e, ao
mesmo tempo, sofre agressões físicas de opositores) quanto no da reprodução do
real (em que as cenas documentais denunciam uma adesão de significativa parcela
da população às ideias do suposto Adolf Hitler).
Instituindo, pois, um jogo ambíguo entre seu caráter
documental e sua configuração fictícia, “Ele está de volta” não limita a
satirizar a figura do ditador alemão, incriminando-o como único responsável por
atos situados no passado, mas refrata a crítica temporal e espacialmente, problematizando
questões socioculturais da atualidade, que extrapolam as fronteiras alemãs. Sua
abordagem pedagógica abre, assim, inúmeras possibilidades de reflexão e permite
que, por um debate ativo e crítico, o aluno avalie suas posições de sujeito
(HALL, 2005) e seu papel social.
Segunda realidade, cinema e cultura
Tão logo iniciam as cenas do enredo de “Ele está de volta” (2015), a dicotomia entre existência
biológica e existência sócio-cultural é explorada. Ao acordar em uma Berlim
contemporânea, Hitler age desordenado, incapaz de compreender o modo de vida
dos conterrâneos, especialmente quando não é reconhecido como o Führer
histórico por um grupo de garotos, que o considera “um vacilão”. Nos casos em que a personagem interage com
pessoas adultas ou idosas, ocorrem reações muito diversas, mas que sinalizam
sempre sua identificação com o sujeito Adolf Hitler e as concepções e atos que
lhe foram atribuídos.
O não reconhecimento dos meninos em relação à personagem
principal decorre uma lacuna no acesso a manifestações que sedimentaram o valor
semiótico do sujeito histórico Hitler; está, portanto, na fissura entre
primeira e segunda realidades. Para I. Bystrina (1990), a primeira realidade
está na existência físico-biológica do ser humano, apresentando, em suas
coerções pela sobrevivência, limitações que só são transpostas no plano da
segunda realidade, espaço do sonho, da arte, das criações imagéticas, em suma,
da cultura. Nesse espaço, chamado de semiosfera, os textos culturais tomam
forma e são continuamente (re)significados, estando na base do processo de
hominização, já que decorrem da tomada de consciência da finitude da vida e da
complexa relação com o tempo.
Para Iuri Lotman (1979, p. 31), a cultura constitui “o
conjunto de informações não-hereditárias, que as diversas coletividades da
sociedade humana acumulam, conservam e transmitem”. Para assegurar a acumulação
e o intercâmbio dessas informações, as diferentes sociedades valem-se da
linguagem que, para levar a cabo a comunicação, configura-se em diferentes
códigos. Dessa forma, o texto cultural a ser abordado pela Semiótica da Cultura
não se restringe à palavra escrita, mas abarca os elementos sígnicos envolvidos
em uma dada manifestação.
No caso do cinema, os objetos e personagens postos em cena,
a escolha do ângulo, a configuração do cenário, o figurino, a iluminação,
enfim, tudo aquilo que “é arte” (LOTMAN, 1978, p. 73) carrega o potencial de
ser signo. Na compreensão de Lotman,
“[...] signo é o equivalente material dos objetos, dos
fenômenos e dos conceitos que exprime. Por conseguinte, a principal
característica do signo é a sua capacidade de exercer uma função de
substituição. A palavra substitui a coisa, a o objeto, o conceito; o dinheiro
substitui o valor, o trabalho socialmente necessário; o mapa substitui o lugar;
na organização militar os galões e as divisas substituem os postos
correspondentes” (LOTMAN, 1978, p. 10).
Em tal perspectiva, o signo, inserido na semiosfera,
transcende a inicial referenciação a um objeto ou a um ser empírico, por meio
de uma maior ou menor convencionalização de seu sentido (BYSTRINA, 1990). Esse
processo determina o valor atribuído a cada elemento em uma dada sociedade: “o
valor das coisas é semiótico, uma vez que ele é determinado não pelo próprio
valor destas, mas pela significação daquilo que representa” (LOTMAN, 1979, p.
37).
