O seguinte texto nasce
com o objetivo de socializar os resultados obtidos pelo projeto de iniciação
científica, financiado pela fundação araucária com o título; linguagens e
tecnologias para o ensino de história. Esse projeto busca entender de quê
maneira os professores e professoras utilizam as diferentes tecnologias e
linguagens de ensino no ambiente escolar. Para realizar essa pesquisa, vinte e
um professores foram entrevistados, todos atuantes em colégios da rede de
ensino pública e estadual do Estado do Paraná, mais especificamente em colégios
localizados no município de União da Vitória. Todos os entrevistados tiveram de
responder um questionário com vinte e duas questões, dividias em cinco blocos;
linguagens, tecnologias, livro didático, pontos positivos, pontos negativos. Os
professores responderam oralmente e as entrevistas encontram-se armazenadas no
laboratório de aprendizagem histórica (LAPHIS), localizado na Universidade
Estadual do Paraná, campus União da Vitória.
No presente texto
buscaremos trabalhar mais especificamente com as questões do bloco referente às
tecnologias e seu uso em sala de aula. Em 2012 a professora Vani Moreira Kenski
publicou uma obra intitulada: Educação e tecnologias; o novo ritmo da
informação. Nesta obra a autora trata
brilhantemente de um estudo aprofundado sobre a temática, desenvolvendo
primeiramente a ideia de que as tecnologias estão presentes desde o início da
humanidade, quando os seres humanos começaram a desenvolver técnicas de
manipulação da natureza, passando por diversas explicações, esclarecendo que
até um lápis pode ser entendido como uma forma de tecnologia.
Para evitar os equívocos contextuais e delimitar o nosso foco de abordagem
sobre as tecnologias é importante frisar que a tecnologia no contexto que queremos
nos referir aqui é a tecnologia do meio digital, entendida como ferramenta de
ensino que pode ser utilizada de maneira eficiente pelo professor a fim de
ampliar as possibilidades didáticas, teóricas e metodológicas, como por
exemplo; o data show, a televisão, os computadores, a lousa digital, a
internet, smartphones e etc.
Esse é um ponto
extremamente importante, pois, muitas vezes a tecnologia pode parecer algo
comum, banal e acaba passando por baixo do pano, quase despercebida pela
comunidade acadêmica. É um grande equivoco deixar essa questão de lado, e, a
missão desse pequeno texto é instigar a reflexão acerca dos problemas em usar
diversas mídias e tecnologias nos colégios estaduais do município de União da
Vitória.
Pois bem, apurando os
resultados obtidos nas pesquisas, percebemos dois grandes problemas; 1) a falta
de qualificação e formação específica e continuada para o uso das tecnologias.
2) a infraestrutura precária dos colégios visitados.
“[...] a minha geração
que já esta na sala de aula há 28 anos, nós fomos aprendendo sozinho as mídias,
nunca chegou alguém e ensinou, ou a maquina caiu na minha mão e eu aprendi
sozinha ou eu fui procurar em escolas de informática para me ensinar a usar
essas tecnologias, mas na escola mesmo não tem. Eu percebi que muita gente se
bateu bastante com o RCO que surgiu agora, eu acho que por ser um pouco curiosa
eu gostei, eu já entrei praticamente fazendo a chamada e registrando os
conteúdos online mesmo, mas não tem, deveria ter, principalmente para os
professores da minha geração, a gente sofre muito.” (Entrevista 11, 2017)
Por se tratar de uma
rede de ensino estadual, acreditamos que os problemas que esses profissionais
encontram não são exclusivos e restritos ao município de União da Vitória. A
falta de formação continuada e eficiente é uma dificuldade citada em quase
todas as entrevistas, apesar alguns professores terem mencionado que participam
de um programa ofertado pela SEED (Secretaria de Estado da Educação) denominado:
conectados. Esse programa, pelo que consta nas entrevistas, é uma espécie de
formação específica sobre tecnologias, onde a escola que tiver um número “X” de
professores inscritos e que completem o curso receberá certa quantidade de
notebooks.
Apesar de todos os
professores terem demonstrado interesse em participar de programas de formação
continuada, apenas quatro participam do
conectados. O grande problema que assombra esses professores é o tempo, como
podemos constatar na fala de um dos professores entrevistados respondendo a
questão referente a formação continuada:
“Nós não temos
recebido mais ultimamente né. Foi no primeiro ano que implantaram os
laboratórios, as tvs, depois nem um curso propriamente dito, específico de
tecnologia para o professor. Agora que ta saindo alguns mas nem todos nós
conseguimos fazer por conta da carga horária nossa, seria bom fazer esse
conectados online, alguns cursos que o Estado ta fornecendo mas não são todos
os professores que conseguem fazer, ou você da aula, ou você faz atividade em
casa, na escola, ou você faz o curso.” (Entrevista 3, 2017)
Esse parece ser um
problema que afeta não somente o estado do Paraná, mas, um problema a nível
nacional. Em pesquisa realizada no ano de 2003 no estado de Santa Catarina,
Belloni (BELLONI, 2003, p. 299) constatou problemas semelhantes aos encontrados
por nós quatorze anos depois: -“Falta de tempo para realizar formação
continuada dentro da jornada de trabalho; formação inicial precária; falta de
hábito de autodidatismo e consequente dificuldade de aproveitar o que o próprio
programa oferece”.
