Introdução
Zé
Carioca: “Ora, venha me dar um abraço, um mesmo daqueles, um quebra-costelas,
um bem carioca, um bem amigo. Seja bem-vindo meu caro. O Pato Donald, veja você.”
(Cena de Alô Amigos, 1942).
Em
1942, Walt Disney lança o primeiro personagem animado brasileiro, o papagaio Zé
Carioca, dentro do filme Alô Amigos (Saludos Amigos). Neste filme, o famoso
personagem da Disney, Pato Donald, faz uma viagem pela América Latina, visitando
ao final do filme o Rio de Janeiro, ocasião na qual conhece Zé Carioca. O
papagaio brasileiro lhe dá um forte abraço e o leva a conhecer as maravilhas da
então capital do Brasil. Já em 1944, Zé Carioca retorna no filme Você já foi à Bahia? (The
Three Caballeros), no qual ele leva o Pato Donald a conhecer Salvador.
O aparecimento de um personagem brasileiro em
filmes da Disney na década de 1940 não foi por acaso. No contexto da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945), em que se confrontavam os Aliados (Estados Unidos,
Inglaterra e União Soviética) e o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) era de grande
importância para os norte-americanos assegurarem o apoio dos países
latino-americanos para a causa aliada. Dessa forma, a propaganda foi utilizada
como meio de ganhar esse apoio, com a abordagens de temas e personagens ligados
à América Latina no cinema.
O presente trabalho visa estabelecer um diálogo com
o ensino de História, chamando a atenção para
a importância do cinema como recurso didático nas aulas de História,
especialmente os filmes animados. Assim, nossos objetivos são: analisar as
representações do Brasil por meio de dois filmes de Walt Disney na chamada
política de “Boa Vizinhança” dos EUA na Segunda Guerra Mundial: Alô Amigos (1942)
e Você já foi a Bahia? (1945); analisar e compreender o personagem Zé
Carioca no contexto da política de “Boa Vizinhança”; indicar possibilidades de
utilização dos dois filmes nas aulas de História ao se discutir a temática da
Segunda Guerra Mundial.
O cinema como recurso didático no
ensino de História
O
cinema tem sido bastante abordado em pesquisas como fonte potencial para o
ensino de História. Longe de ver os filmes apenas como um mero recurso para
“passar o tempo” das aulas ou para distrair os alunos, entendemos que o cinema
pode possibilitar várias reflexões sobre os mais variados temas, estimulando os
alunos a construir uma visão mais crítica acerca dos conteúdos audiovisuais que
consome.
Oliveira,
Almeida e Fonseca sugerem três possibilidades de uso do cinema no ensino de
História: História do cinema; História no
cinema; e História com cinema. (OLIVEIRA, ALMEIDA; FONSECA, 2012, pp. 31-32). Nossa
proposta é de trabalhar a História com cinema,
que é análise do filme integrado à sociedade que o produziu. Nessa perspectiva,
segundo Marc Ferro, é preciso analisar as relações do filme com aquilo que não
é filme: “o autor, a produção, o público, a crítica, o regime de governo.”
(FERRO, 1992, p. 87). Nessa linha, objetivamos analisar os dois filmes animados
de Walt Disney levando em conta com os interesses norte-americanos a partir da
política de “Boa Vizinhança” em atrair a simpatia do Brasil e da América Latina
para a causa aliada.
Como
qualquer fonte e recurso didático, os filmes são um “documento/monumento”, pois
são “o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época,
da sociedade que o produziram.” Nesse sentido, “é preciso começar por
desmontar, demolir esta montagem, desestruturar esta construção e analisar as
condições de produção dos documentos-monumentos.” (LE GOFF, 2003, pp. 537-538).
Para fazer essa desconstrução do filme,
é essencial que o professor tenha um “domínio básico da linguagem
cinematográfica para poder usufruir junto com os seus alunos o máximo das
potencialidades do uso do filme em sala de aula.” (OLIVEIRA, ALMEIDA; FONSECA,
2012, p. 38).
Não
é necessário que o professor sempre promova a exibição do filme completo nas
aulas, algo que se torna difícil também de realizar devido à carga horária que
tem à disposição. Dentre as formas possíveis de exibição/assistência de um
filme dentro das atividades escolares, Marcos Napolitano aponta: a exibição, na
sala de aula, de cenas ou sequências
selecionadas pelo professor. (NAPOLITANO, 2013, p. 82). Dessa forma,
acreditamos que a seleção de cenas relacionadas ao Brasil é a melhor para os
objetivos pretendidos aqui, pois permite uma reflexão mais aprofundada nos
aspectos da política da “Boa Vizinhança” e na propaganda norte-americana, e um
foco maior na problematização do personagem Zé Carioca.
