Bruno Silva de Oliveira e Rodrigo Henrique Araújo da Costa


AS MULHERES EM 'GAME OF THRONES': REFLEXÕES SOBRE AS PERSONAGENS EM RELAÇÃO COM AS REPRESENTAÇÕES DA MULHER NA IDADE MÉDIA


Neste artigo, pensaremos algumas das principais figuras femininas em Game of Thrones, produção televisiva da HBO dos EUA, a partir de 2011, dirigida por David Benioff e D. B. Weiss e baseada na série de livros do romancista e roteirista norte-americano George R. R. Martin, As Crônicas de Gelo e Fogo, com universo de fantasia épica ambientado em um mundo fictício medieval, portanto, de similaridade com elementos da cosmogonia da Idade Média.

A série transcorre em continentes imaginários, Westeros e Essos, num momento onde a atual Casa passa por fragilidade ao enfrentar o declínio de seu poder e revoltas e oposições que se seguiram após o falecimento do rei Robert Baratheon. Vários dos setes reinos que compõem o continente de Westeros estão em guerra, uns almejam assumir o trono e governar como único rei, outros desejam apenas sua independência, deixando assim de servir ao Trono de Ferro. Para Michel Foucault, em Ética sexualidade e política, “Ao longo de toda a Idade Média, predominou a ideia de que todos os reinos na terra seriam um dia unificados em um último império (...).” (2004, p. 307). Ideia similar, dadas as devidas proporções, em Game of Thrones. O mundo de Game Of Thrones é assolado por intrigas, trapaças, assassinatos e corrupção. Tendo nas relações de poder um espaço predominantemente masculino.  Mas muitas mulheres desempenham papeis importantes e decisivos. Como as mulheres se sobressaem nessa história? Esta é a questão principal.

Em alguns filmes de temática medieval, observamos as diferenciações sociais dentro dos reinos, a realeza e a corte em primeiro plano, a plebe e as mulheres em posições subalternas. É o caso de Lancelot, O primeiro cavaleiro (Direção de Jerry Zucker/1995) e de Coração Valente (Direção de Mel Gibson/1995), com personagens mulheres reduzidas a uma posição de delicadeza, inocência e submissão em comparado com a posição masculina de guerreiro, herói e rebelde. Ao longo da produção fílmica de ambientação medieval, geralmente, as mulheres estiveram em papeis de subserviência e dependência aos homens. É através desse olhar de mudança de posição social que analisamos a ruptura da posição feminina presente na perspectiva de Game of Thrones. Parte de nosso intuito é observar como e de que forma essas mulheres foram representadas. Tendo esse objetivo, cabe fazermos questões basilares: como é vista a figura feminina nesse meio no qual está inserida? Que poder é utilizado para legitimar sua condição social? Como se portava nesse ambiente reinado pelo sexo masculino?

Ao se pensar no feminino, o que se vê no medievo são aspectos de subserviência, controle, opressão e discriminação por parte da sociedade, que via apenas na figura masculina o poder para reger a política, a justiça e a religião. Observamos na História das sociedades ocidentais uma série de mudanças ocorridas com as mulheres. Elas foram, durante séculos, representadas como inferiores por terem sido criadas da costela de Adão, conforme a mitologia judaico-cristã. Há a presença de um fator religioso e dogmático que serve como argumentação para colocar a mulher como um ser inferior. Assim, o “sexo frágil” era visto como “naturalmente” inferior ao “sexo viril”, conforme imagem medieval “A alma de uma mulher e a alma de uma porca são quase o mesmo, não valem grande coisa” (MACEDO, 1997, p.22). É importante observar que em sociedade alguma é homogênea a forma como o sexo feminino é tratado, sendo possível encontrar as mulheres em médios e altos postos das estruturas de poder. Analisemos a seguinte reflexão:

“Entretanto, as aristocratas rurais, da alta nobreza ou apenas castelãs, foram chamadas inúmeras vezes para o cumprimento de atividades reservadas aos homens. A constante ausência dos companheiros, afastados em viagens, peregrinações, cruzadas ou guerras privadas obrigavam as esposas a substituí-los na administração das posses de família” (MACEDO, 1997, p.30-31).

Esse aspecto está presente na personagem Catelyn Stark, nos episódios The Kingsroad e Lord Snow, referentes à primeira temporada. Ela é uma senhora da alta nobreza que se vê diante da administração de suas terras e castelo, devido à ausência de seu companheiro. Enquanto ela cuidava dos afazeres domésticos, tricotar, preparativos para receber convidados, como vimos ao longo da primeira temporada, seu marido cuidava de questões econômicas e jurídicas. Esta personagem se vê diante da ausência de Eddard Stark, seu companheiro, e tem de lidar com as atividades próprias aos homens, ocupando assim um espaço de poder que não lhe era destinada, e tendo que manter a ordem e a lei de seus domínios.


