CANTANDO PELA IGUALDADE:
DEBATE SOBRE MÚSICA E MOVIMENTO POR DIREITOS CIVIS EM SALA DE AULA
As constantes disputas políticas em torno das aulas de história no
ensino básico, principalmente quando se tem em vista o endurecimento dos
regimes políticos, estão diretamente relacionadas com a capacidade que o ensino
de história tem para despertar o senso crítico e a possibilidade de
complexificar a compreensão da realidade vivida. É devido a essa característica
que a disciplina se viu em diversos momentos cortada do quadro base ou, até
mesmo, controladas para o debate exclusivo daquilo determinado pelo governo.
Tendo em consideração que o professor de história conta com uma série de
recursos didáticos possíveis para desenvolver essa capacidade entre os alunos,
a proposta desse trabalho é apontar para o uso da música popular em sala de
aula, como um dos caminhos para se desenvolver o senso crítico entre os jovens.
O uso da música no ensino
de História
A
música nunca esteve tão presente no cotidiano de crianças e adolescentes como
agora. A internet permite que os usuários baixem álbuns inteiros, acessem conteúdo
musical e vejam videoclipes online; os mais novos smartphones e aparelhos eletrônicos estão repletos de aplicativos e
recursos sonoros; na TV há diversos programas e até mesmo canais exclusivos de
música; diferentes fones de ouvidos são usados como se fossem um adereço obrigatório.
Tudo isso permite um extenso contato do jovem de hoje com os mais variados
estilos musicais.
Mas
a música não é apenas um conjunto de notas, ou até mesmo sons e ruídos, ela é
também o resultado de inúmeras vivências coletivas e individuais com as
experiências de diversas sociedades ao longo da história (DUARTE, 2011, p. 11).
Ou seja, a música se faz mediante ao tempo, estando associada às tradições e
culturas de cada época. Dessa forma, ela também consiste em evidências,
registros e resquícios do passado, que auxiliam na compreensão histórica,
podendo ser utilizada, portanto, como uma fonte documental. E, se no meio
acadêmico o historiador faz uso das fontes como ferramenta indispensável para a
construção do conhecimento científico, no ensino de história elas passam a ser
utilizadas como instrumentos didáticos (ABUD, 2005, p.310).
Para
melhor elucidar como a música pode ser utilizada no ensino de história, Katia
Abud (2005, pp.312-313) explica que o aluno já carrega consigo “conceitos
espontâneos”, isto é, os conhecimentos adquiridos pelo educando a partir de sua
própria experiência de vida. O que a educação formal faz é aproximar e
relacionar esses “conceitos espontâneos” com o conhecimento científico. Para
realizar esse processo, a disciplina de História conta com dois conceitos
importantes: a evidência e a empatia histórica. A evidência consiste justamente
nas fontes históricas. Estas funcionam como documento ou prova que atestam e
ajudam a entender como determinado evento aconteceu. E, como foi demonstrado, a
música popular pode servir muito bem como fonte histórica, podendo, então, ser
aplicada como evidência no processo de ensino.
Já
a empatia, de acordo com Ferreira (2002), ocorre quando os alunos se identificam
com o contexto do momento estudado, passando a entender como os agentes
históricos pensavam. O autor diz que “a empatia está associada à simpatia, à
projeção de sentimentos ou, mesmo, à identificação com outros personagens”
(2002, p. 58), sendo assim, é a partir da empatia que se tem o ponto de vista
de grupos que, de um modo diferente de nós, acreditaram, valorizaram e sentiram
determinados processos ou eventos. Sob esse aspecto, a música pode estabelece a
empatia entre o aluno e o compositor, de forma a facilitar a compreensão do mesmo
sobre o momento histórico. Isso está ligado ao fator da linguagem musical
estimular o lado afetivo-emocional do educando o que contribui para a formação
da consciência histórica (DUARTE, 2011, p.120). Em resumo, as canções populares
podem ser aplicadas no ensino de história para construir a ponte entre conhecimento
espontâneo e científico, na medida que se constituem tanto como evidências do
passado, como também possibilitam o desenvolvimento da empatia histórica. Acrescenta-se
que além de permitir a assimilação de conhecimentos específicos, a música
também auxilia no desenvolvimento da socialização, na construção do
sensível-artístico e na formação da consciência política, princípios
importantes para a educação.