Nesse ponto, a Semiótica da Cultura difere-se enquanto campo
de estudo. Enquanto as diversas correntes semióticas propõem-se à análise dos
mais variados signos (palavras, imagens, sons, manifestações biológicas etc.),
a Semiótica da Cultura elege por objeto mínimo de análise o texto, compreendido
como “complexo de signos que têm sentido” (BYSTRINA, 1990, p. 4). Para Baitello
Junior, “um signo único não será [...] um texto se não for visto em um
percurso, em uma relação temporal ou espacial, dialogando consigo próprio ou
com outros signos” (1997, p. 42).
Sob essa visão, Lotman considera que a análise do cinema
deve considerar o encadeamento dos quadros, a que se deve boa parte da
desautomatização efetuada pela linguagem cinematográfica, ou seja, a sequência
estratégica das cenas instaura encadeamentos de significados inéditos. Na base
desse movimento, está a complexa dialética entre real e ficção, entre primeira
e segunda realidades, que o cinema sustenta: ao mesmo tempo em que, na
aparência, se aproxima da realidade, simulando uma cópia dos fatos empíricos;
denuncia sua artificialidade pelos mecanismos sígnicos que lhes são próprios
(LOTMAN, 1978). Por esse motivo, a linguagem cinematográfica “esbate significações materiais e
sublinha as significações abstratas, lógicas ou associativas” (LOTMAN, 1978, p.
83), possibilitando que o contínuo processo de representação de uma personagem,
como Adolf Hitler, não esgote seu valor semiótico, mas, do contrário, o amplie
num processo infindável de contestação e/ou de reforço.
No caso
específico do Führer, acredita-se que tenha alcançado o estatuto de símbolo,
que constitui um signo fortemente semiotizado, de forma a constituir uma norma,
uma lei que determina seu interpretante: [...] um símbolo é uma lei ou
regularidade do futuro indefinido” (PEIRCE, 1995, p. 71). Essa compreensão
ilumina o humor que emerge do não reconhecimento do Führer nas primeiras cenas
e das situações constrangedoras a que é submetido. A contradição do valor
simbólico, que associa Hitler a força, imponência e poder, envolve o público no
teor sarcástico da trama fílmica, que, inicialmente reveste a personagem alemã,
mas que, posteriormente, se estende a indivíduos da atualidade, divididos entre
uma aparência politicamente correta e acolhedora e uma postura ideológica
discriminatória e conservadora.
Hitler em cena: algumas propostas de
abordagem
Considerar a personagem Hitler enquanto texto cultural
parece ser o desafio central de uma (re)leitura crítica dos signos que compõe a
história do nazismo. Assim, em sala de aula, faz-se adequada uma proposta
prévia à recepção do filme que desperte os alunos para os diversos signos que
orbitam na esfera cultural e histórica que tem moldado a interpretação do tema.
Uma possibilidade é apresentar aos discentes a capa do livro homônimo que
inspirou o filme: nela, o desenho de um bigode e do formato do cabelo são
elementos que esclarecem o pronome pessoal “Ele” do título. Questionar aos
alunos de que maneira eles identificam a referência a Hitler nos desenhos pode
ser o ponto de partida para pensar o universo cultural como espaço forjador de
concepções sociais.
Outra possibilidade, ainda, é problematizar a saudação
nazista (Deutscher Gruß),
localizando-a em diferentes momentos históricos. Promover a reflexão de seu
percurso, que inicia semioticamente no cumprimento ao imperador na Roma Antiga,
em que simbolizava lealdade e respeito; posteriormente, como forma de pertença
sócio-política-ideológica na Alemanha nazista e, atualmente, como gesto
controverso, lança luz sobre a variação do valor atribuído a cada signo, de
acordo com a cultura de cada época e de cada grupo social.
Após a assistência do filme, o docente de História procederá
à exploração dos aspectos que julgar condizentes à sua realidade educacional.