Fig.1

Ao pensar nas opressões sofridas pelas mulheres tem-se em mente de que, exclusivamente, vinham por parte do sexo masculino, porém, José Rivair Macedo nos diz o contrário, conforme seguinte trecho:

“Entretanto, não devemos pensar na mulher medieval como um grupo compacto oprimido pelos homens. (...) A opressão muitas vezes foi exercida pelas mulheres poderosas sobre as suas dependentes. Nas crônicas familiares do século XII foram registradas diversas cenas no interior das casas aristocráticas que reproduzem as mesmas relações de poder ocorridas entre os homens. A estruturação da casa e das relações familiares lembram uma “pequena monarquia”. A esposa do senhor, a dama, comporta-se com o marido em relação aos seus dependentes, tiranizando as domésticas e no caso de ser sogra, menosprezando a nora” (1997, p.26).

Portanto, nesta citação, verifica-se a opressão por parte das mulheres para com outras mulheres em relação de dependência na hierarquia social. Também é perceptível que numa mesma residência nobre ocorressem distinções sociais, de classe e de poder, marcadas por tiranias e opressões. Game of Thrones exibe muitas dessas características, acima. Notamos também o abuso cometido por senhoras bem-nascidas, ou que conseguiram ascender socialmente, para com aquelas que se encarregavam de lhes servir, as chamadas “aias”. É errôneo, então, atribuir exclusivamente ao homem o papel de único responsável por sobrepujar a mulher, embora, vejamos majoritariamente nos homens esse papel, devido ao arraigamento do machismo na sociedade patriarcal.

Entretanto, essa situação de inferioridade se fez presente também em outras civilizações ao longo da história. Podemos citar como exemplo Constantinopla, onde a mulher viveu em grandes limitações, sobretudo jurídicas, que as restringiam ao meio doméstico, não podendo exercer cargos públicos ou ofícios religiosos, devendo manter os cabelos longos, como sinal de submissão e calar-se nos lugares de culto. Observemos a passagem, abaixo:

“A inferioridade feminina provinha da fragilidade do sexo, da sua fraqueza ante os perigos da carne. No centro da moral cristã existia uma aguda desconfiança em relação ao prazer. Ele, segundo os moralistas, mantinha o espírito prisioneiro do corpo, impedindo-o de se elevar em direção a Deus” (MACEDO, 1997, p.19).

Podemos concluir que a questão da sexualidade vem a ser um dos pontos usados contra a mulher, retratada como tentadora e a culpada por levar o homem ao chamado Pecado Original. Muitas vezes a mulher é retratada com características diabólicas e poderes demoníacos. Conforme Jean Delumeau em História do medo no ocidente, a mulher era um “Mal magnífico, prazer funesto, venenosa e enganadora, a mulher foi acusada pelo outro sexo de ter introduzido na terra o pecado, a desgraça e a morte” (2009, p. 468). Isto é similar ao evidenciado na série Game of Thrones, no qual diversas mulheres são usadas como objetos, exibidas de maneira subjugada. Frequentemente, prostíbulos são retratados com mulheres disponíveis para saciar os desejos masculinos. São incontáveis as cenas em que vemos o sexo feminino despido, com partes do corpo à mostra, enquanto ao homem cabe exibir sua virilidade, frente ao papel coisificado da mulher. Igualmente, na obra escrita de George R. R. Martin, notamos a seguinte passagem de descrição de um prostíbulo: “Entraram por uma sala de estar cheia, onde uma mulher gorda cantava canções obscenas enquanto bonitas mulheres vestidas com camisas de linho e panos de seda colorida se encostavam nos amantes e eram embaladas em seus colos” (2010, p. 145). Atentemos para trecho de A mulher na idade média, abaixo:

“Mesmo fora dos períodos de abstinência, o contato carnal era rigorosamente disciplinado. Deveria ocorrer na posição natural, com a mulher deitada de costas e o homem sobre ela. Todas as demais posições eram consideradas escandalosas. A mulher não deveria demonstrar sensação de prazer. Deveria manter-se passiva durante todo o ato. A posição em que praticava o sexo, sob o marido, indicava a situação de submissão de que dela se esperava” (MACEDO, 1997, p.20).