A Política de “Boa Vizinhança” do EUA na
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e a propaganda por meio do cinema
Antes
de comentarmos os filmes, torna-se necessário contextualizamos o período de suas
produções. Durante o regime do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) houve
uma forte aproximação comercial entre o Brasil e a Alemanha Nazista de Adolf
Hitler. A recuperação econômica alemã após a Grande Depressão de 1929 e os
avanços militares nazistas no início da Segunda Guerra atraíram grande simpatia
entre membros do governo brasileiro e círculos militares.
Neste
contexto, o governo de Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) sente a
necessidade de uma contra-propaganda favorável aos EUA, o que ficou conhecido
como Política de “Boa Vizinhança” dos EUA em relação a América Latina, cujo objetivo
era atrair os países à sua área de influência e afastar o perigo de uma aliança
com o Eixo. Para viabilizar essa política, em 1940 ocorre a criação de um
órgão, o Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA),
coordenado pelo multimilionário do petróleo Nelson Rockefeller (1908-1979).
A
OCIAA investiu fortemente em propaganda. Segundo Antonio Pedro Tota, Rockefeller
acreditava que o sucesso dos empreendimentos americanos na América Latina
dependia da venda não só de produtos americanos, mas também do “modo de vida
americano” (american way of life). O sucesso no campo econômico tornava
necessária uma base sólida no campo ideológico. (TOTA, 2000, p. 54). Dentro da
OCIAA havia a Divisão de Cinema, cujas funções eram:
“promover
a produção americana de filmes, curtas e longas, e de cinejornais sobre os
Estados Unidos e as ‘outras Américas’, distribuindo-os por todo o hemisfério
ocidental, isto é, para as Américas; produzir e estimular a produção, nos
países latino-americanos, de curtas e cinejornais que poderiam ser exibidos nos
Estados Unidos; combater por todos os meios o cinema produzido pelo Eixo;
convencer as grandes empresas cinematográficas de que não era uma boa política
distribuir filmes que transmitissem uma má impressão ou uma imagem
comprometedora dos Estados Unidos.” (TOTA, 2000, p. 65).
Segundo
Sidney Leite, o próprio presidente Roosevelt que indicou o nome de Walt Disney
a Rockefeller para atuar no projeto. Assim, dentro dos planos da “Boa
Vizinhança”, Disney visitou o Brasil em junho de 1941:
“O
convite de Rockefeller foi prontamente aceito por Disney. Seu estúdio
cinematográfico passava por problemas financeiros que levaram, inclusive, à
greve de seus funcionários. O governo americano assumiria todas as despesas com
a viagem e concederia 100 mil dólares para a produção de dois desenhos animados
que deveriam ter como tema os laços de solidariedade e fraternidade entre as
Américas. Além disso, a missão de representar o governo americano no exterior
contribuiria para amenizar os boatos sobre sua simpatia pelo nazismo.” (LEITE, 2006,
p. 84).
Cabe
ressaltar que essa política de Roosevelt de “desenvolver um cinema que
glorificasse o justo direito e os valores americanos” era anterior a 1941.
Ferro indica que entre setembro de 1939 e junho de 1940, há uma tendência de
filmes antinazistas nos EUA, com obras como Quatro
filhos, Fuga, O Grande Ditador, Correspondente estrangeiro e Tempestades
d’alma, “verdadeiro apelo aos alemães para derrubar Hitler”. (FERRO, 1992,
pp. 32-34). Dessa forma, os filmes de Disney estão inseridos num contexto maior
de opor, por meio da propaganda do cinema, o american way of life ao nazismo alemão.
Os filmes da “Boa Vizinhança”: Alô
Amigos (1942) e Você já foi a Bahia? (1944)
Walt
Disney, apoiado pelo governo de Roosevelt, lança dois filmes peças de
propaganda da política da “Boa Vizinhança”: Alô Amigos (1942) e Você
já foi a Bahia? (1945). Alô Amigos
trata-se de uma viagem dos personagens da Disney a alguns países da América do
Sul, como o Peru e a Argentina, além do Brasil. Dado os limites de espaço deste
texto, vamos nos concentrar na parte em que Pato Donald visita o Brasil.