Julga-se, contudo, que a discussão de alguns conceitos faz-se sobremaneira
relevante na análise da narrativa cinematográfica. Em várias cenas, o autor que
interpreta Hitler interage com pessoas em seu cotidiano e evoca o discurso
nacionalista que sustentou o regime nazista, que encontra ressonância nas
manifestações dos alemães contemporâneos. Para grande parte dos germânicos, o tempo
passado permanece mítico, idealizado como espaço de ordem e de preservação da
cultura e da raça ariana.
Na esteira desse pensamento, reafirma-se o poder simbólico
da figura de Hitler, sobretudo quando na interação com políticos, como Karl
Richter, presidente adjunto do NPD – Partido Nacional-Democrático da Alemanha.
Após solicitar que se encerrem as gravações, ele afirma que, provavelmente,
obedeceria a todas as ordens do verdadeiro Hitler (ou, talvez, de quem o
conseguisse persuadir como o Führer). Esse posicionamento revela uma
vulnerabilidade político-ideológica que se estende à população em geral, para
quem, segundo a personagem Hitler, basta lançar algumas palavras-chave para
destilar seu discurso revoltado. Assim, cabe ao professor problematizar as
bases sociais que sustentaram a ascensão do nazismo e contrapô-las às condições
presentes, a fim que se compreenda tanto o contexto histórico da 2ª Guerra
Mundial quanto se discuta o cenário atual e os possíveis rumos políticos e
sociais. Além disso, é interessante debater o papel de personagens infames no
curso da História.
É possível, também, estabelecer paralelos com a realidade
brasileira e sua frágil democracia (CARVALHO, 2015). A incompreensão desse
conceito fundamental não é exclusividade brasileira, como muitos pensam. Em uma
passagem significativa do filme, um jovem neonazista conversa com o ator que
interpreta Hitler. O rapaz afirma estar lutando por seus direitos e acredita
que a democracia é construída por meio de um governo autoritário. A fala
irônica do ator ao final do diálogo – “Esse é exatamente o meu tipo de
democracia” – denuncia as contradições inerentes ao pensamento nazista já em
sua origem, quando a sigla política sugeria uma orientação socialista, mas
também problematiza o analfabetismo político de parcela da juventude.
Fig. 1: Cenas da interação dos atores
com um jovem participante de uma manifestação neonazista
As incoerências em cenas de caráter documental são
reforçadas em passagens ficcionais, cujas notações simbólicas podem ser
exploradas em um trabalho conjunto com a disciplina de Língua Portuguesa. Em
uma cena, por exemplo, o Führer admira a natureza de um parque natural e, ao
reafirmar que a superioridade do Partido Verde na atualidade, joga ao chão um
copo de café vazio. A reunião desses elementos conflituosos (ele se identifica
com a natureza, mas contribui deliberadamente para sua destruição) em uma sequência
de planos gera o efeito do absurdo, que está na base da sátira.
Nesse aspecto, um trabalho interdisciplinar com a disciplina
de Artes poderá contribuir em muito com o processo de interpretação.
Especialmente em cenas em que o sarcasmo cede espaço ao drama e à mordaz
crítica social, a análise dos aspectos visuais se faz necessária. Como exemplo,
cite-se a seleção dos ângulos de filmagem picado e contrapicado. Em uma
passagem crucial para o desenvolvimento da trama no âmbito ficcional, Sawatski
leva Hitler para conhecer a avó de sua namorada. A idosa judia reconhece no
ator o Hitler histórico. Embora seja considerada doente mental, o olhar direto
e as memórias articuladas em falas lógicas denotam lucidez na idosa, que acusa
o Führer de assassino. Interpelada a ver como comédia as falas de Hitler, a avó
afirma que, no início do regime nazista, os alemães também riam das ideias que
resultaram no extermínio de toda a família da neta.
Fig. 2: Personagem reconhece Hitler do
século XXI como o mesmo do regime nazista
Essa sequência é crucial para a
construção da verossimilhança interna do enredo, pois é a adesão de Sawatski ao
ponto de vista da idosa que justificará sua internação como doente psíquico. Sua
significação, porém, pode ser estendida ao debate sobre os influxos das
representações culturais na realidade.