Esse trecho nos remete a uma cena onde a personagem Daenerys Targaryen é vendida como esposa para um povo tido como “bárbaro”, por não compartilhar do idioma e dos costumes dos povos “civilizados”. Na cena, que mostra a relação sexual dela com Khal Drogo, líder de um khalasar, espécie de tribo, tem-se essa noção de subordinação. Vê-se isso em uma cena de sexo violento como um estupro, algo que denota a condição de inferioridade da mulher. Entretanto, cabe-nos questionar: até que ponto esse comportamento sexual presente em Game of Thrones corresponde e se relaciona às representações sexuais verificadas no medievo?


Fig.2

A própria noção de casamento põe a mulher da Idade Média como algo passivo de venda, muitas vezes, com objetivo de troca de privilégios. Casamentos arranjados, sobretudo, para fortalecer alianças, manterem-se no poder e conseguir vantagens. Daenerys Targaryen seria um exemplo disso, vendida pelo irmão que queria em troca um exército para levar a guerra e tomar o Trono de Ferro, tornando-se assim, rei de Westeros. José Rivair Macedo analisa algo relacionado ao exposto:

“O discurso dos religiosos sobre o casamento foi endereçado aos homens. O casamento garantia a estabilidade das relações determinadas pelo sexo masculino [...] Sexos diferentes, ambos uniam-se pelo casamento. Contudo, não se tornavam iguais. Considerada responsável pela queda da humanidade no pecado, a dominação do esposo sobre ela e as dores do parto eram vistos como o seu castigo” (MACEDO, 1997, p.19).

Torna-se clara, desta forma, na análise do medievo ocidental em relação com a análise fílmica da série Game of Thrones, a influência e poder da religião e do Governo dos homens. O papel da Igreja Católica no medievo se encarregou de tomar medidas extremas por meio da Inquisição e do Tribunal do Santo Ofício. Perseguidas como hereges e bruxas, muitas mulheres foram condenadas, julgadas e executadas. Ainda sobre as mulheres tidas como feiticeiras e bruxas foi elaborado um “manual de caça às bruxas”, datado de 1486-1487, chamado malleus maleficarum. O trecho de José Rivair Macedo pode ser elucidativo: “Por serem mais fracas na mente e no corpo, não surpreende que se entreguem com mais frequência aos atos de bruxaria” (2007, p.2). É interessante nos determos às características das mulheres no medievo para compreender o evento conhecido como “caça às bruxas” e fazer a relação com a análise fílmica da série. De acordo com Macedo:

“A crise moral que envolveu as lideranças da Igreja nos séculos XIV e XV, a crise moral revelada pela proliferação de inúmeras heresias, finalmente, as crises sociais e econômicas constantes nesse período trouxeram consigo uma nova visão do mundo, de Deus, do demônio e dos males praticados em seu nome. Profundas mutações ocorreram na mentalidade dos ocidentais. (...) O diabo, até então inofensivo ante a onipotência e a onipresença divina, ganhou importância na imaginação das pessoas, inclusive dos clérigos. O medo do demônio gerou o medo das feiticeiras. O medo de ambos gerou a perseguição e o extermínio do inimigo visível: as bruxas” (MACEDO, 1997, p. 65).

Compreendemos então que a mulher considerada feiticeira seria muitas vezes aquela que possuía algum conhecimento que fosse além dos pressupostos e dogmas católicos. Algum contato intelectual, medidas que amenizassem as dores do parto (já que a mulheres “deveriam sentir tais dores”), uso de ervas para determinadas doenças, ou comportamentos tidos como masculinizados, como por exemplo, Joana D’arc, passavam a ser suspeitos.

Um exemplo semelhante ao dessa guerreira pode ser encontrado em Game of Thrones, na personagem Brienne de Tarth, uma mulher bem nascida, que devido a sua fisionomia passa a sofrer deboches e ridicularizações, rebela-se e resolve abrir mão de sua posição como dama partindo para uma vida nômade, porém, vestida com cota de malha, armadura e empunhando uma espada, itens reservados aos homens. Sua trajetória na trama segue enfrentando inúmeros conflitos com êxito e indo contra as imposições sociais. A personagem Arya Stark também é construída com características heterogêneas às normas. Vistas de maneira negativa, Joana D’arc, Brienne de Tarth e Arya Stark são exemplos reais e ficcionais da crueldade da padronização de normas impingidas pela sociedade machista às mulheres.