Alô
Amigos representa o nascimento da amizade
entre Pato Donald e Zé Carioca, o papagaio brasileiro. Alexandre Ferreira
aponta que neste filme “fica explícito a cordialidade e a sedução”, que
carregam em si “uma preocupação de não vender uma imagem negativa dos vizinhos
da América Latina” (FERREIRA, 2007, p. 6).
Fig. 1: Cartaz do filme Alô
Amigos (Saludos Amigos)
O
Brasil aparece como um local com grandes riquezas naturais. O início da parte
referente ao país mostra florestas, rios, aves e frutas, ao som de Aquarela do Brasil, de Ary Barroso.
Donald então conhece Zé Carioca, que dá as boas-vindas e convida o amigo a
conhecer o Rio de Janeiro. Zé Carioca apresenta o samba, cujo som logo contagia
Donald, dançam pelo calçadão de Copacabana e param num bar para tomar cachaça. Ao
final, Donald dança nos bailes de Copacabana e da Urca com uma mulher cuja
sombra representa a cantora Carmen Miranda.
Fig. 2: Os “novos amigos”: Pato Donald e Zé Carioca se
abraçam. (Alô Amigos, 1942).
Fig. 3: Zé Carioca e Pato Donald tomando cachaça no Rio de
Janeiro. (Alô Amigos, 1942).
Apesar
do clima festivo, em Alô Amigos, há contradições e ambiguidades: Sidney
Leite sugere que Donald e seus companheiros não se comportavam como amigos,
“mas como turistas que visitavam terras exóticas”; aponta a “redução dos
nativos a tipos, desprovidos de personalidade e história, isto é, estereótipos”;
identifica que no Brasil, o carioca é caracterizado como “o malandro simpático
e cordial, a síntese do ‘espírito brasileiro’.” (LEITE, 2006, pp. 85-86).
Segundo
Camila Ferreira, o personagem Zé Carioca tem como características a “malandragem”,
sendo avesso ao trabalho, apreciador do samba, das mulheres, da praia e do
futebol. Sua aparência é uma referência a alta sociedade norte americana: paletó,
gravata borboleta, chapéu panamá, charuto e guarda-chuva; ele é inegavelmente
verde, mas em correspondência humana, seria branco. (FERREIRA, 2012, p. 162).
Alexandre Ferreira destaca que as cores do rabo de Zé Carioca são azul e
vermelho (cores da bandeira dos EUA), o que expressa o seu vínculo com o país
de seus inventores. (FERREIRA, 2007, p.
8).
Você
já foi a Bahia?, de 1944, demonstra, segundo Leite, “os
laços de fraternidade que aproximavam Estados Unidos, México e Brasil, naquele
momento unidos à causa dos Aliados e lutando na Segunda Guerra Mundial.”
(LEITE, 2006, p. 86). Na parte referente ao Brasil, Zé Carioca pergunta a
Donald se ele já tinha ido a Bahia. Segue-se então uma visão geral das riquezas
naturais do Brasil, as ruas de Salvador e a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, ao
som da música Na baixa do sapateiro,
de Ary Barroso, que descreve a Bahia como “terra da felicidade”.
Fig. 4: Cartaz do filme Você já foi a Bahia?
Antes
da viagem, Zé Carioca apresenta a Bahia a Donald, destacando as mulheres, a
música e a culinária:
Zé
Carioca: “Donald, você já foi a Bahia? Não? Ah, Bahia! Tão romântica, o ar,
música e garotas...” (Cena de Você já foi
a Bahia?, 1944)
Zé
Carioca: “Lá tem vatapá! Lá tem caruru! Lá tem mungunzá!” (Cena de Você já foi a Bahia?, 1944)
Chegando
a Salvador, eles conhecem Iaiá, “a baianinha tão bonita” que vende quindins.
Trata-de imagens reais de Aurora Miranda, que canta Os quindins de Iaiá, de Ary Barroso, ao lado do grupo musical O Bando da Lua. Donald logo se encanta
com Iaiá. Em certo momento fica enciumado com um músico que se aproxima de
Iaiá, perguntando a Zé Carioca quem ele era, ao que o papagaio responde: “ele é
um malandro, Donald”. Donald oferece flores a Iaiá e é recompensado com um
beijo. O filme segue pelas ruas de Salvador com cenas de dança e festa. Ao
final do passeio, Zé Carioca pergunta o que ele achou da Bahia, ao que Donald
aponta que é uma “maravilha”, dizendo que é romântica, que tem lua e “lindas
meninas”.
