A LITERATURA
NA HISTÓRIA/ENSINO DE HISTÓRIA
Este artigo tem o
objetivo de expor a importância da literatura como fonte histórica e como
recurso didático para o Ensino de História. A obra a ser utilizada para análise
será “O cortiço”, que retrata o período do Brasil República do século XIX, e a
partir desse ponto, apresentar sugestões de usos desse tipo de linguagem em
sala de aula, em específico na disciplina de História para o Ensino
Fundamental, em turmas específicas de 9° ano. Outro ponto é perceber a
importância da literatura em quadrinhos na construção do imaginário e
representações de certa época, além de refletir sobre a sociedade em todos os
seus âmbitos culturais, sociais e políticos.
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A partir do século
XX, momento em que a História se constitui como Nova História com a Escola dos
Annales, os conceitos de fontes históricas são ampliados, ou seja, os
documentos escritos deixaram de ser únicos objetos de análise do historiador,
tendo em vista que tudo é histórico, as linguagens devem ser utilizados como objeto histórico e
como recurso didático-pedagógico, uma estratégia para se ensinar História,
tanto no Ensino Fundamental, Médio ou Superior, porém o foco aqui é o 9° ano do
Ensino Fundamental, em específico a literatura em quadrinhos como recurso
didático, que são carregadas de
intenções e subjetividades, pois foram produzidos pelo ser humano.
Podemos perceber
diversas mudanças na literatura e na História ao longo dos anos, propiciando a
utilização da mesma na historiografia, entretanto, destacando algumas críticas
e dificuldades na inserção da mesma como recurso ao professor por não se tratar
de um trabalho científico, com o rigor metodológico específico da História, ou
seja, sem compromisso com a análise crítica das fontes. No entanto, será
realçado o poder de construção do imaginário, e de mostrar as representações de
um determinado período histórico. A literatura brasileira do século XIX surge
no período que a imprensa ganha destaque por meio dos jornais e revistas,
percebendo que o veículo original surgiu de outras formas.
Pode-se observar
diversas características de uma sociedade presente nas obras literárias,
podendo identificar o contexto de uma época, pois, a partir de uma produção de
cunho literário é possível notar que há uma construção de imagens a respeito de
seu tempo, ou seja, características temporais de quem escreve, fazendo com que
haja a criação de uma imaginação e representação, sendo que é uma fonte
riquíssima para análise de um historiador ao compreender as diferentes visões
históricas. O sujeito histórico é pertencente as suas relações de vivência,
logo, isso é visível na literatura, ao seu lugar que pertence, homem do seu
tempo, a literatura surge da sociedade da qual ela pertence.
Não existe literatura
fora da história, portanto nota-se que é preciso articular o passado a partir
do presente. Devemos sempre problematizar por que a literatura é uma fonte
histórica, sendo que é preciso entender a experiência social a partir da
literatura, pois a História na literatura acontece em diferentes dimensões;
nota-se que qualquer sociedade produz uma série de imagens sobre o seu passado;
o autor escreve a partir das redes de interação social; a literatura surge da
sociedade a qual ela pertence; logo nos surge algumas questões, a História é
literária? A literatura é História?
Percebe-se que apesar
das inevitáveis discussões teóricas, a literatura não deixa de ser uma
importante fonte para o historiador, revelando os hábitos e o imaginário social
da época em que foi produzida. A autora Sandra Jatahy Pesavento (2006) faz uma
discussão de forma bastante contundente sobre a literatura e sua utilização na
história enquanto fonte histórica, a mesma aborda que a literatura possibilita
compreender o imaginário e a representação de certo período histórico:
“o imaginário é
sistema produtor de ideias e imagens que suporta, na sua feitura, as duas
formas de apreensão do mundo: a racional e conceitual, que forma o conhecimento
científico, e a das sensibilidades e emoções, que correspondem ao conhecimento
sensível” (PESAVENTO, 2016, p. 2).
Ou seja, observamos
que “ao construir uma representação social da realidade, o imaginário passa a
substituir-se a ela, tomando o seu lugar” (Idem).
Sobre
a questão de representação e busca do acontecido, Pesavento diz que:
“registramos,
com isto, a mudança deliberada do tempo verbal: o poderia, o teria
sido, com o que a narrativa histórica, representação do passado, se
aproximaria, perigosamente, da definição aristotélica da poesia, pertencente ao
campo da ficção. Ou seja, as versões do acontecido são, de forma incontornável,
um poderia ter sido. A representação do passado feita pelo historiador
seria marcada por esta preocupação ou meta: a da de vontade de chegar lá e
não da certeza de oferecer a resposta certa e única para o enigma do passado”
(Idem, p. 4).
Nota-se a literatura
então como um:
“discurso sobre o que
poderia ter acontecido, ficando a história como a narrativa dos fatos
verídicos. Mas o que vemos hoje, nesta nossa contemporaneidade, são
historiadores que trabalham com o imaginário e que discutem não só o uso da
literatura como acesso privilegiado ao passado — logo, tomando o não-acontecido
para recuperar o que aconteceu” (Idem, p. 3)
Pensando nisso, no
conceito de representação na qual estão expostas as histórias em quadrinhos e a
literatura, que se propõe a fazer uma análise de como o período Imperial
brasileiro está representado na obra literária de “O Cortiço” de Aluísio de
Azevedo escrita em 1890, que retrata o drama cotidiano de um cortiço no Rio de
Janeiro, demonstrando as mazelas sociais da época, além do cotidiano das pessoas
deste período. A intenção é, a partir da obra, fazer uma análise desse período,
expondo as características do tempo histórico, perpassando o meio social, para
entender o funcionamento desta sociedade, e como ela está sendo retratada
historicamente no romance. Cabe ressaltar que a intenção principal aqui é fazer
uma relação da obra e o ensino de história, a partir da literatura, e
compreender o formato literário e como ele pode ser um recurso em sala de aula,
partindo ainda, o uso dos gibis, histórias em quadrinhos, como uma ferramenta
educacional nas escolas para o ensino de história.
Encontra-se
em grande número obras literárias que foi transformado em quadrinhos, nosso
enfoque é perceber os elementos da obra tanto original como livro, mas também o
quadrinho, elencando como essa transposição da obra clássica, para os
quadrinhos pode ser um meio útil no ensino, e na busca de um interesse maior
dos alunos pela leitura. Se as imagens além do dialogo influencia os alunos na
compreensão, ou facilita a representação visual e a construção histórica, na
qual se apresentam as duas linguagens.
Literatura e
História/Ensino de História
A
Literatura tornou-se mais dinâmica a partir do momento em que foi produzida na
versão de história em quadrinhos, pois não só a leitura, mas as imagens dão
lugar para a imaginação do aluno, pois na maioria das vezes o ver proporciona o
conhecimento e a aprendizagem do aluno. Dependendo da abordagem dos professores
de história e os recursos para além das literaturas usadas para relacionar o
tema, a aula torna-se proveitosa, e se a aula tem uma boa dinâmica, os alunos
saem da zona de conforto e passam a prestar atenção na explicação, além de
participarem da aula de forma mais ativa.
Portanto,
adicionar a Literatura como recurso didático em sala de aula enriquece bastante
a dinâmica da aula, principalmente obras literárias em quadrinhos, porém,
devemos ter em mente que alunos possuem realidades distintas e
particularidades, e nós como professores de História deveram perceber essas realidades
e criar mecanismos para passar o conhecimento para os alunos no intuito de
proporcionar ao aluno o desenvolvimento de um pensamento crítico, para que
esses alunos entendam que não se deve estudar a História como algo factual, que
não se pode estudar o passado pelo passado, mas que o contexto histórico e as
representações apresentadas por meio das diversas linguagens, proporcionam ao
aluno a compreensão de sua realidade e do mundo em que vive.
HQs, abordagens e
Ensino de História
Tendo em
vista o Ensino de História e a utilização de novas linguagens, torna-se
necessário realizar uma discussão sobre as HQs no ensino. Percebe-se uma
ampliação da presença de Histórias em Quadrinhos (HQs) no ambiente escolar nos
últimos anos, questão presente no Plano Nacional Biblioteca na Escola (PNBE).
Entretanto,
percebe-se que a inserção das HQs cria novos desafios aos educadores, fazendo
com que haja a necessidade de compreensão da linguagem e das inúmeras obras
sobre o tema. O presente artigo pretende discutir a inserção das HQs no ensino
e problematiza de que forma os quadrinhos podem ser utilizados no ensino de
História, destacando uma obra possível para ser trabalhada.
Nosso tema
central é explanar sobre a História em quadrinhos, o estudo da História e como
as HQs são utilizadas no ensino de História. Contudo, é preciso destacar que a
produção de HQs passou por uma crise na década de 1980. As HQs passaram por
várias críticas e resistências no fim do século XX, eles deixaram de ser lidos
apenas por crianças, passaram a ser utilizados por adultos e em seguida como
fonte no campo da educação. Os quadrinhos passaram a ser problematizados
enquanto um produtor de imaginário e representações.
Desde
1980, as discussões no Brasil se faziam presentes sobre a utilização dos
quadrinhos no ensino de história, mas “foram os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs), lançados em 1997, que colocaram as HQs diretamente nas salas
de aula” (LIMA, 2017, p. 149).
Percebe-se
uma ampliação tanto no sentido curricular quanto na inserção de novos
artifícios no ensino de história, ampliação “nas várias formas de organização
curricular, é possível identificar a ampliação do universo de temas, problemas
estudados e de materiais/fontes utilizadas no ensino de História” (FONSECA,
2009, p. 09).
Foi a
partir do ano de 2006 que as obras em quadrinhos passaram a ser incluídas nas
compras. No entanto, ainda houve a crítica de que os quadrinhos continuaram a
ser vistos apenas como ferramentas e uma produção do gênero literário.
Portanto,
deve-se observar que:
“as HQs
aumentam a motivação dos estudantes para o conteúdo das aulas, aguçando a
curiosidade e desafiando seu senso crítico; a interligação do texto com a
imagem, presente nas HQs, amplia a compreensão de conceitos” (Lima, Idem, p. 152).
Observa-se
que:
“a
utilização das HQs no ensino de História tem se afirmado lentamente nas últimas
décadas, em especial em decorrência do movimento historiográfico de ampliação
da noção de fontes e pela abertura do espaço escolar para a utilização de novas
linguagens” (Idem, p 153).
Mesmo que
a escrita impere, não se pode mais negar a importância de outras fontes. Os
Annales colocaram a discussão em torno do documento. De lá para cá, houve uma
grande ampliação de fontes e pesquisas.
Com isso, cresce a complexidade dos documentos, já que mudaram os
limites de vários campos do conhecimento e as relações estabelecidas entre
eles. Surgem novas especializações e profissões, diversificou-se a pesquisa e
ganharam importâncias diferentes tipos documentais.
Com os
Annales, amplia-se o repertório das fontes históricas e altera-se o próprio
conceito de fonte ênfase nos processos sociais e econômicos, assim como aos
aspectos mentais da civilização nas décadas seguintes.
Tem
aumentado à discussão a respeito do uso das HQs no ensino de História no
Brasil, sendo que percebemos essas discussões também em artigos, dissertações e
trabalhos de conclusão de curso. No entanto, Douglas Lima nos mostra que ainda
falta obras de docentes que fizeram a utilização dessas obras em salas de aula.
Sobre o
uso dos quadrinhos em salas de aula, nota-se que os mesmos servem:
“para
ilustrar ou fornecer uma ideia de aspectos da vida social de comunidades do
passado; para serem lidos e estudados como registros da época em que foram
produzidos; para serem utilizados como ponto de partida de discussões de
conceitos importantes para a História” (Idem).
A
utilização de quadrinhos que falam sobre uma realidade local e nacional é
fundamental na compreensão do aluno, como por exemplo, o quadrinho O Cortiço,
que é um dos nossos objetos de estudo, é uma obra em quadrinhos adaptada
de uma literatura de sucesso, nela conseguimos compreender o Brasil República no
final do século XIX.
Portanto,
percebe-se que mesmo que os quadrinhos sejam ficcionais, não impossibilita a utilização dos mesmos pelo
historiador no ensino de História. Nota-se que a rejeição contra esse tipo de
fonte foi superada, sendo que os 10 anos de publicações de quadrinhos pelo PNBE
contribuiu para essa superação. Tem sido discutida a inserção dos quadrinhos na
área de ensino em vários estudos, destacando que as HQs podem ser utilizadas na
compreensão de fatos, representações de uma época e de forma bem mais atrativa
aos alunos, sendo que se pode utilizar a produção textual atrelada à fonte
imagética. Ou seja, a utilização dos quadrinhos se torna crucial no ensino de
história.
Ademais:
“os
quadrinhos promovem a leitura, a interpretação e a imaginação, aspectos
diretamente relacionados às aulas de Linguagens, mas também fundamentais para
as Humanidades e, especificamente, para a História” (Idem)
.
A obra O Cortiço
e seu contexto histórico
‘O Cortiço’ 1890, de Aluísio de Azevedo, escritor literário
naturalista que em sua obra faz toda uma construção social na qual retrata a
vida do personagem João Romão, um português que tem uma elevada ambição, e que
faz de tudo para acumular capital. O enredo da narrativa se baseia nas relações
pessoais a partir do vendeiro, e de sua amante, Bertoleza, uma escrava que se
amiga a João Romão após a morte de seu companheiro. O cortiço, espaço social a
qual se localiza a narrativa literária, e localizada em Botafogo, bairro da
Cidade do Rio de Janeiro, e se expressa como personagem também dentro da trama.
A obra, numa perspectiva literária, traz uma nova forma de
construção literária, do século XIX, onde os heróis agora mudam de forma, não
está mais apossado em uma classe superior, e nem detém mais a condição de
exemplo social, a narrativa agora se vira pra uma nova analogia dos sujeitos e
suas condições sociais. O cortiço é uma obra literária de grande importância,
dentro da conjuntura intelectual brasileira. Se levarmos a para uma exploração
histórica de suas tramas, ‘o cortiço’ nos apresenta uma análise do contexto histórico,
a transição do período Imperial para a República, demonstrando uma enorme
coesão de fatos históricos possíveis de análise.
A transição do fim do período imperial
e a instalação da República são representadas pela configuração condição de
Bertoleza, na qual nos leva a pensar sobre o fim da escravidão e o processo
lento que se decorre ate a percepção dos novos fatos. A condição de escrava que
ainda serve ao seu senhor, caracterizada por Bertoleza, deixa claro essa
relação firmada no final do século XIX, e demonstra como essa sociedade ainda
estava muito ligada a questão escravocrata.
A questão social é o fator mais apresentado na trama de
Aluísio de Azevedo em ‘O Cortiço’, caracterizado pelos personagens da
narrativa. O cortiço como espaço social revela a condição dos sujeitos, e como
esses sujeitos sociais do final do século XIX agem dentro dessa sociedade.
Carvalho 2008, em análise sociológica da obra, faz uma caracterização dos
personagens agrupados em categorias, o branco europeu, na qual se encontra na
condição de desprezo por parte dos nativos, isso se dar principalmente pela
relação desde o período colonial e a condição a qual estava alocada na
sociedade de superior, e as condições econômicas que os mesmos tinham.
João Romão, personagem principal da obra, e uma pessoa
escravizada pelo capitalismo, na qual a acumulação de capital por parte do
personagem lhe condiciona a exploração de si.
A cena inicial do romance de Azevedo antecipa
ao leitor o que seria a motivação da vida de João Romão. Mais do que qualquer
descrição física, a primeira apresentação do protagonista do romance é sua
pulsão mental: sua mania por ser rico, seu “delírio de enriquecer”. No universo
de João Romão, toda ação visa ao crescimento econômico, no qual o dinheiro é o único
objeto de desejo. De fato, acumulação equipara-se a privação, “apertando cada
vez mais as próprias despesas, empilhando privações sobre privações”. (SANTOS,
2012, p. 57).
Santos (2012) analisa
a obra o cortiço partindo de um viés econômico, na qual é representado dentro
da obra, associando as relações pessoais com o fator econômico. Desde o
personagem João Romão e seu fascínio em acumular capital, numa lógica do
sistema capitalista, que também e encontrada nos moradores do cortiço, na qual
muitos vivem do trabalho exploratório na mina, ou prestam serviços em outras
localidades. A questão das lavadeiras de roupa, e a condição que Leocádia se
presta na busca de ser ama de leite, vista que se estavam pagando bem, isso
representaria uma melhoria na sua condição social.
Conclusão
Nossa proposta aqui foi discutir sobre a literatura, partindo dos relatos
presentes de representação nos discursos das narrativas de obras literárias, na
qual tem uma série de representações dos contextos ao qual foi produzida. Entender
essas relações é de fundamental importância, os historiadores ou mesmos
intelectuais do campo das ciências humanas, depois das formulações das fontes
históricas feita pelos Annales no século XX, tem se debruçado em analisar essas
obras, percebendo sua importância dentro da construção do conhecimento.
Essa importância vai ser atendida no ensino também, as possibilidades de
uso de linguagens em sala de aula, partindo da interdisciplinaridade escolar, a
literatura entra como uma ferramenta importante no uso escolar. No ensino de
história, essas linguagens tem um papel importante, vista que os clássicos
literários estão cheios de representações, no qual a literatura clássica
textual brasileira é uma fonte primordial no que se trata dos conteúdos sobre a
história do Brasil. Esse foi o caso da utilização da obra de Aluísio de Azevedo
‘O Cortiço’, obra de 1890, que retrata a sociedade do final do século XIX, com
uma riqueza de elementos históricos, na qual fazemos um parâmetro com o
Gibi/HQs de “O Cortiço”, na qual formula em uma nova linguagem, que possibilita
uma maior atratividade por parte dos alunos em sala de aula, levando em conta
os tipos de linguagem e sua aceitação por parte dos alunos.
REFERÊNCIAS
Fernando Nogueira Resende é graduando em curso de Licenciatura em
História na UNIFESSPA – Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – em
Xinguara – Pará.
Jonathan Evangelista de Araújo é graduando em curso de Licenciatura em
História na UNIFESSPA – Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – em
Xinguara – Pará.
Esse artigo é resultado de trabalho de trabalho final apresentado na
disciplina Prática Curricular Continuada V – Estratégias de Ensino de História
no ensino fundamental. E foi orientado por Rafael Rogério Nascimento dos
Santos, professor do curso de Prática Curricular Continuada V – Estratégias de
Ensino de História no ensino fundamental.
FONSECA,
Selva Guimarães. A história na educação
básica: conteúdos, abordagens e metodologias. Anais do I seminário
nacional: currículo em movimento. Perspectivas Atuais. Belo Horizonte,
novembro, 2009.
LIMA,
Douglas. História em quadrinhos e ensino de História. Revista História Hoje, v.6, nº 11, p. 147-171, 2017.
PESAVENTO, Sandra
Jatahy. « História & literatura: uma velha-nova história », Nuevo
Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 28 janvier 2006,
consulté le 21 mai 2017. URL: http://nuevomundo.revues.org/1560
SANTOS, Vivaldo
Andrade dos. Uma leitura econômica de O Cortiço. Revista Ieb, n54, 2012, set./mar. p.53-66.
Meus caros, boa noite.
ResponderExcluirPrimeiramente gostaria de parabenizá-los pelo estudo tão caro à nossa intenção atual de promover mudanças significativas em relação ao ensino de história que, por vezes, ainda se encontra em seu passado positivista em diversas salas de aula pelo país.
Em segundo lugar, tenho algumas considerações e perguntas a fazer.
Sei que o espaço aqui é pequeno e não dá para abordar todos os aspectos em um texto, por isso a discussão é tão importante.
Vocês trazem à tona uma obra em quadrinhos que reconta "O cortiço", mas não fazem referência a respeito ao autor e editora. Poderiam me passar estas informações? Pergunto, pois o trabalho de vocês é árduo, afinal trabalham com diversos tempos e espaços, isto é, a visão de Aluísio Azevedo acerca dos cortiços cariocas, com a visão do autor dos quadrinhos acerca de Aluísio Azevedo e com a visão do autor dos quadrinhos acerca dos problemas sociais e sanitários do Rio de Janeiro do final do século XIX. Tudo isso vai influenciar na HQ, afinal, como aponta Certeau, devemos estar atentos ao lugar social e ao não-dito dos autores. Como vocês trabalham essa confluência de visões? Seria possível trabalhar estes aspectos em sala de aula?
Será que há alguma intenção do autor da HQ em resgatar “O cortiço” além de, obviamente, ser um clássico da literatura? Será que a representação do negro no romance se altera em relação aos quadrinhos?
Enfim, são muitas questões que me veem à mente no momento. Talvez nem todas possam ser respondidas aqui, mas fica a intenção reflexiva e minha singela tentativa de contribuir com o estudo de vocês.
Parabéns mais uma vez.
Heraldo Márcio Galvão Júnior
Olá professor Heraldo, sobre sua primeira pergunta, o livro em quadrinhos foi publicado pela Editora Escala Educacional em 2007, volume I, e foi uma adaptação feita por Ronaldo Antonelli e Francisco Vilachã do romance original, voltada para o público infanto juvenil. Para a segunda pergunta, creio que os autores do quadrinho tentaram reproduzir de uma forma mais didática em em forma de imagens que desperta maior interesse, e é aquilo que se chama de aprender também pelo ver, mas existem algumas críticas sobre esse volume I em relação as ilustrações, pois as mesmas parecem muito monótonas, além disso, já foi lançada a 2ª edição, que podemos analisar em trabalhos futuros. Acredito professor que usando o HQ, eu e meu colega Fernando que, no momento estamos realizando um trabalho docente no Ensino Médio e passamos pelo Estágio I, podemos a partir da experiência adquirida, analisar além da narrativa feita pelo autor do romance original e o produtor do quadrinho, as imagens para abordar as questões que o senhor citou antes da pergunta, e diversos outros objetos de estudo, principalmente sobre as diversas culturas presentes nesse período para explicar as mudanças e permanências, e isso é uma atividade que os alunos adoram, a relação do passado com exemplos do cotidiano deles. Sobre a representação do negro nos dois livros (o original e o quadrinho) tem muito em comum, pois o preconceito contra o negro está presente em ambos, a questão da inferioridade do negro, a mulher negra como objeto um objeto, entre outros.
ExcluirEspero ter respondido parcialmente suas perguntas professor, e agradeço pela participação.
Jonathan Evangelista de Araujo
Caros Fernando Resende e Jonathan Araújo:
ResponderExcluirEm primeiro lugar parabenizo-os pela iniciativa do trabalho com a Literatura nas aulas de História.
Entretanto, no caso do texto de vocês, como bem colocou o professor Heraldo Galvão, acima, é necessário não perder de vista os autores da obra, situá-los no contexto de suas produções, suas visões de mundo etc.
Nesse sentido, meus questionamentos vão um pouco nessa direção: No desenvolvimento da atividade com os alunos vocês situam esses autores/produtores e problematizam isso junto com eles? Literatura é sobretudo texto, enquanto nas HQs, além do texto você tem o apelo da imagem,ou seja,são linguagens que solicitam metodologias diferentes de trabalho. Nesse sentido, pergunto:
por que a escolha pela adoção de "O cortiço" em HQ, vocês acreditam que as especificidades desse formato facilita a compreensão dos estudantes? Discutem com eles as especificidades da linguagem das HQs?
No mais, reitero meus parabéns.
Maria Sandra da Gama.
Olá Maria Sandra, sobre sua primeira pergunta, acredito na importância de situar os alunos sobre os produtores de ambos os trabalhos e mostrar para eles algumas questões que justificam a intenção dos autores ao escrever, e para quem estão escrevendo, qual o público alvo, e o que os pode ter motivado a escrever as obras, e respondendo a segunda pergunta, as imagens com certeza atribui um valor maior a narrativa, pelo fato de ser diferente, além disso como afirmei para o professor Heraldo, as imagens podem mostrar o não dito que foi colocado por ele, só o fato ( que não é o único) dos alunos saberem captar os vários aspectos dessas imagens representativas desperta maior interesse deles pela leitura e pela produção de conhecimento crítico. Agradeço pela participação e espero ter respondido suas questões.
ExcluirJonathan Evangelista de Araujo
Fernando e Jonathan!
ResponderExcluirPrimeiramente, parabenizo aos dois pela escolha do tema, eu, particularmente sou fã de literatura, quadrinhos e história. Tendo os três junto, melhor ainda!
Dentre o "Literatura brasileira em quadrinhos", você sabem de mais algum tipo de literatura brasileira neste formato quadrinistico? E vocês, em suas experiencias, chegaram a aplicar isso em sala de aula? Se sim, quais foram os resultados.
Parabéns, mais uma vez!
Marília Guaragni de Almeida- Mestranda em História pela Universidade de Passo Fundo
Olá Marília, respondendo sua primeira perguntam,, afirmo que existem diversas obras da Editora Escala Educacional em quadrinhos disponíveis, e vou citar algumas aqui.
Excluir"O alienista" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas" de Machado de Assis, "A moreninha" de Joaquim Manuel de Macedo, "O músico extraordinário" de Lima Barreto, entre outros.Sobre a segunda pergunta, afirmo que não utilizamos a proposta, mas usamos as imagens contidas nos livros didáticos para explicar como a narrativa do livro está sendo expressada na imagem, e isso despertou um interesse enorme nos alunos de Ensino Médio em substituição de uma professora que estava de licença, mas o tempo (horário de aula) não nos ajudou na verdade, para que pudéssemos fazer um trabalho melhor, e tendo em vista que estamos no 6° período do curso de Licenciatura em História, não aplicamos ainda um projeto de intervenção, mas tendo a oportunidade de aplicar esse trabalho, nós aplicaremos sim. Obrigado por participar!
Jonathan Evangelista de Araujo
Prezados Fernando e Jonathan,
ResponderExcluircumprimento-os pela proposta de trabalho. Sou da área da literatura e sempre considerei os professores de História dentre os principais aliados para a promoção da leitura. Referente ao texto de vocês, quero destacar a seguinte frase: "Não existe literatura fora da história, portanto nota-se que é preciso articular o passado a partir do presente". Nela, está o princípio da abordagem que defendemos em relação ao texto literário: partir da recepção presente, dos sentidos que o texto apresenta ao aluno, do confronto entre suas convicções e as das personagens. Depois, passa-se à contextualização histórica, a fim de que a reflexão sobre o passado ilumine a situação presente dos alunos. Nesse sentido, para um trabalho frutuoso, penso ser conveniente uma aliança interdisciplinar com a área de Linguagens, afinal, não é da responsabilidade de historiadores abordarem a constituição artística do texto em si. Dessa forma, gostaria de saber se esse trabalho foi aplicado em sala de aula, se foi possível a interdisciplinaridade e quais foram os resultados. Se não foi aplicado, há previsão de ser?
Parabéns pela proposta e pela pesquisa consistente a respeito das HQs.
Grata,
Tatiane Kaspari.
Olá Tatiane! Quero desde já gradecer pela sugestão, e quero informar que não aplicamos ainda em sala de aula pelos motivos supracitados aos colegas que perguntaram anteriormente, mas vamos aplicar sim em projetos de intervenção o regência em sala de aula até o termino do curso, além de levar isso para o período profissional após a graduação, pois há uma miríade possibilidades para um professor de história trabalhar as novas linguagens que se ampliaram ao longo do século XX e continuam até hoje se desenvolvendo, e em proposta para próximos trabalhos, que também envolve imagem, penso em usar memes como recurso, o que será de fato interessante, mas está em mente ainda.
ResponderExcluirJonathan Evangelista de Araujo
Oi Jonathan!
ExcluirJá que vocês não aplicaram, de que maneira pretendem fazê-lo? Aplicarão em uma escola particular onde os alunos poderão comprar o livro, vcs tem o livro em pdf ou pensaram em alguma outra maneira?
Monaquelly Carmo de Jesus