No
entanto, apesar de inúmeros estudos comprovarem a eficácia da música como
elemento didático no ensino de história (FELIX; SANTANA; OLIVEIRA JUNIOR, 2014),
sua prática ainda encontra muita resistência. Isso se dá primeiramente no meio
acadêmico: os trabalhos historiográficos que tem a música popular como fonte ou
objeto de pesquisa, enfrentam tradicionalmente o desprezo das universidades e
agências de fomento sobre a área (MORAES, 2000). Napolitano (2007, p.154)
aponta que desde 1990 os trabalhos que tratam a música popular como fonte tem
crescido significativamente na área de história, mas mesmo com o avanço das
últimas décadas o uso da canção popular como fonte continua bastante restrito e
precário. Tal descrédito acaba se refletindo no ensino de história, cujos
materiais e manuais didáticos quando trabalham com a linguagem musical, o fazem
pouco e de maneira superficial. Segundo Felix, Santana e Oliveira Junior (2014,
p.22) os próprios professores da rede básica ainda se apresentam muito céticos
ao uso da música popular em sala de aula, o que acaba afastando ainda mais os
educandos desse recurso.
Acreditamos
ser um erro ignorar os benefícios que a música traz para a educação e visamos
discutir neste trabalho algumas possibilidades e alternativas para sua utilização
como ferramenta didática. Mas para isso, se faz necessário primeiro compreender
algumas questões problemáticos de quando a música é trabalhada em sala de aula.
O primeiro, é o fato de que, normalmente, são priorizados gêneros musicais como
a MPB dos anos 60, o samba e o movimento de vanguarda tropicalista. A razão
disto é que os estudos sobre música popular no Brasil se detém tradicionalmente
sobre esses temas consagrados, no entanto, há uma série de outras temáticas e
gêneros musicais interessantes para serem abordadas no ensino, como demonstraremos
à frente. Além disso, há a questão dos materiais didáticos se limitarem,
geralmente, à análise de letras, desprezando outros aspectos importantes de sua
formação (ABUD, 2005, p.313). Quanto a isso, é importante se ter em mente que o
surgimento da música popular está intimamente associado a um momento de
expansão da indústria cultural, através da canção registrada em fonograma, ou
seja, gravada em disco, e de que, há uma série de agentes responsáveis pelo resultado
final da música ouvida que devem ser considerados. Assim é necessário que os
alunos escutem a música, e que nas aulas sejam considerados todos os aspectos
da canção além da letra, como a sonoridade, os instrumentos utilizados, entre
outros fatores.
Enfim,
são variadas as aplicações da música em sala de aula, mas deve se considerar o
desenvolvimento natural do aluno e a necessidade do aprendizado ativo, que
instiguem o desejo por novas descobertas e façam o aluno se tornar um protagonista
do processo – justamente por isso chamado – de ensino-aprendizagem. Isto requer
todos os sentidos: ver, ouvir, tocar, sentir, experimentar e até provar, se
possível. O ensino deve envolver a compreensão por meio de conceitos e
princípios, a aplicação dos conhecimentos, desenvolvendo não só a habilidade
reprodutiva, mas também crítica dos alunos, e fornecer informações necessárias
para que se possa transformar o meio em que estão inseridos.
As músicas em sala de aula: movimento
pelos direitos civis e o gênero gospel
Foi a partir da discussão exposta acima que se viu a
necessidade de expandir o uso da música em sala de aula e para isso foi criada
uma sequência didática nomeada ‘Cantando pela igualdade: música e Movimento por
Direitos Civis nos Estados Unidos em sala de aula’, disponível on-line no link
que segue nas referências deste texto. Como visto, a música na disciplina de
história pode ajudar a desenvolver habilidades, definir conceitos sociais e
estimular o aluno a observar, questionar, investigar e o meio em que vive e os
eventos do dia a dia, através da musicalidade.
A aplicação da sequência didática ocorreu
para os 3os anos do Ensino Médio da Escola de Aplicação da
Universidade de São Paulo. Após a leitura do Projeto Político Pedagógico da
escola verificou-se a inexistência de aulas programadas que envolvessem a
música como ferramenta didática em nenhum dos anos do ensino médio. Dessa forma
percebeu-se aí uma outra lacuna a ser preenchida. Após uma conversa com os
alunos para saber o que pensavam sobre trabalhar com música como fonte
histórica, mostraram-se receptivos.
Cabe
aqui discutir rapidamente o movimento por direitos civis nos Estados Unidos, o
qual existiu durante todo o século XX, mas seu primeiro grande ato de protesto
ocorreu em dezembro de 1955, após a prisão de Rosa Sparks, na cidade de
Montgomery, no estado do Alabama. Após o fim da escravidão em todo território
estadunidense, em 1865, os estados que ainda mantinham a escravidão durante a
Guerra Civil criaram cada um, a seu ritmo, leis que
segregaram a sociedade e impediram negros de frequentarem espaços públicos
utilizados por brancos, até mesmo desvantagem jurídicas, como não poderem abrir
inquéritos contra brancos. Essa política de diferenciação racial foi combatida
pela população negra, é claro, durante o fim do XIX e início do século XX, mas
foi após Rosa Sparks que correntes diferentes do movimento negro se uniram
contra as leis segregacionistas (ALVES, 2011, pp.60-61).
Foi
então que a figura de Martin Luther King Jr. surgiu como voz unificadora de
movimentos diferentes, mas que se fortaleceram juntos em busca da igualdade
social nos Estados Unidos. As mobilizações atingiram o ápice entre os meses de
junho e agosto de 1963. O Departamento de Justiça registrou mil quatrocentas e
doze manifestações distintas e mais de quinze mil prisões devido a protestos
ocorridos em cento e oitenta e seis cidades do país. Em agosto de 1963, uma
passeata conhecida como Marcha de Washington levou mais de duzentas mil pessoas
a ouvirem Martin Luther King Jr. pronunciar o seu discurso mais famoso (ALVES,
2011, pp. 63-65).
É
para este quadro histórico que se formulou a sequência didática, visto o papel
fundamental que as canções exerceram durante todo o movimento por direitos civis.
Por meio de apresentações ao vivo, gravações e publicações, os artistas negros
lançaram em seu repertório questões sociais como o trabalho, bem como
expressaram um posicionamento político que defendeu as lutas por igualdade e
também os direitos civis (ARANTES, 2014, p. 12). Foi escolhido, para se
trabalhar na sequência didática, o gênero musical gospel, cantado originalmente
nas igrejas batistas de negros do sul dos Estados Unidos, se espalhou em
dezenas de músicas de protestos durante as décadas de 1950 e 1960. É importante
salientar o caráter orgânico deste gênero, o qual nasceu a partir de outro,
chamado spiritual, que por sua vez
teve suas raízes ligadas às worksongs,
como eram chamadas as músicas cantadas por escravos durante o trabalho,
contendo já ali um grande teor
religioso e de congregação. Dessa forma, o principal objetivo da sequência
didática foi debater o movimento por Direitos Civis a partir das músicas, mas
não só, também compreender o papel destas na construção de todo o movimento e
analisar as músicas a partir de suas letras, melodias, interpretações
diferentes a partir das experiências próprias do alunado e sua vivência.
A sequência didática foi planejada, assim, especificamente
para o 3o ano escolar do
ensino médio, pois o tema tratado se remete ao século XX e partir das matrizes
curriculares do Ministério da Educação (MEC), o conteúdo deste trabalho é
recomendado o aluno desse ano escolar. O que não impede, claro, que adaptações
sejam feitas para a aplicação em outros anos escolares.
A partir da audição das músicas e dos debates
em sala de aula, foi possível trabalhar não apenas o conteúdo relacionado à
música e à luta por direitos civis, mas também fundamentar noções cidadãs de
respeito à multiplicidade cultural. Também foi objetivo desse projeto a
construção do conhecimento a partir da carga cultural de cada aluno,
pretendendo-se discussões abertas e feitas a partir das canções – nossa
principal ferramenta para a aula. Foi intenção dessas aulas também assegurar um
ensino efetivo e econômico (sem grandes dispêndios financeiros) e alcançar após
as das 3 (três) aulas planejadas, que os alunos tenham desenvolvido
conhecimentos acerca do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos e,
principalmente, compreendido a função das músicas selecionadas para o período.
Foram três aulas para cada turma, com
a aula exercida já em meados de novembro, final do seu último ano de ciclo
básico, e com os vestibulares à porta, os alunos dos 3os ficaram
mais dispersos, apesar disso, houve bastante adesão por parte do alunado,
comprometimento com as aulas e com os exercícios propostos.