Fig. 5: Donald se encanta com Iaiá. (Você já foi a Bahia? 1944).
Fig. 6: Donald e Zé Carioca dançam junto com Iaiá e os “malandros”
em Salvador. (Você já foi a Bahia?
1944).
Ao
analisar este filme, Roberval Santiago observa que o Brasil e o México são
apresentados como “lugares exóticos cujas pessoas estão sempre alegres”. Esses
países são apresentados como “paraíso, objetos de desejos”, “à espera do
desfrute e do deleite dos ávidos expectadores-turistas norte-americanos.
(SANTIAGO, 2009, p. 12). Alexandre Ferreira indica que em Você já foi à Bahia?, a cidade de Salvador é a terra da felicidade,
Iaiá (“baianinha tão bonita”), marca o aspecto do turismo sexual dos
estrangeiros, o malandro (que tem sua aparência melhorada e carrega sempre
consigo um violão) é um conquistador barato de muitas mulheres. (FERREIRA,
2007, p. 8)
Santiago
apresenta um olhar crítico sobre os filmes de Disney, comparando-os inclusive
aos relatos de viajantes dos períodos colonial e imperial:
“Contudo,
a América do Sul decorada a partir dos pinceis coloridos de Walt Disney não passava
de uma região estilizada que se configurava nas poucas visitas que ele fez a
Colômbia, Venezuela, Bolívia, Peru, Argentina, Chile e Brasil. Os filmes de
Disney nos remetem às velhas impressões egocêntricas parecidas com os relatos
dos cronistas viajantes que retratava o Brasil, única e exclusivamente, sob o
olhar do inusitado, a estranha beleza do exotismo.” (SANTIAGO, 2009, pp. 12-13)
Já
Alexandre Ferreira aponta que um aspecto que requer atenção é o tratamento dos
desenhistas aos aspectos culturais da tradição dos países, “abordando todas as
dimensões como se fosse uma única realidade, desconsiderando a diversidade
cultural de cada um dos países diferentes entre si, e diferentes em si
próprios.” (FERREIRA, 2007, p. 2)
Dessa
forma, o que podemos ressaltar é que nos dois filmes da “Boa Vizinhança”
produzidos por Walt Disney durante a Segunda Guerra Mundial, há uma difusão de
estereótipos sobre o Brasil que visavam atender mais aos propósitos do governo
norte-americano em consolidar a sua hegemonia e afastar as influências dos
países do Eixo, do que realmente de entender as culturas e as diversidades do
Brasil e da América Latina. O que interessava era justamente o exótico, tratava-se
de estimular no público norte-americano o interesse em conhecer o Brasil por
meio de aspectos que provocasse curiosidade, contudo, de forma a exaltar o
diferente, e quem sabe, o primitivo, que seria de um país que está num patamar
abaixo dos EUA, logo, subordinado. Essa curiosidade não visava entender a
complexidade brasileira, mas apresentar mais um país “amigo”, possível local de
visitas de férias para diversão dos turistas.
Possibilidades de utilização dos filmes
de Disney em sala de aula
Diante
das discussões realizadas até aqui, como trabalhar com os filmes animados da
Disney nas aulas de História? Em nossa visão, estes filmes são mais indicados
para as séries maiores, seja o 9º ano do Ensino Fundamental ou o Ensino Médio,
pois exige uma maior maturidade crítica para relacionar os conteúdos
trabalhados com os filmes. Como mencionamos anteriormente, é mais viável também
que o professor selecione as cenas relacionadas ao Brasil nos dois filmes
animados, por uma questão de tempo e de foco.
É
essencial também que o professor, conforme Oliveira, Almeida e Fonseca:
“tenha
assistido previamente ao filme, verificando a adequação da temática aos
objetivos da disciplina, ao projeto pedagógico da escola, às expectativas e
repertório sociocultural da comunidade e, principalmente, ao desenvolvimento
cognitivo e emocional dos alunos.” (OLIVEIRA, ALMEIDA; FONSECA, 2012, p. 44).