Fig.3



Fig.4

No que diz respeito às práticas consideradas hereges, lembramos a personagem Cersei Lannister, nascida nobre e ocupando posição de rainha. Ela seria, dentro dos padrões e normas de conduta, um mau exemplo, uma vez que pratica o incesto com o irmão, com o qual possui três filhos. Ao ser descoberta pelas forças religiosas da trama, enfrenta um processo no qual se espera que sejam confessados seus crimes, mas ela é presa em uma espécie de calabouço, trajando trapos, sem direitos e recebendo a presença de uma figura religiosa, uma septã, ocasião em que foi torturada. Aqui, está outra semelhança com a Inquisição. Outra cena importante, na quinta temporada, intitulada Mother’s Mercy, exibe sua punição, a “caminhada da penitência”, onde teve de caminhar nua pelas vielas da cidade até seu palácio, a Fortaleza Vermelha, situação em que plebeus se aglomeram para atirar fezes e assistir a figura da alta hierarquia recebendo a punição aos olhos dos Sete, deuses presentes na trama. Pensando essa cena, alguns aspectos podemos elencar: 1) o rigor com que se aplicam as leis dos deuses aos homens, sobretudo às mulheres; 2) a aplicação das leis divinas na alta hierarquia pontuando assim que “a lei é igual para todos”; 3) o contentamento da plebe ao contemplar uma pecadora da alta nobreza recebendo sua punição.


Fig.5



Fig.6

Percebemos que a produção da HBO, bem como a obra de Martin, têm promovido um grande empoderamento feminino, dando destaque a essas personagens. Outro exemplo é Lyanna Mormont, uma criança que acaba por assumir o cargo mais importante de sua Casa. No primeiro episódio da sétima temporada, intitulado Dragonstone, apresenta-se uma discussão política e, ao abordarem a guerra, o próprio rei fala sobre a necessidade de ensinarem as mulheres a lutar. Eis que um personagem se ergue e diz, “Espera que ponha uma lança na mão da minha neta?”, ao que Lyanna Mormont levanta-se e profere: ”Não pretendo ficar tricotando enquanto homens lutam por mim”. Aqui, estão presentes a mulher e seu discurso de poder. Sua política revela que seu lugar-social não é somente tricotando. Cersei Lannister também é um exemplo disso. Ao longo de toda a série, ela auxilia no regimento dos Sete Reinos, em Westeros, recebendo várias denominações, tais como Rainha-Mãe e Rainha-Regente. Daenerys Targaryen vem a ser outro exemplo, revelando sua evolução nas estruturas de poder até a ascensão como rainha.


Fig. 7

Na trama idealizada por George R.R. Martin, a feitiçaria é um elemento sempre presente e atribuído às mulheres, como revela Anne Llewellyn Barstow: “Ter um corpo feminino era o fator que provavelmente tornava alguém mais vulnerável a ser chamado de feiticeira” (1995, p.34). Diferentemente dos estereótipos criados para as feiticeiras, notamos na série que elas são belas e que exercem grande influência. Peguemos, como exemplo, Melisandre, a Feiticeira Vermelha. Ela possui conhecimento intelectual, pratica rituais dentre eles o sacrifício humano, possui poderes sobrenaturais, desejo carnal e forte influência sobre o homem que acredita ser o escolhido por R’hllor, o Deus Vermelho, a quem ela serve. Todavia, não encontramos aspectos que a identificariam com a representação de bruxa, tendo em vista que esse seria o resultado de algo grupal. Algo semelhante trata Macedo: “A ligação das atividades mágicas, características da feiticeira, com o culto demoníaco e a depravação sexual alterou sua imagem anterior, transformando-a progressivamente na bruxa. O fenômeno da bruxaria, ao contrário da feitiçaria, é grupal. Temia-se não apenas a bruxa, mas a reunião delas: o sabat” (1997, p. 65).


Fig. 8

É importante trazermos à tona as novas linguagens historiográficas, principalmente, buscando pensar sobre uma série de TV que alcança os maiores recordes da atualidade. Ressaltamos que por ser uma produção ficcional, a retratação dos cenários medievais nunca é fiel na linguagem televisiva. Também é a oportunidade de abrirmos discussão sobre a diferença entre a obra fílmica e a obra de Martin. O próprio George R. R. Martin reconheceu inspiração na Guerra das Duas Rosas, uma série de batalhas entre as casas de Lancaster e York, ocorridas no século XV, na Inglaterra. Certamente, novas críticas surgirão, como a recente publicada no El País, “La Edad Media no fue como cuentan en ‘Juego de Tronos’”, de autoria de Ana Rodríguez, pesquisadora do CSIC, Madri, Espanha. Sem dúvidas, Game of Thrones merece maiores considerações. As reflexões apresentadas podem ser úteis; temos a dimensão de que a mulher na Idade Média não pode ser vista de modo totalizante e unitário. Do mesmo modo, sabemos que a série não é uma retratação medieval em si, mas de menção e inspiração. A relação produção fílmica e História amplia cada vez mais o campo do fazer histórico. Passamos para outro desafio, o de historiar sobre a relação entre produção de séries de TV e História. De encontro ao pensamento de Marc Ferro, que analisava o filme a partir da produção de sentido, tentamos fazer o mesmo com Game of Thrones, relacionando tal produção fílmica com a História.