Para início de aula, apresentou-se um
vídeo que pudesse levar os alunos ao tema da aula, a música ‘Oh Freedom’,
interpretada pelo grupo ‘The Gospel Singers’ e encontrada no Youtube. Após a
apresentação vídeo, ambas as turmas chegaram ao tema movimento por direitos civis.
Ao questionar os alunos a razão de terem chegado tão rápido, responderam que
assistiram na aula de Sociologia o filme Selma.
Após essa pequena apresentação, o
próximo passo foi a discussão do quadro histórico. Para tal, formulou-se alguns
tópicos que foram discutidos com os alunos para contextualização do período,
visto que tinham estudado Segunda Guerra Mundial, mas não tiveram aulas sobre a
Guerra Civil estadunidense. A partir de então, iniciou-se a apresentação das
músicas e suas posteriores discussões propostas na sequência didática original.
As músicas escolhidas para as aulas foram do gênero gospel, pois durante o
movimento por direitos civis as igrejas batistas, conhecidas por reunirem
grupos musicais, que reúnem os protestos para alcançar a igualdade nos direitos
civis, o incentivo àqueles que não estavam participando das marchas e também
não deixam de citar o conteúdo daquela religião, mas a qual não foi explorada
pela sequência didática.
As aulas com as músicas do movimento
pelos direitos civis nos Estados Unidos foram, em geral, uma excelente experiência.
Tudo correu bem em relação aos equipamentos técnicos, a relação com os alunos,
bem como a participação das turmas. Cabe ressaltar que uma das turmas teve
participação mais ampla que a outra nas discussões, tendo mais questões e
apontamentos mais específicos em relação às músicas. Outro ponto alto foi as
participações dos alunos, que se mostraram muito interessados em estudar
história a partir das músicas. Em geral, cantavam enquanto a música tocava e
até mesmo acompanhavam o ritmo batendo palmas e estalando os dedos. Procuraram
e conseguiram argumentos e opiniões não só com as letras das músicas, mas com
suas melodias, tratando da música no seu período histórico ideal e sem levar a
discussão para o presente deles, discutindo ao máximo o período histórico
determinado pelas músicas.
Por fim, as atividades feitas pelos
alunos se mostraram num alto nível de capacidade argumentativa. As respostas
foram, em geral, muito próximas do esperado, sendo possível observar a
construção do conhecimento a partir da carga cultural de cada aluno. Mesmo
aqueles que não tiveram aproximação com o gênero musical presente nas aulas, trouxeram
aspectos interessantes em suas respostas, conseguindo articular muito bem as
músicas com o quadro histórico respectivo, os quais buscaram associações com as
músicas que hoje eles escutam, como o rap, lembrando a existência de músicas
brasileiras de protesto, a exemplo de ‘Eu só quero é ser feliz’.
Considerações Finais
Apesar
de ser uma tarefa extremamente complexa, ela pode ser desempenhada de forma
competente, buscando favorecer o crescimento de cada um dos estudantes dentro
desse contexto. Foi nesse ambiente que se percebeu o resultado das ações e
atitudes do professor, influenciando nos aprendizados e relações de cada aluno
consigo mesmo, com os demais e com o ambiente que o cerca.
O uso
da música em sala de aula se mostrou extremamente proveitoso para o professor
de história. Além disso, a possibilidade de criar seu próprio material didático
é bastante relevante, visto que se consegue sair de quadros estáticos do livro
didático e tem a possibilidade de adequar melhor sua aula a cada realidade
vivida, a cada escola e a cada turma.
Referências
Anna Maria Greco
Carvalho é graduanda no bacharelado e licenciatura em História na Faculdade de
Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. E-mail: anna.maria.carvalho@usp.br
Carlos Eduardo
Nicolette é mestrando em História Social pela Faculdade de Filosofia Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e integra o Centro de Estudos de
Demografia Histórica da América Latina (CEDHAL). E-mail: carlos.nicolette@usp.br.
ABUD, Katia Maria. “Registro
e representação do cotidiano: a música popular na sala de aula”. Cadernos
CEDES, n.o 67, v. 25, Campinas, 2005, pp. 309-317.
ALVES, Amanda Palomo. Do blues ao movimento pelos direitos civis: o
surgimento “black music” nos Estados Unidos. Revista de História, 3, 1 (2011),
p. 50-70 . Disponível em: http://www.revistahistoria.ufba.br/2011_1/a04.pdf.
Visualizado em: 31/01/2018.