Dentro
da perspectiva de se trabalhar a história com
cinema, consideramos importante, seguindo as sugestões de Napolitano, que o
professor “estimule o debate sobre a mensagem principal que o diretor ou o
sistema que produziu a obra quis fixar no receptor”. Quase sempre essas
mensagens “são de natureza político-ideológica ou ético-moral”, com uma função
ideológica e cognitiva fundamental. No caso do cinema norte-americano, consolida
e propaga valores ideológicos e morais do american
way of life. (NAPOLITANO, 2013, p. 94).
Assim,
sugerimos que o professor, que reconhecemos com um intelectual produtor de
conhecimento, formule atividades aos alunos que os estimulem a ter uma visão
crítica dos filmes, seja por meio de debate oral, questionários escritos,
elaboração de cartazes, desenhos ou vídeos, tendo como base algumas questões,
como:
a)
As representações do Brasil e da América Latina;
b)
Permanências/transformações dessas representações nos filmes da atualidade;
c)
As representações do personagem Zé Carioca;
d)
As reações do Pato Donald ao conhecer o Brasil;
e)
A intenção e a mensagem do filme e sua relação com o contexto histórico.
Estas
questões são de fácil identificação nos filmes de Walt Disney, e podem ser uma
referência inicial para os professores elaborarem as suas próprias questões de
acordo com a turma na qual trabalham. O essencial é que os alunos consigam, ao
final de estudarem os conteúdos relativos à Segunda Guerra Mundial e aos
assistirem e analisarem os filmes da “Boa Vizinhança”, exercitar um olhar mais
crítico em relação ao cinema, observando os interesses e mensagens por trás da
produção das animações. Isso pode estimular também para que os alunos sejam mais
críticos nos conteúdos que recebem diariamente por diferentes mídias, seja
cinema, televisão ou internet.
Referências
Geraldo Magella de Menezes Neto é
Professor da graduação e da pós-graduação em História da Faculdade Integrada
Brasil Amazônia (FIBRA), e do ensino fundamental da Secretaria Municipal de
Educação de Belém (SEMEC). Atualmente é Doutorando em História Social da
Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). E-mail: geraldoneto53@hotmail.com
Filmes
Alô amigos (Saludos
Amigos). Direção de Wilfred Jackson, Jack Kinney, Hamilton Luske, Norman Ferguson, Bill Roberts.
Produção: Walt Disney. Estados Unidos, 1942. 42 min.
Você já
foi à Bahia? (The Three Caballeros). Direção
de
Norman Ferguson. Produção: Walt Disney. Estados Unidos, 1944. 72 min.
Norman Ferguson. Produção: Walt Disney. Estados Unidos, 1944. 72 min.
Bibliografia
FERREIRA,
A. A produção Disney em época de Segunda Guerra Mundial: cinema, história e
propaganda. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24., 2007, São
Leopoldo, RS. Anais do XXIV Simpósio Nacional de História – História e
multidisciplinaridade: territórios e deslocamentos. São Leopoldo: Unisinos,
2007. CD-ROM.
FERREIRA,
C. Zé Carioca: um papagaio na periferia do capitalismo. Novos Rumos.
Marília, v. 49, p. 159-168, jan.-jun., 2012.
FERRO,
Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
LE
GOFF, J. História e memória.
Campinas-SP: Editora da UNICAMP, 2003.
LEITE,
S. Um pouco de malandragem. História Viva. Ano III, n. 30, p. 82-86, abr.
2006.
NAPOLITANO,
M. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2013.
OLIVEIRA,
R.; ALMEIDA, V.; FONSECA, V. História e Cinema. In: A reflexão e a prática no
ensino – Volume 6 – História. São Paulo: Blucher, 2012.
SANTIAGO,
R. Cartoons e propaganda política. Rev. Espacialidades, v. 2, n. 1,
2009.
TOTA,
A. O imperialismo sedutor: a americanização do Brasil na época da
Segunda Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Bom dia Geraldo,
ResponderExcluirA relação entre o Estado estadunidense e a produção cinematográfica hollywoodiana é antiga, configurando-se numa parceria de resolução de seus próprios interesses, propagandístico e financeiro, respectivamente.
Você estabeleceu alguma relação desses vídeos com a produção das próprias histórias em quadrinhos que se sucederam? A proposição continuou sendo a mesma?
Maicon Roberto Poli de Aguiar
Prezado Maicon, obrigado pela leitura e pela pergunta.
ExcluirA intenção do trabalho não era fazer a relação com os quadrinhos. Contudo, segundo Camila Ferreira, "Nesse ponto, é preciso diferenciar em Zé Carioca a perspectiva dos „filmes produzidos por estrangeiros e a dos gibis produzidos por brasileiros. No primeiro caso, ordem e desordem correspondem aos hemisférios Norte e Sul respectivamente". Nos gibis brasileiros, contudo, "esses pólos se mostram nos estereótipos regionais e na ótica de classe que veiculam. Quanto aos estereótipos regionais, Zé Carioca tem um primo em cada região do país, que a sintetiza e da qual é representante. Ao se abrasileirar, o malandro Zé continua sendo, de acordo com essa interpretação, o típico brasileiro, contudo, agora os gibis abrem
espaço para as peculiaridades – estereotipadas – regionais. Se antes, porque os destinatários dos
…filmes eram estrangeiros, as exoticidades eram buscadas em nível internacional, nos gibis essas são encontradas no contexto intranacional. Nosso papagaio faz várias incursões para conhecer os primos, mostrando o que há de pitoresco em cada canto: Zé paulista que, por demasiado trabalhador, é seu oposto; Zé Jandaia, o cearense irascível; Zé Pampeiro, o gaúcho de facão dos pampas; Zé Queijinho, o caipira mineiro que come de tudo; e Zé Baiano, exageradamente preguiçoso. Cada região apresenta a…finidades maiores ou menores com a ordem."
Geraldo Magella de Menezes Neto
Boa noite, Geraldo.
ResponderExcluirÉ sempre um prazer fazer a leitura de seus trabalhos.
Este imperialismo político, econômico e cultural dos Estados Unidos na América Latina vem de longa data (founding fathers, destino manifesto, mito da fronteira, Monroe, Big Stick) e é um dos fatores responsáveis por entender todo o território "ao sul do rio grande" como mercado consumidor, pobre, primitiva e culturalmente homogêneo.
Para além desta "boa vizinhança", cujo imperialismo cultural estadunidense ajudou a cristalizar estereótipos, podemos dizer que a representação da natureza nesta fase pode ter influenciado na tentativa de um novo imperialismo, atual, mais mascarado, maquiado, de cunho ambiental? Justificando o controle da região amazônica pelos Estados Unidos a partir de uma incapacidade governamental brasileira?
Abraços
Heraldo Márcio Galvão Júnior
Boa tarde Geraldo, O artigo demonstra com muita clareza a influencia da América do Norte sobre países latinos como Argentina, México e Brasil, no uso de estratégias da propaganda e cinema, colocando a tona de que a cultura Norte América é superior as demais, menosprezando e estereotipando as culturas latinas. O uso dessas estratégias para diminuir a influencia nazifascista na América Latina.
ResponderExcluirO Governo americano obteve 100% de êxito sobre o governo brasileiro, já nesse período o Brasil se tratava de um governo ditatorial e como relacionar a influência da cultura estadunidense nesse período como o contexto atual da sociedade brasileira ?
Paulo Moreno Sanches Dias
Prezado Paulo, obrigado pela leitura e pela pergunta.
ExcluirPodemos dizer que essa política da Boa Vizinhança foi bastante efetiva, não apenas como garantia do apoio do Brasil aos Aliados, mas também em perspectiva a longo prazo. Antônio Tota fala em "americanização" do Brasil, haja vista que antes o modelo cultural padrão era o francês, e passou a ser o norte-americano, expresso até hoje nas palavras em inglês que usamos diariamente, nos filmes de Hollywood, nas redes comerciais presentes no Brasil etc.
Geraldo Magella de Menezes Neto
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ResponderExcluirAo escolher certos desenhos animados, é necessário um cuidado especial, visto que muitos desses desenhos trazem mensagens da elite dominante. Diante disto,o uso dos desenhos animados podem ser realmente ferramenta útil para o uso pedagógico?
ResponderExcluirJéssica Ewelyn Oliveira da Cruz.
Prezada Jéssica, obrigado pela leitura e pela pergunta.
Excluirconforme mencionamos no trabalho, o filme, como fonte histórica, se utilizado criticamente pode ser bastante útil no processo de ensino aprendizagem, justamente para questionar os valores e ideologias que o cinema hollywoodiano pretende passar, ainda mais num contexto tão complexo como o da Segunda Guerra Mundial.
Geraldo Magella de Menezes Neto
Boa noite! Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo belo trabalho!
ResponderExcluirDurante sua pesquisa, você se deparou com outras produções cinematográficas, nas quais eram possíveis visualizar a difusão dessas mesmas ideologias? Se sim, você poderia me indica-las?
Ítalo Souza Lima
Prezado Ítalo, obrigado pelo elogio.
ResponderExcluirVocê fala em termos de filmes animados? Caso sim, o exemplo mais explícito é o filme "Der Fuehrer's face", no qual o Pato Donald sonha que está na Alemanha Nazista, com o filme fazendo uma crítica forte à ideologia nazista, como um regime de opressão e alienação, sendo totalmente oposta a democracia norte-americana. É uma clara propaganda de guerra antinazista.
Geraldo Magella de Menezes Neto
Boa noite!
ResponderExcluirFoi muito prazeroso ler o seu texto. Parabéns pelo seu trabalho! Desconhecia o filme "Você já foi à Bahia?" e agora estou muito curiosa em relação ao mesmo. No que tange ao influxo da Política de Boa Vizinhança sobre a produção cinematográfica vinculada à cultura brasileira ou a representação que se tem desta, tive algumas questões: este/esta prosseguiu com a mesma força após o término da Segunda Guerra Mundial? Em caso afirmativo ou negativo, a que isso se deveu? Os seus resquícios, atualmente, podem ser encontrados na indústria do cinema, na imagem, projetada para o mundo, que se constrói acerca do Brasil, de seus habitantes, de sua fauna e de sua flora, de suas práticas culturais? Obrigada pela atenção!
Caroline Cardoso de Almeida
Entendo que as representações do Brasil no cinema norte-americano ainda possuem semelhanças com os filmes animados da Disney no período da Segunda Guerra. Assim, como traz resquícios do tempo da colonização, quando os europeus projetaram imagens do Brasil como um “outro” exótico, selvagem, atrasado, muito diferente, portanto, dos europeus, e nos séculos seguintes da América do Norte, difundidos por eles mesmos como desenvolvidos e civilizados.
ExcluirGeraldo Magella de Menezes Neto
Bom dia aos autores!
ResponderExcluirEm primeiro lugar quero parabenizar os autores pela iniciativa. Na Universidade em que me graduei, um colega apresentou sua monografia sobre o longa "Você já foi a Bahia" e a política de Boa Vizinhança, foi quando tive um contato mais efetivo com esta produção. Acho fantástico trabalhar com filmes como fontes históricas, pois enriquece demais a metodologia de ensino. Na opinião de vocês, autores, como foi a receptividade dos alunos quanto a obra escolhida por vocês? E como foi a receptividade da escola? Digo isto porque, muitas escolas não veem com "bons olhos" o uso dos filmes em sala de aula.
Desde já agradeço.
Vitória Duarte Wingert
Olá Vitória, muito obrigado pela leitura. Só uma correção, o trabalho só tem um autor, rsrs.
ExcluirInfelizmente ainda não utilizei estes filmes na educação básica, porque as últimas turmas que tenho lecionado eram do 6º e 7º anos, séries que tradicionalmente não abordam o conteúdo da Segunda Guerra Mundial. Já apresentei e discuti os filmes com os alunos do curso de graduação em História, e a receptividade foi muito boa, com vários questionamentos e interesses dos futuros professores em utilizá-los em sala de aula. Creio que com um bom planejamento por parte do professor a recepção com certeza também será boa nas escolas.
Geraldo Magella de Menezes Neto.
Saudações.
ResponderExcluirParabéns pelo tema. Já assisti ambos os desenhos quando criança, mas não conhecia a intenção velada. Ainda estou na graduação, mas achei muito interessante e uma ótima dica de utilização em sala. A temática ajuda a trabalhar o aluno para temas atuais, como torná-los críticos ao que recebem hoje diariamente. Há algum desenho atual que teria algo semelhante?
Prezado Luiz Adriano, obrigado pela leitura e pela pergunta.
ExcluirEm relação a uma imagem estereotipada do Brasil, podemos citar o filme animado “Rio”, que também divulga o Brasil como um local de farta natureza e sensualidade. Há também um episódio da série “Os Simpsons” que causou grande polêmica, mostrando os brasileiros como malandros e a presença de macacos nas ruas. Enfim, esses estereótipos do Brasil ainda são bem comuns nas grandes mídias produzidas pelos norte-americanos.
Geraldo Magella de Menezes Neto.
Olá professor Geraldo, parabéns pela clareza na exposição das intensões ideológicas nas duas animações. Sendo assim, o senhor considera viável a utilização de recursos semelhantes em séries menos avançadas, numa tentativa de desconstruir nos alunos do ensino fundamental a noção de que animações são inocentes, e que também podem funcionar como ferramentas de controle ideológico?
ResponderExcluirAtt, VALDEMIR CAVALCANTE PINTO JÚNIOR.
Prezado Valdemir, obrigado pela pergunta.
ExcluirOs filmes podem ser utilizados como recursos didáticos em qualquer série, respeitando a faixa etária dos alunos e fazendo uma relação com os conteúdos abordados em sala, com um bom planejamento. O audiovisual certamente atrai mais os alunos do que as fontes escritas, então o professor pode fazer um bom aproveitamento dessa recepção que os alunos irão dar aos filmes, escolhendo aqueles que podem auxiliar mais no ensino-aprendizagem da História.
Geraldo Magella de Menezes Neto.
Boa noite!
ResponderExcluirQuando os desenhos retratam o personagem Zé Carioca com características como a “malandragem”, avesso ao trabalho, apreciador do samba, das mulheres, da praia e do futebol, fica implícito (ou, muito explicito a visão externa do Brasil). Em sua pesquisa o autor se deparou com alguma reação brasileira contra a visão apresenta do Brasil nas animações!?
Atenciosamente,
Lucas Aguirre De Bortoli
Prezado Lucas Aguirre, obrigado pela leitura e pela pergunta.
ExcluirInfelizmente não encontrei referências à possíveis reações negativas ao filme. Sidney Leite fala que a mulher do presidente Getúlio Vargas, Darcy Vargas, era bastante fã dos filmes da Disney, e quando Alô Amigos foi transmitido para o presidente, sua família e membros do governo, a reação à época foi bastante positiva. É possível que tenha havido questionamentos, contudo, devemos lembrar que trata-se do contexto do Estado Novo, que censurava a imprensa, talvez não permitindo a veiculação de notas críticas ao filme por ir contra um aliado em tempos de guerra.
Geraldo Magella de Menezes Neto.
Geraldo, primeiramente quero parabenizá-lo pelo trabalho que trás uma leitura bastante clara, objetiva e prática. Minha pergunta visa ampliar um pouco mais o debate.
ResponderExcluirComo se sabe, o Nazismo também usava a arte como meio de propagar suas ideologias, em suas pesquisas você teve conhecimento de que tenha sido produzido algum material cinematográfico pelos nazistas ou por outros países do Eixo em que se faz referências a América Latina ou ainda buscassem uma aproximação com a mesma?
Outra questão é que uma das sugestões dadas para trabalho em sala é estimular o debate das “Permanências/transformações dessas representações nos filmes da atualidade”, dentre as produções de grandes estúdios que referenciam o Brasil hoje são os Filmes Rio 1 e 2 que também trazem essa idéia de país de natureza exuberante, alegre e mesmo sensual, algumas dessas ideias propagadas desde o período colonial, como mencionado no texto ao citar Santiago, na sua opinião, por que esses tipos de estereótipos sobre o Brasil são tão fortes e recorrentes?
Abraços!!!
JOHN JORGE DE SOUSA GOIS
Olá Geraldo, quero te parabenizar pela excelente produção, pois a mídia é uma grande arma para compreensão da linguagem para o aluno. Em relação ao recorte histórico que escolhestes na abordagem da mídia, existem outras produções de animação que podem ser trabalhadas no assunto da 2a Guerra, tendo em vista a sua percepção crítica para com os desenhos?
ResponderExcluirUm forte abraço!!!
VINICIUS MACHADO FERREIRA
Boa noite! O tema proposto foi muito bem elaborado e particularmente gostei bastante, pois o uso de recursos visuais e auditivos ajudam na aprendizagem em sala de aula retirando a monótonia da aula expositiva, mas gostaria de saber como demonstrar na aula pra os alunos as reais intenções das partes envolvidas?
ResponderExcluirAmanda Borges Pereira
Parabéns pelo excelente trabalho, o uso de recursos audiovisuais tem sido bastante viável em sala de aula.E concordo da necessidade de se considerar a maturidade dos alunos para que realmente compreendam a mensagem. Eu conheço estas e algumas produções da Disney relacionadas a segunda Guerra, e gostaria de saber se há produção da Disney relacionada a outros contextos históricos? Se há, poderia me indicar?
ResponderExcluirAbraço!!
Ana Joana.