Nesse encadeamento de planos, a alteração dos ângulos picado e
contrapicado reproduz o jogo de olhares entre as personagens e o próprio embate
entre passado e presente. A memória histórica da idosa, mobilizada pela imagem
do Führer, engendra sensações dolorosas, que a impedem de conceber a reprodução
da figura de Hitler como neutra e, portanto, portadora de comicidade.
Essa advertência é relançada ao plano
da realidade no encerramento da narrativa fílmica, quando a fala de Hitler –
“Minha situação é excelente na Alemanha, na Europa, no mundo” – é iluminada por
imagens e fatos da atualidade, os quais giram em torno da violência xenofóbica.
Essa exploração permite inúmeras associações com a realidade dos alunos, que
podem ser levados a refletir em proporções globais, como sobre a grave crise de
imigrantes na Europa, por meio de fotos emblemáticas, como a que representou o
menino sírio Aylan, morto após o naufrágio do bote que levava sua família ou
mesmo as implicações do discurso e das medidas em relação aos imigrantes no
governo Trump (discussão que pode partir de um filme como “Um dia sem mexicanos”).
Pode-se, ainda, estabelecer relações com um universo mais próximo do aluno,
abordando, por exemplo, a forma como as pessoas de seu Estado, Município ou
região concebem e relacionam-se com indivíduos provindos de outros locais.
Enfim, há inúmeros caminhos de análise
possíveis para a narrativa fílmica, não havendo a possibilidade de descrevê-los
exaustivamente nesse texto. O trajeto de leitura deve ser traçado de acordo com
as características e as necessidades educacionais de cada turma. O que não se
deve perder de vista, porém, é que a formação de um cidadão crítico não se dá
descolada do desenvolvimento de sua capacidade leitora. Dessa forma, o filme Ele está de volta constitui um rico
material pedagógico se explorado profundamente. Caso a interpretação fique na
superficialidade textual, corre-se o risco de perder a sutileza irônica do
texto e, numa inversão de sentidos, aderir à tortuosa ideologia do pseudo
Hitler.
O
símbolo sobrevive ao homem
Embora muito comumente se utilizem filmes em aulas de
História, é ainda pouco frequente a proposição da leitura das personagens
históricas enquanto constructos sociais, situando-se, muitas vezes, as
representações cinematográficas como “fiéis à História” ou “verdadeiras” ou,
então “fictícias”. “Ele está de volta” é um desafio à abordagem pedagógica
porque problematiza os dualismos tão caros às perspectivas tradicionais e, ao
mesmo tempo, propõe uma visão ampla, crítica e contemporânea. Assim, a proposta
de uma análise semiótica do filme vem acompanhada de um necessário movimento de
abertura do professor de História a saberes de outras áreas de ensino, com
vistas a ampliar os horizontes de leitura do mundo dos alunos.
Nesse sentido, é exemplar o término de “Ele
está de volta”, em que o Führer passeia por uma cidade simpática à sua figura
(e, provavelmente, às suas ideias) e conclui: “Este é um bom material de
trabalho”. A fala evidencia o imaginário humano enquanto constructo cultural,
manipulável, portanto, pelas representações que circulam socialmente.
Completa-se, assim, o ciclo que a narrativa estabelece entre primeira e segunda
realidades, entre passado e presente, entre história e construção mítica, entre
indivíduo e sociedade, entre ficção e realidade.
Referências
Tatiane Kaspari é mestre e doutoranda
em Processos e Manifestações Culturais e licenciada em Letras Português.
Carlos Eduardo Ströher é mestre em Educação e
professor dos cursos de História e Pedagogia da Universidade Feevale (Novo
Hamburgo/RS)
BAITELLO JUNIOR, N. O animal que parou os relógios. São
Paulo: Annablume, 1997.
BYSTRINA, I. Semiótica da cultura: alguns conceitos semióticos e suas fontes.
São Paulo: CISC, 1990.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho.
Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2015.
HALL, Stuart. A
identidade cultural na pós-modernidade. 10ª ed. Rio de Janeiro: DP&A,
2005.
LOTMAN, Yuri. Estética
e semiótica do cinema. Lisboa: Editorial Estampo, 1978.