ARANTES, Mariana Oliveira. Canto em marcha: música folk e direitos civis
nos Estados Unidos (1945-1960). Tese (doutorado), Universidade de São Paulo.
São Paulo, Disponível em: http://www.franca.unesp.br/Home/Pos-graduacao/tese-mariana-oliveira-arantes.pdf.
Visualizado em: 01/02/2018.
DUARTE, Milton Joeri
Fernandes. A música e a construção do conhecimento histórico em aula. Tese de
Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
FELIX, G. F. R.;
SANTANA, H. R. G.; OLIVEIRA JUNIOR, W. A música como recurso didático na
construção do conhecimento. Cairo em Revista, Ano 3 nº4, 2014, p.17-28.
FERREIRA, Martins. Como usar a música
na sala de aula. 2a edição, São Paulo, Editora Contexto, 2002.
MORAES, José Geraldo Vinci de Moraes. História
e Música: canção popular e conhecimento histórico. Revista Brasileira de História, n.o 39, v.20, São Paulo, 2000,
pp. 203-221.
NAPOLITANO, Marcos. História e música
popular: um mapa de leituras e questões. Revista
Brasileira de História, n.o 157, São Paulo, 2007, pp. 153-171.
NICOLETTE,
Carlos Eduardo. Cantando pela igualdade: música e movimento por direitos civis
nos estados unidos em sala de aula. Academia: São Paulo, 2016. Disponível em: https://www.academia.edu/29811756/Cantando_pela_igualdade_música_e_Movimento_por_Direitos_Civis.
Visualizado em: 02/01/2018.
Boa tarde. Muito boa a discussão que vocês trouxeram no texto. Há uma temática que também pode ser debatida com letras de músicas e que tem relação com a aquisição de Direitos. As músicas da Elza Soares: Mulher do Fim do Mundo, Maria da Vila Matilde, entre outras, faz com que possamos discutir a violência contra mulher em sala de aula. Essa é uma metodologia que pretendo trabalhar com meus alunos.
ResponderExcluirAs. Talyta Marjorie Lira Sousa Nepomuceno
Olá, Maria Flor, boa tarde! Agradeço o comentário.
ExcluirOuvi as músicas que citou da Elza Soares e são interessantísimas! Acredito que pode um fazer ótimo trabalho com os alunos a partir delas, a discussão sobre resistência que Anna e eu fizemos nesse artigo ainda poderia ser mais elaborada na questão do gênero, visto que no Movimento por Direitos Civis também foi discutido, inclusive presente em várias músicas! Obrigado pelo comentário, acho que podemos acrescentar ainda mais conteúdo na aula.
O plano de aula elaborado e que inspirou esse texto pode ser acessado no link: https://www.academia.edu/29811756/Cantando_pela_igualdade_música_e_Movimento_por_Direitos_Civis . Acho que ele mostra melhor como imaginamos uma aula sobre o tema utilizando as músicas como fontes!
Um abraço,
Carlos Eduardo Nicolette. E-mail: carlos.nicolette@usp.br
Boa tarde.
ResponderExcluirA música sem a menor sombra de dúvidas é uma fonte didática muito forte. Ela maximiza a lembrança dos conteúdos abordados por causa também da melodia que facilita essa memorização.
Gostaria de saber na opinião de vocês o porque a música não é difundida como forma didática também nas graduações?
JIULIANO RODRIGUES DE ABREU
Aluno Licenciatura História - UECE
Olá, Jiuliano, boa tarde! Agradeço o comentário e a pergunta.
ExcluirOlha, realmente é bem pouco difundido nas graduações, mesmo aquelas que focam exclusivamente na licenciatura. Não quero ser muito taxativo na resposta, pois acredito que seja bem aberta para discussão. Mas acredito que existem 3 pontos que podem levar a uma resposta: 1) Aquela velha questão sobre o que é e o que não é fonte histórica. É relativamente recente nos estudos históricos considerarmos a música como documento para pesquisa e isso acabou pouco se difundindo e ainda é minoritário na área acadêmica a pesquisa sobre. 2) Isso leva ao ponto que temos poucos professores qualificados para debater e ensinar numa faculdade sobre como utilizar a música enquanto fonte para compreensão de determinada sociedade, o que gera um efeito cascata até chegar no ensino básico, onde a música é quase que excluída do ensino de história (tendo lugar, poucas vezes, em português para estudo exclusivo das letras. 3) O ensino público brasileiro nunca visou um ensino cultural abrangente (apesar da Constituinte de 1988 e suas seguintes inserções, como a Lei de Diretrizes e Bases, tenham tentado estabelecer um currículo amplo). Foi e tem sido muito difícil estabelecer um currículo cultural que pratique/discuta a cidadania através de eventos culturais, cada vez mais se foca no ensino técnico e voltado para o mercado de trabalho. Visto isso, acredito que o interesse do sujeito que chega na graduação para se formar (seja história ou outra área) está muito pouco voltada para a música ou para outros meios de ensinar, também não vendo nisso uma possibilidade de estudo.