Referências
Bruno Silva de Oliveira é graduando em História pela Universidade Federal de Campina Grande, monitor bolsista na disciplina de História Medieval Ocidental.
Rodrigo Henrique Araújo da Costa é doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Prof. Me. em História pelo PPGH/UFPB.

BARSTOW, Anne Llewellyn. Chacina de feiticeiras: uma revisão histórica da caça às bruxas na Europa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995.

DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente. São Paulo, Companhia das Letras, 2009.

FERRO, Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
FOUCAULT, Michel. Ética, sexualidade e política. Ditos & escritos V. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

KRAMER, Heinrich; SPRENGER, James. Malleus Maleficarum: O Martelo das Feiticeiras. Rio de Janeiro: Record; Rosa dos Tempos, 2004.

MACEDO, José Rivair. A mulher na idade média. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1997.

MARTIN, George R. R. A guerra dos tronos. As crônicas de gelo e fogo, livro 1. São Paulo: Leya, 2010.

RODRÍGUEZ, Ana. La Edad Media no fue como cuentan en ‘Juego de Tronos’. El País, 15 de abril de 2017. Link: https://elpais.com/cultura/2017/04/12/actualidad/1492014207_352187.html

Filmografia
CORAÇÃO VALENTE. Direção de Mel Gibson. Paramount/ 20th Century Fox, 1995.
GAME OF THRONES.  Direção de David Benioff e D.B. Weiss. Home Box Office, 2011-2017 (ainda em produção).
LANCELOT, O primeiro cavaleiro. Direção de Jerry Zucker. Columbia TriStar, 1995.

19 comentários:

  1. Boa tarde aos autores,

    Gostaria de saber, na visão e perspectivas de vocês, até que ponto pode ser trabalhado em sala de aula uma série como Game of Thrones? Levando em consideração a abstração, a temática, a fantasia e no, caso da série em questão, o sexualismo presente envolvendo as mulheres. E de que maneiras isso pode ser feito sem fantasiar demais o ensino?
    Obrigada!
    Emily Lourenço Pinheiro

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    1. Olá, Emily, obrigado por sua participação.

      Quando cursei as disciplinas da área de Medieval, já havia assistido filmes e séries que retratam a época, sobretudo Game of Thrones, o que foi muito útil para me ajudar na compreensão de certos aspectos, tais quais os laços de vassalagem. Conseguia imaginar, através do exposto em sala e do material lido na disciplina com o apoio das imagens da série, aquilo que o profissional da educação transmitia na aula. Pensamentos que podem ficar em sua forma abstrata, não estando totalmente claro para o aluno ou até mesmo confuso, tem a chance de melhor esclarecimento quando o aluno possui imagens e representações que o possam ajudar nessa visualização imaginária desse ambiente, não o levando a “fantasiar”, pois tais produções cinematográficas e televisivas estariam sendo usadas como forma de ilustração daquilo que ele está tendo acesso através das fontes históricas disponibilizadas pelo professor. Isso em um ambiente universitário, mas que não foge das escolas, onde o professor pode utilizar tais materiais audiovisuais para servir de apoio e de forma ilustrativa para o que ele pretende abordar, não apenas ilustrativa, como também levar o aluno a observar e questionar essas representações.

      Tais produções são interessantes para observar inúmeras questões, entre elas como são apresentadas as mulheres e em que lugar social encontram-se, elas que ainda são esquecidas e colocadas em “segundo plano” nas fontes históricas. Como elas seriam retratadas em materiais voltados para o entretenimento? A série Game of Thrones nos leva a observar possíveis semelhanças e suas inúmeras particularidades na forma como aborda a mulher e o cenário medieval.

      Por se tratar de uma ficção, fantasia, sua utilização não seria “fantasiar demais o ensino”, tendo em vista que o material pode e deve ser usado, como ferramenta de ensino, desde que ele não seja utilizado sem o apoio de fontes históricas que, ao contrário das produções audiovisuais, possam buscar a verossimilhança e nos proporcionam as multifaces da história.

      Bruno Silva de Oliveira

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  2. Olá, eu queria saber de que forma poderia-se usar essa proposta posta pela série Game of Thrones comparando-o com as diversas especificidades que circundam o papel da mulher na Idade Média, sem expor aos alunos a cenas que podem vir a ser contraindicadas para menores? E se ao usar uma série de TV norte-americana não existiria um certo embelezamento posto pela indústria de filmes e séries dos EUA?
    Tulio Dalpra Lima

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  3. Olá, Tulio, obrigado por sua participação.