_______. Sobre o problema da tipologia
da cultura. In:
SCHNAIDERMAN, B. Semiótica russa. São
Paulo; Perspectiva, 1979. p. 31-41.
PEIRCE, C. S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1995.
PEREIRA, Wagner Pinheiro. O triunfo do Reich de mil anos: cinema
e propaganda política na Alemanha Nazista. IN: CAPELATO, Maria Helena et al.
(org.) História e cinema: dimensões
históricas do audiovisual. Editora Alameda: São Paulo, 2011. p. 259 -74.
SEFFNER, Fernando. Teoria, metodologia
e ensino de história. In: GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcellos; PETERSEN, Sílvia
Regina Ferraz; SCHIMIDT, Benito Bisso; XAVIER, Regina Célia Lima. Questões de teoria e metodologia da
história. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2000. p. 257-288.
Prezados!
ResponderExcluirO texto escrito por vocês se oferece como uma ótima leitura.
Entendo que a proposta de análise apresentada é mais complexa que isso, mas gostaria de dizer que é, realmente, acertada a sugestão de entender as personagens históricas representadas em narrativas fílmicas enquanto construções sociais. Como colocado, ir além das clássicas questões que permeiam as práticas que utilizam filmes para estudo da História, como "verdadeiras" ou "fictícias", amplia "os horizontes de leitura do mundo dos alunos".
Nesse sentido, seria ou não possível utilizar o conceito de "verossimilhança"? Isso, tanto para refletir sobre a figura de Hitler, quanto para debater a sociedade contemporânea.
Obrigada pela atenção!
Cláudia Masiero
Prezada Cláudia Masiero,
Excluirsua pergunta é muito instigante e perspicaz e, talvez, não a consiga exaurir por completo. Considerando a ininterrupta semiotização da figura de Hitler e sua inserção dentro da ficção do cinema, sim, é absolutamente coerente falar de verossimilhança. O Hitler do filme não é real, denuncia-se a si próprio como construção artística e a identificação que os espectadores fazem com a personagem histórica se assenta sobre a verossimilhança, portanto.
No que tange à sociedade contemporânea, porém, o problema se aguça. Mais do que a representação do estado atual da sociedade, creio que o filme proponha uma reflexão de contornos antropológicos (como a perseverança de comportamentos humanos excludentes - xenofobia, racismo - que engendram violência social). Penso sempre ser delicado emitir juízos sobre uma época ou fatos sem algum distanciamento temporal; penso que "Ele está de volta" se proponha a isso, a denunciar as graves falhas humanitárias da atualidade, que reproduz o pensamento nazista em sua essência. Assim, o filme parece-me mais próximo de um caráter jornalístico-documental do que ficcional nesse ponto (a sociedade contemporânea) e o nível não parece ser o da verossimilhança, mas sim, do registro documental. De qualquer forma, o retrato da sociedade que está aí é uma ótima deixa para a discussão das pós-verdades modernas.
Muito obrigada pela participação. Permanecemos abertos ao debate.
Tatiane Kaspari
Obrigada pelo retorno, Tatiane!
ResponderExcluirParabéns pela pesquisa!
Abraços,
Cláudia Masiero
Olá, no subtítulo "Hitler em cena: algumas propostas de abordagem", vocês propõem uma proposta de trabalho interdisciplinar do filme "Ele está de volta" para a sala de aula. Para quais séries da educação básica essa proposta se mostraria adequada, levando-se em conta a complexidade de algumas interpretações?
ResponderExcluirMárcia Rohr Welter
Prezada Márcia,
Excluirobrigada por seu questionamento. A indicação é, preferencialmente, Ensino Médio. Eventualmente, o professor pode considerar que a maturidade de seus alunos permite o trabalho nas séries finais do Ensino Fundamental. Há, ainda, a possibilidade de ajustes nas questões, a fim de atender às necessidades da turma. Em suma, indicaria para o Ensino Médio, mas há possibilidade de trabalhar em algumas turmas de 8º e 9º ano.
Atenciosamente,
Tatiane Kaspari.