Essa são minhas impressões sobre como a música enquanto estudo tem se mantido fora da sala de aula... Mas caso queira, deixe também suas impressões e vamos dialogando!
Um abraço,
Carlos Eduardo Nicolette. E-maiil: carlos.nicolette@usp.br
Boa Noite, de fato a música é um instrumento necessário para trazer a educação para essa geração atual, que é tão conectada com o som e a web. Gostaria de saber a opinião dos autores,sobre a história do gênero Rap através da história de luta, principalmente do movimento negro.
ResponderExcluirAtenciosamente,
Leonardo Irene Pereira Guarino
Olá Leonardo! Muito obrigada pelo comentário :)
ExcluirQuanto a sua questão sobre o Rap, eu creio ser um material riquíssimo para se trabalhar em sala de aula, principalmente tendo em vista o grande potencial que há dos alunos se identificarem, tanto com o gênero musical, quanto com o assunto. Vale lembrar, no entanto, que seria preciso trabalhar com um recorte cronológico diferente do proposto nesse trabalho, mais voltado para os anos 70 e 80, que é quando o rap vai se desenvolver nos EUA. Além de trabalhar com o movimento negro, também é possível abarcar outras minorias como os hispânicos, que tem papel importante no desenvolvimento desse gênero nos Estados Unidos. Uma sugestão de material para usar na sala de aula é a série The Get Down, que, situada no Bronx, conta a história do gênero musical nos anos 70, em meio a uma narrativa que trabalha com diversos conflitos sociais do período. Apesar de ser ficcional, a maioria dos nomes mencionados da série é de MCs e e DJs que realmente existiram. Passar alguns trechos selecionados dessa série numa aula poderia permitir que os alunos sentissem um pouco do que significava ser pobre e negro na periferia de uma grande cidade, e como o rap poderia ser uma arma contra isso. Por fim, penso que seria interessante ao final de uma aula sobre o rap, o professor trazer nomes contemporâneos brasileiros como Criolo, Racionais, Sabotage, Emicida, que trazem em suas letras problemas sociais ainda muito presentes no Brasil para os jovens que vem da periferia.
Enfim, são só algumas sugestões de como o tema poderia ser trabalhado.
Caso tenha suas próprias ideias sobre como fazer uma aula assim, comenta aqui, e vamos dialogando.
Abraço,
Anna Maria Greco Carvalho
email: annagreco1997@hotmail.com
E sobre a questão do gênero gospel, gostaria de saber se os autores não acham que entornar músicas religiosas, nao ferem a laicidade da sala de aula?Pois a maioria da população é cristã,e isso ia contra uma minoria como a do candomblé por exemplo, pois como estudos e dados são divulgados, a intolerância religiosa no Brasil é alta.
ResponderExcluirAtenciosamente,
Leonardo Irene Pereira Guarino
Olá, Leonardo, boa noite! Uma excelente e ‘espinhuda’ questão! Obrigado =)
ExcluirSeu posicionamento em questionar o perigo de uma postura ‘religiosa’ em sala de aula é perfeito, acredito que trabalhar com gêneros musicais específicos necessite todo o cuidado e atenção do professor. Acho que todas as vertentes musicais e culturais têm espaço numa escola democrática e que as religiões enquanto espectros culturais também têm seu espaço de discussão. Mas aí ficamos com a questão: até onde avançar no debate para não ferir o princípio laico? Princípio esse que julgo essencial e um enorme avanço na educação brasileira.
Acredito que os limites da discussão e do debate vão variar de Estado para Estado, cidade para cidade, escola para escola, turma para turma... Entretanto, focar no respeito à laicidade é crucial! Mas também precisamos trabalhar com aspectos religiosos em sala de aula, pois senão como poderíamos estudar a Idade Média? Ou mesmo outros períodos. Mas fico aqui o aguardo de sua opinião também, para podermos enriquecer o debate.