    As situações presentes no trabalho em que mostram mulheres em situações que poderiam ser contraindicadas para determinado público foram de escolha visando o que se pretendia abordar e expor, uma escolha com teor pessoal. Isso significa que, a série possui inúmeros exemplos além dos selecionados o que possibilita uma margem de escolha das situações que se pretendem explorar, visando o local e a situação da mulher que pretende-se ter em perspectiva. É possível a utilização desse material em público menor de idade, desde que tenha-se um cuidado na seleção dos exemplos que pretende-se expor levando em conta aquilo que o profissional da educação deseja pôr em questão.

    Independente do local de produção, séries e filmes possuem uma outra demanda e um público que diverge bastante, seja divergência em idade, objetivos ou gostos. Tais produções não visam retratar algo tal qual aconteceu, sequer as fontes históricas o fazem. O que temos são representações, no caso de Game of Thrones, de um cenário que desperta fascínio e interesse social. Quando se fala em produções norte-americanas a mente é invadida por pensamentos de que essas produções são recheadas de grandiosidade, o que acaba sendo visto, por alguns, como sendo algo “negativo”, o qual discordo, com base nos pontos mencionados anteriormente sobre as intenções dessa indústria.

    Tal “embelezamento” pode, e deve, ser objeto de observação e questionamento, tendo como base as fontes históricas. Esse aspecto não deve de forma alguma ser tido como parâmetro de importância ou menosprezo, trata-se de uma forma de expressão de um público, em um determinado espaço e tempo sobre um cenário “passado”, o que nos leva a problematizar e situar o meio social onde tem sido produzido o “embelezamento”, não esquecendo de ter em vista os objetivos de tais produções.

    Bruno Silva de Oliveira

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  4. Olá, aos autores! Inicialmente gostaria de parabenizá-los pela iniciativa! Em uma época em que muito se fala em empoderamento feminino, trabalhar com uma série, muito assistida por parte dos adolescentes, é fantástico no tanto do âmbito de didática e metodologia, quanto de historiografia e fonte histórica. Mesmo se tratando de uma ficção, não podemos nos esquecer que a escrita da história também é uma ficção e uma invenção.Desta forma gostaria de saber dos autores, se este trabalho de Idade Média e Game of Thrones foi aplicada em alguma escola? e se sim, qual a receptividade dos alunos!
    Desde já, agradeço!
    Vitória Duarte Wingert

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Olá, Vitória,

    Agradecemos a deferência e pelo interesse em nosso escrito. Não aplicamos em Escolas ainda. Até porque é nova essa nossa perspectiva de trabalho e acho que deva ser o primeiro trabalho sobre Game of Thrones & História (caso não seja o primeiro, certamente, é um dos primeiros a ser publicado). Como explicou Bruno Silva mais acima, é possível a utilização desse material desde que tomadas as medidas devidas com relação à escolha das imagens e também da contextualização de nossa intenção e da questão central de nossa abordagem, notadamente, da cuidadosa relação que fizemos do mundo de fantasia GoT com as representações históricas medievais.

    Um abraço,

    Atenciosamente,

    Rodrigo Henrique Araújo da Costa

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  7. Acredito que dentro do oficio de professor mais acima de tudo do historiador, seja de extrema importância interligar os assuntos trabalhados a realidade em que vivemos. Desta forma me surge o questionamento de como poderia ser utilizado Game of Thrones na sala de aula, não apenas como representação de costumes medievais, mas como forma de desconstruir a ideia de ascenção feminina por meio da sexualidade?
    Érika Luanna da Mota Alcântara.

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    1. Olá, Érika, obrigado por sua participação.

      No caso de Game of Thrones e do aspecto abordado em nosso trabalho, observamos que, a partir dessas representações femininas presentes na série é possível passar para o aluno visões que não são apresentadas ou apenas mencionadas sem maior explicação. Utilizando algumas figuras femininas, com o apoio de uma fonte histórica, o profissional da educação terá como expor, por exemplo, que a mulher também possuía poder em determinadas situações e que ela poderia fazer uso da violência e sobrepujar outras que estivessem em um local social tido como inferior. É possível abordar que não se tem uma luta entre o homem e a mulher, a sociedade não limita-se a isso.
      Em Game of Thrones temos mulheres com certo poder, todavia oriundo do casamento e/ou sedução, por exemplo, não sendo um “poder natural que pertence aos homens”. Esse é um aspecto importante que pode e deve ser posto em debate, fazendo utilização de exemplos do nosso dia-a-dia, vejamos: hoje vemos mais mulheres conseguindo espaço e visibilidade através de seu próprio esforço e mérito do que tendo de fazer uso de sua sexualidade.

