EDUCAÇÃO HISTÓRICA E PATRIMONIAL: ENCONTROS NA
FORMAÇÃO DE GUIAS DE TURISMO
A presente comunicação tem por objetivo demonstrar
como a Educação Patrimonial dialoga com os saberes de diferentes áreas, em
especial o Ensino de História. Nesse espaço não buscamos apresentar o mito de origem
da Educação Patrimonial, ou seja, apresentar o seu surgimento como algo mítico
ou especial no final do século XX. Contudo, relaciona-se o advento dessa ênfase
na Educação com outras transformações que ocorreram na década de 1990, em
especial no que cerne à questão curricular. As mudanças curriculares ocorreram tanto
na Educação Básica como na Profissional, como demonstraremos através da análise
do caso do curso Técnico em Guia de Turismo.
O
Brasil é reconhecido internacionalmente como dotado de uma grande riqueza
natural e cultural, o que motivou a prática do Turismo desde o século XIX. Por
tal reconhecimento, seus monumentos naturais e culturais passaram a ser vistos
como algo a ser preservado, na década de 1930, durante o Governo de Getúlio
Vargas, sendo realizadas diferentes ações para esse fim. Dentre elas, podemos
destacar a transformação de Ouro Preto em Monumento Nacional pelo decreto nº
22.928 de 12 de junho de 1933, a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (SPHAN) em 1936, a criação do Parque Nacional de Itatiaia em
1937 e o Decreto-lei 25 de novembro de 1937. Nesse sentido, a memória de uma
cidade está presente tanto em sua arquitetura como em outros atrativos
demandando do Guia de Turismo conhecimentos em diferentes áreas do saber.
De
monumentos a atrativos turísticos, muitos locais que representam o grupo social
ou a nação passaram a se constituir também como objeto de consumo da atividade
turística. Nesse sentido, o Guia de Turismo passa a ter um papel singular como
articulador entre os conhecimentos históricos e patrimoniais e as pessoas que
visitam os diferentes ambientes. Por isso, faz-se necessário compreender a
relação entre o Ensino de História e a Educação Patrimonial na formação desse
profissional.
As reformas
curriculares e a Educação Patrimonial no Brasil a partir da década de 1990
No
limiar do século XXI vários países passaram a rever seus currículos (MOREIRA,
2001). A criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais em 1997, um ano após a
nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, LDB 9394/1996, coloca o
Brasil nesse grupo. A ver na revisão curricular passou a ser vista como a forma
de superar o fracasso escolar, uma vez que junto com ela houve a implantação de
avaliações externas como maneira de verificar a qualidade do ensino, mas que na
verdade apenas ampliou o seu controle e monitoramento de dentro de uma lógica
empresarial. Como o Brasil, países como Estados Unidos, Inglaterra, Espanha,
Portugal e França também realizaram reformas educacionais. conferindo destaque
a questão curricular e o uso de avaliações externas como ferramenta de
monitoramento da qualidade da educação (cf. SACRISTÁN, 2013; CANDAU, 2014). A
discussão da Base Nacional Curricular Comum marca uma nova fase da inserção do
Brasil na lógica global neoliberal iniciada na década de 1990.
Ao
mesmo tempo, os debates acerca da temática da identidade ganharam força no
final do século XX. Na teoria social, seu estudo ligava-se ao estudo da
constituição do sujeito. Não podemos esquecer que o social se inicia no
indivíduo, e vice-versa, e que segundo reflete um fragmento da totalidade, da
sociedade em que se inseri; ou seja, a identidade é uma criação negociada entre
o indivíduo e o grupo. Tal questão se liga, muitas vezes, as lutas das minorias
ou a projetos políticos levados a cabo por diferentes tipos de governo (MOREIRA
e CAMARA, 2013).
A Educação
Patrimonial, surgida na Inglaterra entre as décadas de 1970 e 1980, se coloca
como uma forma de ensinar e aprender questões ligadas a História e Memória,
olhando para a herança cultural, material e imaterial, que serve como signos de
construção de identidade. Para IPHAN, sua chegada no Brasil se liga a
realização do “1º Seminário sobre o Uso Educacional de Museus e Monumentos”,
realizado no Museu Imperial de Petrópolis-RJ, no ano de 1983. Por seu objeto de
estudo ser os bens culturais, torna-se desde sua criação como um campo inter e
transdisciplinar (PELEGRINI, 2009).