Especificamente sobre esse plano de aula criado (link:) e que gerou este artigo, foi escolhido o gênero gospel para discutir o Movimento por Direitos Civis nos EUA, justamente pelo peso que o Gospel teve nos debates à época (como músicas de protesto, entoadas por grandes líderes, como Martin Luther King Jr.). Entretanto, o foco do artigo incidiu sobre o gospel, mas no plano de aula debate-se também uma música do Folk, gênero que também teve relevância nesse Movimento. Sobre isso, faço duas observações: 1) O gospel precisa aparecer no plano de aula e na exposição do professor (apesar de não aparecer aqui no artigo, principalmente por falta de espaço) inserido na cultura negra do sul dos Estados Unidos, visto que o Gospel advém do Spirituals, que por sua vez têm seu nascimento ligado às canções de trabalho dos africanos escravizados. Em outras palavras, o Gospel americano da década de 60 tem uma herança negra extremamente forte e contextualizado em 60 se destaca mais o tom de protesto por Direitos Civis à população negra do que o caráter religioso (no plano de aula estão todas as músicas sugeridas, bem como suas traduções e links para acesso no Youtube). 2) O Movimento por Direitos Civis teve um caráter religioso muito forte, além de grande parte das reuniões dos grupos de protesto terem sido feitos dentro de igrejas, a principal voz, Luther King Jr., era pastor e sempre trazia em seus discursos temas religiosos, então acredito que abordar nesse tópico de aula o gênero gospel é crucial para entender o próprio Movimento por Direitos Civis.
Para finalizar, deixo um trecho de uma das músicas sugeridas, justamente uma que está muito ligada à memória social da população negra do sul dos Estados Unidos.
“Oh freedom, oh freedom, oh freedom over me
And before I'd be a slave I'll be buried in a my grave
And go home to my lord and be free”
Tradução:
“Oh, liberdade, oh, liberdade, oh, liberdade sobre mim
E antes que eu seja um escravo, estarei enterrado em meu túmulo
E irei para casa do meu senhor e serei livre”
Um abraço e continuemos o debate!
Carlos Eduardo Nicolette. E-mail: carlos.nicolette@usp.br
Opa, esqueci de colocar o link do plano de aula! É esse aqui: https://www.academia.edu/29811756/Cantando_pela_igualdade_música_e_Movimento_por_Direitos_Civis.
ExcluirAbraços!
Carlos Eduardo Nicolette
Concordo, que no EUA o gênero gospel está mais ligado aos movimentos, mas no caso aqui no Brasil seria o Rap e Funk, que estão mais ligados com a população negra e das comunidades, apesar que atualmente o funk está sendo marginalizado pela classe média, justamente pelo seu amplo apelo social para as classes mais marginalizadas da sociedade, abordar o funk e o rap, seria questionador para aumentar o debate na sala de aula.
ExcluirSem dúvida, Leonardo, no Brasil o rap e o funk (bem como o samba carioca da primeira metade do XX) estão atrelados à cultura afrodescendente. Vejo em trabalhar o gênero gospel no Movimento por Direitos Civis como uma oportunidade de poder ampliar ainda mais as discussões com o alunado. Acho que os dois temas, gospel nos EUA da década de 60 e rap/funk brasileiro são muito importantes para um ensino crítico e de qualidade, sem desmerecimento a nenhum deles. Uma educação plural é que tenha como foco o desenvolvimento cultural do alunado não pode deixar de lado realizações importantes de várias culturas e religiões. O mais importante é como se aborda cada um dos temas.
ExcluirAtt.
Carlos Eduardo Nicolette
Olá
ResponderExcluirO Brasil tem um história de movimentos musicais com esse intuito de luta social, a exemplo do Tropicalismo e MPB na Ditadura Militar. Porém hoje em dia observa-se nos estilos musicais mais exposto pela mídia uma falta de compromisso com questões do âmbito social.
De que forma o professor pode utilizar letras de clássicos, quando o aluno se mostra em sua maioria tão distantes destes estilos? E como como as letras mais populares podem ser utilizadas como fontes de problematização social?
Obrigada
Débora Schmidt
Olá Débora,
ResponderExcluirMuito obrigada pelo comentário e pela pergunta.
De fato, é uma questão difícil.
Existe várias possibilidades de trabalhar com músicas dos gêneros MPB, samba e Tropicalismo relacionando com o contexto da Ditadura Militar. Muitos materiais didáticos já trazem sugestões do tipo. Mas, realmente, tem sido cada vez mais difícil cativar os alunos com esses estilos. No entanto, penso que o professor pode aproveitar a oportunidade para apresentar ao aluno um novo gênero musical, ampliando seu conhecimento cultural.
Neste sentido, para instigar os alunos, quando for trabalhar com MPB, por exemplo, o professor pode recorrer a algumas estratégias:
1) Por exemplo, pedindo que os alunos façam uma pesquisa em casa com os pais, tios, avós, que tipo de música eles escutavam quando eram jovens, traçando assim uma ligação de gerações entre o aluno e a música.
2) O professor pode mostrar para os alunos que MPB era só um dentre vários gêneros escutados na época da Ditadura (A maioria das pessoas gostava mesmo era de ouvir Roberto Carlos, Wilson Simonal), assim como hoje, em que há uma vasta diversidade de gêneros musicais, dos quais poucos tem caráter crítico.
2) Quando apresentar uma música para os alunos, o professor pode contar mais do contexto de produção da música, a história do artista, as intrigas e conflitos que rodearam a música, as inovações artísticas, etc; Essas informações ajudam a diminuir as distâncias entre o aluno e a música.
3) O professor pode ainda passar algum vídeo sobre o tema. Há vários documentários interessantes como Uma Noite em 67, Doces Bárbaros, etc. O recurso visual geralmente aumenta o interesse dos alunos.
Agora, também seria muito interessante se o professor conseguisse usar músicas que os próprios alunos trouxessem para a sala de aula. Claro que isso nem sempre é possível. Mas há gêneros brasileiros atuais como rap, funk, que carregam em suas letras grandes críticas sociais e tem muito apelo aos jovens.
Enfim, são algumas sugestões. Certamente é uma tarefa difícil, mas nem por isso devemos abandonar a música em sala de aula.
Um abraço!
Anna Maria Greco Carvalho
annagreco1997@hotmail.com
Primeiramente, parabéns pelo texto e a abordagem do tema.
ResponderExcluirNo texto você trata da abordagem musical para apresentar e aprofundar um tema histórico, apresentando uma ótima experiência com a música americana dos anos 60 e a luta por direitos civis e alguns professores já fazem essa abordagem para apresentar MPB anos 60/ditadura e Rap/problemas sociais, mas fora esses temas, acredita que a música atual pode trazer um debate para os jovens, contextualizando o tema e como fazer sem deixar a abordagem rasa.
Obrigado
Moacir José Batista
Trabalho com história e música em minha pesquisa e tenho em mente que ela pode ser muito enriquecedora para o ensino pois os estudantes tendem a se lembrar mais de assuntos com abordagens diferentes porem como trabalho com o hip hop tenho receio de trabalhar com tais temáticas em certos espaços da cidade, como o centro da cidade por conta de um preconceito que o genero possa sofrer sofre. Como me sugere abordar tais temáticas.
ResponderExcluirDesde já agradeço
Vitória Andrada Oliveira
Olá! Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirTrabalho com música no Ensino de História, mas não tenho utilizado o conceito de empatia histórica, então agradeço pela lembrança e vou ler sobre o tema.
Também achei interessante utilizar a música gospel dos EUA ao falar da luta pelos direitos civis no país. Vou dar uma lida no link e ver se de alguma maneira posso adaptar para minhas turmas de 9o ano.
Alguns comentaram aqui, até de forma crítica, o uso da música gospel em sala de aula, o que feriria a laicidade do ensino ou as consciências dos alunos não protestantes/evangélicos. Gostaria primeiro de dizer que discordo totalmente dessas afirmações. O problema seria usar essas músicas de maneira proselitista. Diferente do que se parece pensar, a escola é um espaço de discussão em busca do respeito entre todos e isso não pode ser alcançado jogando temas debaixo do tapete. Que se fale de música gospel, de candomblé, de catolicismo, de hinduísmo, emfim. Então minha pergunta é: você encontrou esse tipo de reação nas suas turmas, alunos questionando o uso de música gospel, ou o contrário, ficando felizes por a música gospel estar sendo utilizada?
Monaquelly Carmo de Jesus