      Bruno Silva de Oliveira

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  8. O artigo mostra uma outra visão sobre o mundo feminino em um contexto medieval fazendo relação com GoT, colaborando uma outra visão da mulher. o artigo coloca as questões em que mulheres privilegiadas oprimiam as menos favorecidas, coloca o cunho da sexualidade como moeda de troca, estereótipos religiosos como feiticeiras e bruxas relacionado o ficcional com a realidade e mostrando que era possível uma ascensão de exercícios que eram predominante exercida por homens mas essas modalidade de funções só era possível com classes oligárquicas. Mostrando que no medieval era possível uma mudança de funções socioculturais e uma quebra de regras sociais imposta pelo homens.

    Até que ponto podemos utilizar o Got para uma realidade histórica e como relacionar essas problemáticas que são questões ainda visíveis podendo utilizar como temas transversais em uma realidade do mundo atual ?

    Paulo Moreno Sanches Dias

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  9. Boa noite, Bruno e Prof. Rodrigo.
    Parabéns pela comunicação.
    Sabemos o quanto é fundamental discutirmos em sala de aula a importância das mulheres como sujeitos históricos. A questão da invisibilidade da mulher mudou a partir da década de 1960, com a História das Mulheres. Posteriormente, o gênero contribuiu muito nas análises históricas, rompendo principalmente com a relação binária "macho versus fêmea", e, demonstrando que os significados atribuídos aos indivíduos são construções sociais atravessadas por relações de poder, que detém historicidade.
    Nesse sentido, gostaria de perguntar a vocês, qual o embasamento teórico-metodológico que vocês utilizaram, ou poderiam sugerir, para os/as professores/as abordarem o tema das mulheres no Game of Thrones, com os/as alunos/as.
    Abraços,
    Danielle Mendes da Costa

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    1. Olá, Danielle.

      Agradecemos pela sua consideração por nosso trabalho. Nosso objetivo não foi trazer isso para sala de aula, nem é nossa questão central. Mas quem sabe sirva para os professores pensarem, cuidadosamente, sobre essa possibilidade na relação Liratura & História. GoT é um universo de fantasia, como dissemos na conclusão "não é uma retratação medieval em si, mas de menção e inspiração". Neste quesito que você menciona, vamos ao encontro do pensamento de Marc Ferro, que analisava o filme a partir da produção de sentido. Mas também nos utilizamos de uma certa comparação entre GoT e as representações femininas do Medievo ocidental. Até no título isso foi evidenciado, relevando o cuidado que tomamos com essas relações. Respondendo sua questão, nosso aporte metodológico parte de Marc Ferro, em "Cinema e História" e tambem José Rivair Macêdo, com "A mulher na idade média", principalmente.

      Um abraço,

      Atenciosamente,

      Rodrigo Henrique Araújo da Costa

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  10. Bom dia.
    Parabéns pelo trabalho, acredito que a História assim como as demais ciências humanas devem sempre estar atentas as novas possibilidades de atuação, bem como, aos novos campos de pesquisa, que por conta da própria dinâmica de (Re)significação simbólica de nossa sociedade, tem encontrado terreno fora e dentro da academia. Na visão de vocês, quais as limitações conceituais que a historiografia enfrenta atualmente no que tange a consolidação do papel histórico e simbólico da mulher em nossa sociedade?

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  11. Olá
    Como fã de Game of Trhones e Historiador, confesso que fiquei bastante decepcionado com a representação construída sobre o feminino na série, onde a construção do núcleo Martell foi lastimável e no norte incluíram uma cena de estupro completamente desnecessária para o andamento da trama.
    Mas com relação ao livro, eu sou bastante grato pelas personalidades bem desenvolvidas das personagens, das quais Sansa e Cersei são bastante condizentes com uma realidade histórica fictícia. Porém, quando o feminino se une a questão do racismo, série e livro pecam. Eu particularmente, também no livro achei lamentável a construção de Dorne e inclusive os comentários do Martin sobre “pessoas de sangue quente” “sexuais” etc... atribuição de valores à raça me pareceu um erro um tanto ultrapassado do autor, principalmente quando se refere as dornesas. Bem, gostaria de ouvir (ler) a opinião de vocês sobre a construção do feminino racial no livro e série.
    Abraço
    Isaias

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    1. Olá, Isaias, obrigado por sua participação.

      As observações e questionamentos que você realiza possuem um teor pessoal, sobretudo sua questão final. Martin e os produtores da série não visam representar a Idade Média, apenas utilizam o cenário, é uma inspiração para a trama que irá utilizar vários aspectos desse tempo.