Já no atual Estado do
Paraná, aparentemente esse problema se intensificou. Com a adoção de medidas
que afetam diretamente a educação, o atual governo do estado recentemente
reduziu a carga horaria de hora-atividade dos professores que estão cada vez
mais sobrecarregados, medidas como essa influenciam diretamente a qualidade de
ensino. Quando os professores terão tempo para participar de um curso de
formação continuada? É justo que esses profissionais da educação tenham que
tirar do seu tempo de lazer para que tenham condições de se atualizar?
“[...]será que você
quer que a gente se encontre final de semana num barzinho pra discutir a
disciplina? “(Entrevista 17, 2017)
Aliás, esse tempo
particular dos professores está sendo corroído pela própria política do Estado
que busca modernizar o ensino. Infelizmente a infraestrutura da maioria dos
colégios visitados não comporta essas mudanças, que de longe não parecem uma
coisa tão complexa, mas, quando se olha a nível micro, obrigam os professores e
a direção a tomar medidas absurdas para manter o mínimo necessário. Para
exemplificar esses problemas que afetam os colégios a nível micro, podemos
citar o programa recentemente implantado pela SEED, o RCO (Registro de Chamada
Online). Com o RCO os velhos livros de chamada não serão mais necessários, é
uma exigência do Estado que as chamadas sejam feitas em uma plataforma online,
segundo alguns professores entrevistados, a internet é deficitária ou limitada
em dados ou a algum espaço, obrigando o professor a levar esses registros para
fazer em casa, fora de horário de serviço, ou, no seu já reduzido horário de
hora-atividade.
“Tem dias que entra e
dias que não entra, uma hora da, depois de cinco minutos não tem mais. Para
fazer o uso de internet direto é bem complicado, até para o RCO né, você tem
que fazer todos os dias às vezes acaba fazendo final de semana porque na escola
não funciona.” (Entrevista 4, 2017)
O problema com a
internet é corriqueiro, para solucionar essa questão alguns professores se
organizaram e fizeram uma rifa para melhorar a condição de trabalho, ou contam
com auxílio financeiro da APP-SINDICATO (Sindicato dos Trabalhadores em
Educação Publica do Paraná).
“Até foi feito uma
rifa na escola para colocarem internet em todas as salas, então no bloco aqui
até tem internet que da pra gente usar na sala de aula, o bloco lá de baixo
não. Foi feito uma rifa, infelizmente é preciso desse recurso, o estado não supre
essa necessidade...”. (Entrevista 1, 2017)
Outra escola não viu
outra solução para o problema com a internet que não fosse contratar o serviço
de uma empresa privada, dividindo entre os professores a tarifa do serviço.
“Nós temos wifi, nós
pagamos, a escola contratou uma internet para a gente ter acesso wifi. O que
nós tínhamos era muito fraquinha, ela pegava perto dali onde tem a secretária,
o laboratório de informática, passou de lá já não pegava. Então pra gente poder
fazer esse RCO a escola contratou uma internet.”. (Entrevista 5, 2017)
Infelizmente um dos
resultados que pudemos constatar com nossa pesquisa diz respeito ao descaso com
a educação. Inicialmente esperávamos entender de que maneira esses
profissionais utilizavam as linguagens e tecnologias, mas, ao analisar os dados
nos deparamos com um terreno instável, com uma nítida disparidade entre os
colégios e um baixíssimo conhecimento acerca do uso das tecnologias.
Como o propósito da
pesquisa não era procurar problema, mas sim entender e, se fosse possível, dar
algum retorno para os colégios e para os professores a fim de auxiliar na
formação a respeito das mídias e tecnologias digitais, buscaremos confeccionar
um material paradidático de caráter explicativo sobre o uso das tecnologias e
disponibilizar para os professores. Esse material inicialmente será
desenvolvido no formato audiovisual a fim de explicar de forma simples e
objetiva o funcionamento de equipamentos que frequentemente foram citados nas
entrevistas como complicadores e dificultantes para dinâmica da aula, como é o
caso da instalação do data show e a questão da conversão dos vídeos para passar
na televisão com entrada para pendrive. Essa foi a maneira que encontramos para
tentar amenizar os problemas causados pela falta de formação continuada
específica na área de tecnologias.
Infelizmente a questão
estrutural é algo que está para além do nosso alcance, a falta e o corte de
investimentos na área de educação é algo sorrateiro e devastador, por esse
motivo é importante a divulgação do resultado desse projeto; para que as
pessoas tomem consciência do descaso que os governos estão tratando a educação.