“No
Brasil, essa preocupação foi contemplada mediante a inclusão de temas
transversais nos Parâmetros Curriculares Nacionais no Ensino Fundamental
(PCN/1998) e por meio da organização de novas grades curriculares das
disciplinas de graduação – conforme Parecer do Conselho Nacional de Educação
(CNE/CES 13/2002). [...]
Com
certeza, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborados pelo Ministério
da Educação, abriram espaço para as atividades transdisciplinares – aspecto
essencial para o desenvolvimento de projetos de Educação Patrimonial. A
introdução dos “temas transversais” relacionados ao “meio ambiente” e à “pluralidade
cultural” previa a realização de atividades concatenadas a disciplinas
distintas, favorecendo o estudo integrado” (PELEGRINI, 2009, p. 17 e 39)
Os
temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) trazem à tona a
necessidade de se olhar para a preservação do Patrimônio Cultural e Natural do
Brasil. Eles abriram espaço para as atividades transdisciplinares – aspecto
essencial para o desenvolvimento de projetos de Educação Patrimonial. A
introdução dos “temas transversais” relacionados a “meio ambiente” e à
“pluralidade cultural” previa a realização de atividades concatenadas a
distintas disciplinas, favorecendo o estudo integrado (PELEGRINI, 2009, p. 39).
Ao se inserir as questões pertinentes a Educação Patrimonial, o professor não
precisa se afastar ou abandonar o currículo oficial, mas incorporar a sua
prática questões necessárias ao estudo dos bens culturais e simbólicos. Assim
como, essa nova área do conhecimento não deve ser vista apenas como uma forma
de possibilitar o acesso de entretenimento e lazer junto aos monumentos e ao
Patrimônio (PELEGRINI, 2009).
Em
novembro de 1997, o IPHAN organizou em Fortaleza um seminário comemorativo de
seus sessenta anos. Nesse encontro, além da comemoração, especialistas do IPHAN
e de outras instituições, inclusiva da UNESCO, puderam debater e buscar
indicativos de formas para se resguardar e fomentar a preservação e divulgação
de bens simbólicos e de interesse nacional, dando ênfase especial para os
ligados a tradição popular. Ao final do encontro foi redigido um documento que
ficou conhecido como “Carta de Fortaleza”,
nele já se tem indícios da organização da Educação Patrimonial no Brasil
(PELEGRINI, 2009).
Na
década seguinte, dentro do IPHAN, teremos a criação, em 2004, da “Criação da
Gerência de Educação Patrimonial e Projetos – GEDUC. Primeira instância da área
central do IPHAN voltada para a Educação Patrimonial”; em 2005 organizou-se o
“Encontro Nacional de Educação Patrimonial (I ENEP)” e em 2008 o “II Encontro
Nacional de Educação Patrimonial (II ENEP)” (IPHAN, 2014, p. 15-16). Sobre os
resultados do II encontro, destaca-se que esta foi uma “reunião para pactuar as
diretrizes no campo de Educação Patrimonial e fortalecer a rede de instituições
e de profissionais atuantes na área educacional. Parceria entre MEC e IPHAN
para que o tema Educação Patrimonial integrasse o macro campo Cultura e Artes
do Programa Mais Educação, de Educação Integral” (IPHAN, 2014, p. 16).
Desde
sua constituição como campo do saber e área disciplinar, a Educação Patrimonial
necessita de diálogos com outras áreas. Essa modalidade de Educação dialoga com
a História e Ciências Sociais para saber identificar e auxiliar na divulgação e
conhecimento da herança que as gerações passadas deixaram para as presentes e
as futuras. Além disso, o profissional que se dedica a este campo precisa
manter contato constante com instituições de defesa de bens culturais, como,
por exemplo, o IPHAN.
A
pergunta que pode vir à tona, então, seria qual o objeto de estudo da Educação
Patrimonial? Uma resposta preliminar pode ser dada de maneira simples: os bens
simbólicos que uma sociedade visa preservar. O estudo desses bens passará por
diferentes áreas do conhecimento, tais como a História, as Ciências Sociais,
Turismo, a Arquitetura, a História da Arte e outras que possam auxiliar a
compreender o objeto em questão. O trabalho do professor pode surgir de ruínas
de uma fazenda de café, como as encontradas em Vassouras, no Rio de Janeiro, ou
da cultura popular pernambucana, onde o frevo exerce um papel de grande
relevância.
Cabe
destacar que ao longo do século XX a preservação foi prioritariamente de bens
materiais. Sua conservação estava ligada, na maioria das vezes, ao uso que se
fazia do monumento. A preservação de bens imateriais começou a ser realizada no
Brasil na década de 2000, enquanto a UNESCO já havia publicado um documento
sobre a este tema em 1989, “a Recomendação da salvaguarda da cultura
tradicional e popular” (PELEGRINI, 2009). Outro ponto importante dessa evolução
no Brasil consiste em lembrar que o Estado foi o grande articulador da
preservação (FUNARI; PELEGRINI, 2006).
Quando
o Ensino de História encontra a Educação Patrimonial: caso do Guia de Turismo
Dentre
as reformas na Educação levadas a cabo ao longo dos mais de 12 anos de governo
Lula-Dilma, houve a criação do Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos.
Atualmente, na 3º edição, tal catálogo visa apresentar os conteúdos básicos que
cada curso técnico precisa desenvolver na formação do discente. Mesmo em fazer
uma lista de conteúdos ou apresentar parâmetros curriculares, como há para a
Educação Básica, o presente documento aponta temas que não podem deixar de
figurar na formação do profissional egresso.
A
análise dos três volumes do catálogo nacional, indica que nos primeiros
editados em 2008 e 2012, não há referência direta a prática do Guia de Turismo
junto ao patrimônio ambiental e cultural. No terceiro, editado em 2016, pode se
ler que dentre as funções do profissional tem-se que ele “traduz o patrimônio
material e imaterial de uma região para visitantes” (BRASIL, 2016, p. 250). A
nosso ver, o fato de constar nessa edição do catálogo a menção direta ao
patrimônio, demostra que o debate sobre o tema, pelo menos no campo da educação,
tornou-se ainda mais sólido.
Nas
três edições pode-se observar que os bens culturais serão estudados em uma
perspectiva da interdisciplinar, no diálogo de áreas como Artes, História,
Museologia e Cultura. Delas, e de outras não citadas, , emergem as discussões
acerca da Educação Patrimonial e que podem ser levadas para outras pessoas a
partir da ação do Guia de Turismo. Tal perspectiva pode ser observada na
ampliação produção acadêmica que relaciona o patrimônio a ação turística.
Mais
uma vez, o Catálogo Nacional pode ser utilizado para compreender a inter, trans
e multidisciplinaridade presente na formação do Guia de Turismo. Em seu fazer,
esse profissional “informa os visitantes sobre aspectos socioculturais,
históricos, ambientais e geográficos” (BRASIL, 2012, p. 250). Por ser um
profissional com formação multidisciplinar, o Guia de Turismo pode levar a
transformação na percepção nos usos do espaço ou apenas reproduzir posições
construídas por outros. Por isso, defendemos a utilização da Educação
Patrimonial em sua formação. Ao ensinar questões de História e Memória de um
dado lugar e/ou grupo social, ela possibilita identificar o que é um bem
cultural (material ou imaterial), ou seja, aquilo que é utilizado como forma de
reconhecimento de um determinado grupo social, sua herança cultural.
A
prática turística tem levado a ressignificação de locais e práticas culturais.
Para alguns, essa atividade é responsável pela mercantilização de espaços e
colocando-os dentro da lógica de mercado (CARLOS, 2012). Indicam também que a
velocidade no consumo de bens culturais pode levar ao esvaziamento de seu
conteúdo (MENEZES, 2006). Para outros, tal prática proporciona a
(re)conhecimento de tais locais e a ampliação da visão de mundo daqueles que
praticam tal atividade. Contudo, nossa posição consiste em não negar nenhuma
das duas, mas apontar que pelo caminho da educação patrimonial tal prática
profissional pode servir para desenvolver a consciência sobre o passado e
presente das múltiplas populações de um país.
A
visitação a uma igreja barroca, a um monumento ou a uma comunidade quilombola
pode ser conduzida de diferentes formas por uma Guia de Turismo. Considerando,
esse aspecto na formação do Guia de Turismo, a educação patrimonial pode ser desenvolvida
com o objetivo de fornecer as ferramentas para seu trabalho junto aos turistas.
Contudo, não deve ser visto como a panaceia na relação entre consumo,
mercantilização e desenvolvimento de consciência na atividade turística. A
atividade turística pode ser uma ponta de lança para que novos guias possam
atuar dentro dos parâmetros delineados pelo IPHAN. A própria discussão da área
chegou ao Brasil em um encontro sobre os usos educacionais de museus e
monumentos, demonstrando que tal relação vem sendo pensada desde o início do
debate no Brasil.
No
Brasil, a proteção do patrimônio material e imaterial esteve ligada ao uso. Por
isso, se os bens materiais tiveram sua proteção no início do século XX, seria
apenas no final que os bens imateriais ganhariam um livro de registro (FUNARI;
PELEGRINI, 2011). A atividade turística pode ser vista como uma das ampliadoras
dos usos e consumo da cultura material e imaterial. Não obstante, nos novos
debates sobre a preservação dos bens culturais, ela é vista como uma forma de
melhorar a qualidade de vida das populações locais.
A Educação
Patrimonial pode também contribuir com “a utilização dos bens patrimoniais como
fonte documental básica para a estruturação curricular do ensino favorece a
transmissão das tradições e dos valores como respeito às culturas e ao meio
ambiente às gerações futuras” (PELEGRINI, 2009, p. 113). A educação poderá
cumprir sua função de transformar a realidade não apenas das populações locais,
como daqueles que visam conhecer melhor o Brasil e outras partes do mundo.
O
patrimônio deve ser visto como algo vivo. Sua defesa se liga a questões do
tempo presente, a construção da identidade e a novas formas de percepção da
natureza e dos bens culturais. Consiste em uma abordagem interdisciplinar e quando da atuação do Guia de Turismo se reverte em uma
forma aprender e ensinar sobre o passado e presente de uma população. Não
podemos esquecer que toda interpretação do patrimônio está ligada ao olhar do
presente.
Palavras finais
A
Educação Patrimonial constitui-se como um campo que se encontra em construção.
Suas bases se assentam em conhecimentos de diferentes áreas das ciências
humanas, tais como a História, as Ciências Sociais, Turismo e a Arquitetura.
Como todo campo novo ainda busca delimitar suas fronteiras, o que não significa
que suas propostas não possam ser utilizadas na Educação Básica ou na Profissional.
Como
vimos seu desenvolvimento decorreu das transformações sociais que ocorreram no
final do século XX. Com o advento da Globalização, novas pesquisas foram
surgindo e novas temáticas ganharam força. Foi assim que a memória e a
identidade passaram a ser debatidas tanto na academia como fora dela,
demonstrando sua relevância para a sociedade que se consolidava no limiar deste
século. Com o crescimento dos investimentos nos bens culturais, em especial nos
monumentos, uma nova forma de olhar para a o passado se consolidou: a
história-patrimônio.
O
olhar pela Educação Patrimonial, por sua vez, já nasceu trans, inter e multidisciplinar.
Partindo da contribuição de diferentes áreas, figurou como questão nos Temas
Transversais e nos Parâmetros Curriculares Nacionais de disciplinas como
História e Geografia. Em seguida, se consolidou como tema de estudos na Educação
Profissional, seja ela de nível médio ou superior, demonstrando que o debate
por ela proporcionada era importante para várias formações profissionais.
Seu
aparecimento e consolidação no curso técnico de Guia de Turismo, ofertado como
formação de nível médio, pode ser visto como um indício de que a Educação
Patrimonial alcançou novos contornos no Brasil. A atuação desse profissional
pode auxiliar na ressignificação dos atrativos e bens culturais que passaram a
ser objeto de consumo da atividade turística. Hoje, contudo, já existem locais
que debatem a necessidade ou não de controle de visitação por sua perspectiva
histórica ou cultural.
No
período o Brasil passava por uma série de reformas curriculares que
possibilitavam a emergência de novas temáticas. A Educação Patrimonial, assim a
Educação Ambiental e a Educação Inclusiva, são respostas que a sociedade
precisa assumir frente a questões que são importantes nos tempos atuais. Ela,
longe de ser um modismo, se configura como uma forma de se pensar o processo
educativo considerando a construção da identidade pelas diferentes populações
que passam pela escola.
Por
fim, apenas buscando práticas ligadas a realidade local é que a educação
patrimonial poderá alcançar os resultados desejados. O patrimônio é algo vivo e
vivas também são as práticas que podem levar a sua disseminação. Os debates no
IPHAN mostram que ainda há um longo caminho a seguir e que ele apenas se fará
caminhando.
Referências
Lúcio Nascimento é professor de História aplicada ao
Turismo no SENAC e de História na SEEDUC. Mestrando em História (UERJ).
Especialista em História Contemporânea (UFF) e Educação Ambiental (SENAC).
Licenciado em História (SUAM).
BRASIL. Catálogo
Nacional dos Cursos Técnicos. 3ª ed. Brasília: MEC, 2012.
CARLOS, A. F. O Consumo do espaço. In: _________.
(org.) Novos caminhos da geografia.
São Paulo: Contexto, 2012, p. 173-186.
CANDAU, V. M. Reformas Educacionais na América Latina.
In.: MOREIRA, A. C. (org.) Currículo: políticas e práticas. 13º Ed. São
Paulo: Papirus, 2014, p. 29-42.
FUNARI, P.; PELEGRINI, S. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: JZE, 2006.
IPHAN. Educação
Patrimonial: histórico, conceitos e processos. Brasília: MEC/IPHAN, 2014.
(Disponível em http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Educacao_Patrimonial.pdf; acessado em
10 de julho de 2015).
MENEZES, J. N. História
& Turismo Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
MOREIRA, A. O Campo do Currículo no Brasil: os anos
noventa. Currículo sem Fronteiras,
v. 1, n. 1, pp. 35-49, Jan/Jun de 2001.
MOREIRA, A.; CÂMARA, M. Reflexões sobre currículo e
identidade: implicações para a prática pedagógica. in: MOREIRA, A.; CANDAU, V.
(org.) Multiculturalismo: diferenças
culturais e práticas pedagógicas. 10 Ed. Petrópolis: Vozes, 2013, p. 38-66.
PELEGRINI, S. Patrimônio
Cultural: consciência e preservação. São Paulo: Brasiliense / Fundação
Araucária, 2009.
SACRISTÁN, J. G. Dez teses sobre a aparente utilidade
das competências em educação. In: SACRISTÁN, J. G. et. al. Educar por competências: o que há de novo? Porto Alegre: ArtMed,
2011, 13-63
Boa tarde,
ResponderExcluirPrimeiramente, parabéns pelo texto.
Levando em consideração o valor da educação patrimonial no ensino de história e, o fato dela ocorrer com frequência em museus. De que forma você vê a interlocução entre a educação patrimonial e a educação museal?
Grata,
Priscila Lopes d'Avila Borges
Boa tarde, Priscila.
ExcluirVejo o diálogo ambas como faces de um mesmo caleidoscópio. Esse diálogo acontece (ou deveria acontecer) na formação inicial tanto do professor de História como do Guia de Turismo, pois o Museu abre possibilidades de guiamento singulares; por isso, não vejo como deixar de promover o diálogo entre ambas.
Eu mesmo, quando ministro a disciplina de Patrimônio em cursos de Guia faço uma visitação a espaços museais como forma de amplificar o trabalho que estou realizando.
Espero ter respondido.
CAso vc também tenha um texto aqui no simpósio, deixe o nome aqui, ficarei feliz em lê-lo.
Att.
Lúcio Nascimento
Olá Lucio!
ResponderExcluirAo ler seu texto fiquei me questionando se dentro da funcao Inter, trans e multidisciplinar do guia de turismo, no que tange aos domínios do ensino da história e educação patrimonial, se vc acredita ser tarefa deste profissional questionar também a patrimonialização em determinados casos. O que quero dizer é que existe uma tendência a patrimonializar determinados espaços (aqui no Brasil sobretudo a memória ligada ao império, às classes oligárquicas, ou seja, a memória da maioria branca em detrimento de uma minoria marginalizada) e, nesse sentido, caberia a este profissional tratar deste ponto como questão no exercicio de sua profissão?
Acredito que sim. Criando roteiros que questione a visão tradicional de História e patrimônio. Por exemplo: ao fazer uma visitação ao Museu Nacional, o Guia de turismo pode apresentar a história do Império e da República a partir do Museu e trazer a tona a questão da escravidão.
ExcluirOutra forma, é propor roteiros em outros locais da cidade que não apenas os tradicionais. Tenho um aluno que conseguiu colocar a comunidade que ele mora no Roteiro do Turismo. Houve modificação na área com o início da visitação. Cheguei a montar um pequeno cursoe História do Rio com foco em Copacabana para ele treinar monitores que atuam na comunidade.
São caminhos, espero ter te respondido.
Lúcio, bom dia! Primeiramente parabéns pelo texto.
ResponderExcluirDe fato, a sua enfase é voltada para as questões turísticas, e do profissional dessa área. Mas aos poucos a Educação Patrimonial tem ganhado cada vez mais espaço, não só como um conteúdo dentro da disciplina de história, mas também como uma disciplina independente (tenho um caso que a disciplina de Educação patrimonial está dentro da grade curricular do sétimo no colégio onde trabalho) infelizmente é um dos poucos casos, e ainda hoje ela é tratada como uma educação informal, (em museus, minicursos, oficinas e etc). Você conhece o Programa Mais Educação ligada a Educação Patrimonial voltado para as escolas públicas dos estados? Se sim, acredita que é algo que possa ser aplicado em qualquer escola pública do nosso país levando em consideração as diversas realidades?
Luana Maria da Silva Santos
Bom dia, Luana.
ExcluirConheço o Programa Mais Educação sim. Inclusive acredito que se ele tivesse o incentivo correto (pois atualmente os monitores tem uma remuneração muito baixa e nem sempre a escola tem tantos recursos para atividades para além de seu espaço estrito), tal programa poderia alcançar ainda mais o seu objetivo: promover diferentes formas de educação, senda a Patrimonial uma delas.
Mesmo escrevendo a partir de um olhar do ensino técnico, também sou professor da Educação Básica. Por isso, acredito que tais ações podem ser aplicadas em qual quer escola do país. Mas, não dá mesma forma. Por exemplo: na escola que atuo um dos projetos desenvolvidos por um colega de História é fazer o reconhecimento dos estilos arquitetônicos das casas do entorno. A escola fica na periferia e elas não são tombadas,m mas é possível ver exemplos de Eclético, Art Nouveau e Déco. Com isso os alunos percebem que as questões de arte e patrimônio não estão tão distantes deles. Em cada realidade haverá uma prática a ser conduzida.
Espero ter respondido.
Olá Jose Lucio, que legal ver seu trabalho correlacionando Turismo e História no viés da Educação Patrimonial. A interdisciplinaridade entre as áreas é total e tem atraído muitas pesquisas nos últimos tempos à exemplo de um GT sobre Memória do Turismo que ocorre nos encontros da ANPUH Nacional já há algum tempo e eu tive o privilégio de participar no último na UNB. Mas, tratando-se da delicadeza da abordagem do termo "Educação Patrimonial" que possui defensores e detratores entre os intelectuais em calorosos debates (vide a querela entre Marília Pereira Horta x Mário Chagas), qual viés teórico você tem optado para fundamentar suas pesquisas? E sobre a distinção, para Museus, entre Educação Patrimonial, Ações Educativas em Museus e Ensino em Museus que possuem abordagens e recortes teóricos ás vezes até divergentes, você já correlacionou isso ao diálogo entre a História e o Turismo, dado que entra nesse cenário um terceiro campo que é o da Museologia? Parabéns pela valiosa pesquisa!
ResponderExcluirProfa. Dra. Janaina Cardoso de Mello
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Mestrado em Ensino de História (ProfHistória - UFS)
Bom dia, prof. Janaína.
ExcluirNos conhecemos em um simpósio no Encontro regional da Anpuh Rio, em 2016. A senhora trouxe alguns trabalhos de orientandos, pois nem todos poderam participar.
Quanto a resposta, minha perspectiva de educação patrimonial parte de estudos de alguns historiadores (Pelegrini e Funari) que a percebem como possibiliares de práticas interdisciplinares, uma vez que são enfases do processo educativo. Tenho visto outras perspectivas, mas nem sempre possibilitam um prática e posicionamento interdisciplinar.
Não vejo, até o presente momento, como não vê-lá nessa perspectiva de práticas que auxiliam a pensar o processo pedagógico, onde o Museu se constui como local singular.
Espero ter respondido.
Boa tarde José Lucio!
ResponderExcluirMeu nome é Luis Felipe Sanches, e vim parabenizar pelo trabalho!
A Educação patrimonial é fascinante. Sou um pouco suspeito para falar devido o trabalho que faço e que aqui está exposto também.
Porém, me surgiu algumas dúvidas:
Deixa eu já te explicar, essas dúvidas surgiram a partir do momento que eu lia e pensava constantemente no meu projeto.
1-) Você já pensou na ideia de que o guia turístico seja uma narrativa sobre a cidade? Por quê não a hipótese de os próprios alunos trabalharem com guias turísticos feitos por eles próprios? Isso não geraria uma enorme carga cultural a realidade dele?
2-) Seria possível a criação de um curso capacitante para trabalhar com esses guias turísticos?
Ademais. Parabéns pelo trabalho e obrigado pela agradabilíssima leitura.
Luis Felipe Sanches
Bom dia, Luis Felipe.
ResponderExcluirPrimeiro me permita uma pequena diferenciação. Quando falamos em Guia Turístico nos referimos, grosso modo, aos livros sobre alguma localidade; quando falamos em Guia de turismo tratamos do profissional (formado em curso técnico de nível medio) e que atua na condução de turistas em uma determinada localidade.
Quanto a sua questão.
1 - Considerando as definições acima, o Guia turístico é um narrativa sobre o local, não sendo a única. Muitas vezes, pode trazer visões que contrastam com a da comunidade local. Existem estudos que se dedicam a examinar como a cidade (e/ou seus atrativos) são apresentados nesses livros.
Quanto aos alunos trabalharem com os próprios guias; na minha prática ao longo dos anos tenho optado por fazer uma mescla, ou seja, além de trazer para as aulas (tanto teóricas em sala quanto de visita técnica) atrativos consagrados, como novos locais possíveis de serem visitados. Isso se dá porque entendo que não basta formar os alunos apenas para conhecer os atrativos conhecidos e socialmente valorizados (no caso aqui do Rio de Janeiro, o Cristo Redentor, por exemplo). Mas, se faz necessário demonstrar como os estudantes podem, a partir dos conhecimentos trabalhados em sala partir para outras possibilidades. Nesse sentido, eles não elaboram guias turísticos (o formato de curso modular no qual trabalho não permite um trabalho de longo prazo como esse), mas são incentivados a criar roteiros e quando possível a visita técnica é feita pela mescla dos roteiros elaborados pelos discentes.
2 - No caso do Guia de turismo já existe a formação em nível médio. Porem, tal vez você possa estar falando em monitores. Tive a oportunidade de participar de uma capacitação para condutores locais promovida por uma ex-aluno em uma Comunidade aqui do Rio. Naquela oportunidade auxiliei o discente a montar um programa básica e ministrei três encontros sobre História do Rio de Janeiro. Ao final do segundo dia, fizemos a trilha que se iniciava na comunidade e vai até o alto do morro, de onde é possível ver vários atrativos da cidade, em especial da Zona Sul. Nessa oportunidade eu não era quem conduzia a atividade, mas os próprios educandos. Meu papel era de orientar o que estavam apresentado para que sua atuação pudesse ficar ainda melhor.
Espero ter respondido as perguntas e irei ler seu trabalho.