      Devemos pensar o livro e pensar a série, não buscando uma verdade, e sim observar como será construída toda uma narrativa onde a mulher será inserida nas questões e posições que mencionamos no trabalho.
      Quando você diz "...atribuição de valores à raça me pareceu um erro um tanto ultrapassado do autor...", tenho que discordar. É nítido que no século XXI ainda existem pessoas e discursos de superioridade de uma raça, atribuindo ou renegando valores. O próprio termo “raça” cai em desuso, o que temos é a humanidade.

      Acredito que os produtores e o autor fazem uso de situações que veem como sendo a forma de desenvolverem a trama. Podemos não concordar com a forma que os eventos se seguem, podemos concordar se for o caso, entretanto, nos cabe observar como esses eventos são retratados. Tanto na produção da HBO quanto nos livros, a forma como algumas mulheres são apresentadas me agradam, e aqui falo sobretudo como telespectador, pois consigo observar figuras femininas tendo destaque em algumas situações onde "elas deveriam não ter, segundo os parâmetros sociais estabelecidos". Nessa observação não cabe frisar que, diferente do homem onde o “poder parece ser natural”, a mulher precisa usar do casamento e/ou sedução, por exemplo, para conseguir poder e/ou outro local social de maior privilégio.

      Bruno Silva de Oliveira

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  12. Boa noite,

    Acredito que a série em si não pode colaborar diretamente com a sala de aula, pois, além de se tratar de uma série fictícia, apresenta inspiração apenas em alguns momentos na Idade Média, além, da classificação indicada é para maiores de 16 anos. Por isso, penso que, mesmo selecionando as cenas, não é um recurso adequado para a sala de aula.

    Mas a discussão historiográfica a cerca do tema é extremamente pertinente e rica. Gostaria de saber dos autores se os papeis femininos da série não estão muito mais relacionado e, preocupado, com as ações das mulheres na atualidade do que repensar a mulher na Idade Média!?

    Cordialmente.

    Lucas Aguirre De Bortoli

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    1. Olá, Lucas, obrigado por sua participação.

      Nosso trabalho não foi realizado com a finalidade de utiliza-lo em sala. Nosso objetivo é observar tais representações e dialogar com um material que, mesmo sendo fictício, não deixa de ser história e possuir sua importância, tendo em vista que trata-se de um objeto onde encontra-se expressões de uma sociedade.

      Pensemos que esse trabalho tivesse sido pensado para a sala de aula, por exemplo. Qualquer material possui um público alvo, uma indicação, isso não quer dizer que o mesmo não possa ser utilizado em um outro público. Apesar de Game of Thrones possuí indicação para 16 anos, certamente pode ser utilizado em turmas do Ensino Médio, por exemplo. É possível sim a realização de uma aula utilizando como um dos recursos a série, tendo o cuidado de selecionar as cenas que venham a atender a proposta do profissional da educação e as limitações da turma.

      A produção não visa narrar a Idade Média, não trata-se de uma construção visando a exposição de fatos tais quais ocorreram, sequer as fontes históricas o fazem, pois sabemos que por trás do que está escrito existem as intenções de quem escreve. Deveríamos então menosprezar as fontes históricas por também possuírem seu lado "fictício"?

      Respondendo a sua pergunta, é possível sim alegar que as representações femininas possuem relação com as demandas do presente, trata-se de uma produção do presente, uma perspectiva do nosso tempo sobre algo passado, e como tal possui demandas sociais sérias, uma maior participação da mulher e sua maior visibilidade e valorização.

      Bruno Silva de Oliveira

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  13. Excelente trabalho!

    Minha pergunta é referente ao referencial teórico, sendo as séries um campo novo, diferentemente do cinema onde existem inúmeros teóricos e historiografias que ja abordam o assunto, gostaria de saber se a dupla encontrou dificuldade para embasar na historiografia o tema abordado?

    Gabrielle Momot

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  14. Olá, Gabrielle,

    Muito obrigado pela deferência ao nosso escrito e pelo elogio. Nós nos esforçamos bastante e não é fácil trabalhar com uma temática nova como essa, notadamente, no aporte teórico-metodológico, e naquilo que pretendeu: a relação entre série cinematográfica & História e Literatura & História.
    Nosso principal referência, nesta questão sua, foi o livro de Marc Ferro, "Cinema e História". Outro livro importante, que não está nas bibliografia por questões de espaço e por não ter sido citado no corpo do texto, foi "Imagens em movimento - Ensaios sobre Cinema e História" organizado pelo Prof. Dr. José Maria Gomes de Souza Neto, Karl Schurster Leão e Leandro Couto Ricon. Esse livro foi publicado pela EDUPE e serve como excelente referência.

    Atenciosamente,

    Rodrigo Henrique Araújo da Costa

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