É lamentável que a infraestrutura do estado não suporte a tão necessária
modernização, não adianta o professor possuir uma formação na área se não tem o
equipamento necessário para utilizar, da mesma maneira que não adianta ter o
material mais tecnológico se não há professores capacitados para fazer uso.
Referências
Dulceli de Lourdes
Estacheski Tonet. Professora Colaboradora da Universidade Estadual do Paraná –
UNESPAR – campus – União da Vitória – Fundadora do LAPHIS - Laboratório de
Aprendizagem Histórica – doutoranda pelo Programa de Pôs Graduação em História
- UFSC – sob orientação de Cristina Scheibe Wolff.
Hemerson dos Santos
Junior, acadêmico do 4º ano do curso de licenciatura em história pela UNESPAR
campus União da Vitória – PR. Bolsista pelo projeto de iniciação cientifica
financiado pela Fundação Araucária intitulado; linguagens e tecnologias para o
ensino de história.
KENSKI, V. M. Educação
e Tecnologias: o novo ritmo da informação.
8. Ed. Campinas: Papirus, 2012.
BELLONI, M.L. (2003).
“A televisão como ferramenta pedagógica na formação de professores”. Revista
Educação e Pesquisa, vol 29, n.2 (jul-dez).
CREMA,
Everton C. ESTACHESKI, Dulceli de Lourdes Tonet. Pesquisa e avaliação
do uso das Tecnologias no ensino de História na sala de aula. EDITAL 010/2017 – PRPPG/Unespar –
PIC 2017 -2018.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAtravés da análise desta pesquisa, como conclusão, vocês perceberam que a utilização de aulas com slides em data show, são realmente viáveis em escolas públicas, ou por falta de investimento e também de recusa de alguns profissionais da área da educação, não é possível? Obrigado.
ResponderExcluirLeitor: Edivaldo Rafael de Souza
Boa tarde, Edivaldo! Agradeço sua participação
ExcluirSão viáveis sim, todas as escolas visitadas possuem o equipamento, algumas em numero reduzido e outras com números mais expressivos. Se o docente se programar e agendar o equipamento a aula se torna viável.
Espero ter respondido.
Primeiramente gostaria de parabenizar pela pesquisa, de grande valia para o conhecimento acadêmico na consequentemente preparação para as dificuldades a serem igualmente enfrentadas. Do mesmo modo de igual valor para a comunidade, que como os professores e alunos necessita atualizar-se para o acompanhamento escolar a partir de agora. Diante desse desafio de tempo hábil para atualização e treinamento dos professores, de um verdadeiro investimento que proporcione condições para aluno e professor caminharem juntos com estes novos sistemas é um empecilho inserir tecnologia sem uma estrutura. Percebemos também que a comunidade desconhece tais dificuldades como a dos professores pagarem um wi-fi que suporte o uso dessas plataformas.
ResponderExcluirA minha questão ainda se formula em outro aspecto da pesquisa, para receber equipamentos e começar a utilizar esse sistema o Estado oferece algum treinamento básico antes dessa inserção e cobrança de atualização dos profissionais atuantes?
Att. Libiane Karina Orth
Boa tarde, Libiane! Agradeço a participação.
ExcluirCom base nas entrevistas é possível constatar que o estado forneceu um curso quando adotou a tecnologia das televisões multimídia. Outros cursos são ofertados como é o caso do "conectados", mas a grande dificuldade é a carga horária, os professores reclamam que geralmente os cursos acontecem em horário de trabalho ou fora dele, o que faz com que o professor tenha que dispor do tempo de lazer para dedicar aos cursos.
Espero ter respondido, fico a disposição para qualquer dúvida.
Boa noite Dulceli e Hemerson, parabéns pelo artigo.
ResponderExcluirUma dúvida que sempre surge a respeito do uso das tecnologias em sala de aula é a questão da diferenciação no acesso, já que este não está disponível para todos os alunos e nem para todas as escolas. Vocês acham que a popularização dos celulares facilita esse trabalho? E como poderíamos utilizar estes aparelhos para qualificar o ensino de história?
Leitora: Valéria Cristina Turmina
Boa tarde, Valéria! Excelente questão!
ExcluirCom base na pesquisa foi possível constatar que os professores estão utilizando o celular para ter uma relação mais presente com os alunos, a troca de informação por meio dos grupos de whatsapp facilitou a comunicação. Um professor relatou que esse contato é bom e é ruim ao mesmo tempo, relatou que não aguenta mais grupos de whatsapp, comentou que participa de oito grupos de turmas distintas. Essa relação é produtiva porém causa um desgaste para esse professor, que tem seu tempo livre corrompido pela sua profissão, extrapolando a carga horária e não recebendo remuneração para isso.
O aparelho smartphone pode ser usado para atividades com fotografias, registro de história oral, pode ser utilizado como instrumento de pesquisa... É uma ferramenta a ser explorada.
Espero ter respondido e estou a disposição para qualquer esclarecimento. e-mail: juniorhemer@hotmail.com
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir